Uma no Coronavírus e outra na ferradura?

Ciência é a palavra da moda, a esperança da humanidade contra a pandemia, correto? Mas o que é ciência? Se ela é inconteste, como solidificou-se o argumento no último ano, por que há a pueril necessidade de afirmação? Gritar mais alto? Mais uma vez, faz-se necessário o resgate da antiga sabedoria grega. Três mil anos depois, Aristóteles ainda é, angustiantemente, esquecido e ignorado por construtores de opinião pública contemporâneos.

Não me atrevo aqui, amigo leitor, a enveredar-me na discussão biomédica da pandemia que nos assola. Pretendo, apenas, propor um exercício analítico, filosófico, de falsas e oportunistas premissas apregoadas por especialistas de redações televisivas, youtubers e políticos oportunistas. Sócrates (o gênio filosófico, não o futebolístico) adotou como o alicerce na busca da verdade objetiva o questionamento de conceitos, fenômenos e ideias. A verdade socrática só seria alcançada pela plena compreensão, grosso modo, do objeto de estudo, a qual só pode ser atingida pela dúvida, pelo questionamento profundo. Por que a água atinge o estado gasoso quando aquecida? Ou solidifica-se quando resfriada? A dúvida é causa motriz do progresso, do estudo, da criatividade, da explicação. É o início.

Grosso modo, como uma aulinha, ciência nada mais é que método analítico com o objetivo último de produzir uma explicação. O método não só do objeto de estudo, mas também das condições nas quais está inserido. Condições normais de temperatura e pressão (CNTP) nas exatas, por exemplo. Uma onça parda, em outro exemplo, comporta-se de uma forma quando faminta e em seu habitat natural. Saciada e em cativeiro, observa-se outro comportamento. Para não ter que desenhar, sabe-se que a mistura, em proporções iguais, entre tinta guache preta e branca resultará na cor cinza. Repete-se o método, sob as mesmas condições, e obtêm-se um padrão, o resultado do estudo, aí sim, científico. Aristóteles, sinteticamente, fundamentou categorias padronizadas para a sua filosofia -etimologicamente, é o resultado das palavras gregas philos e sophia, amor e conhecimento respectivamente. Capisce?

No 2020 pandêmico que não terminou, obviamente, as dúvidas sobrepujam as poucas certezas. Produzir uma vacina em menos de três anos não é um risco preocupante em termos de efeitos colaterais em médio/longo prazo? Como um estudo de quatro meses garante que a vacina (não se trata de sua eficácia) não é cancerígena ou catalisadora de outros problemas de saúde? São perguntas válidas. Se 5% dos vacinados desenvolverem tumores pulmonares: faça as contas. Por qual motivo lockdown, que já se mostrou ineficaz, é medida preventiva de algo que não se conhece objetivamentea transmissão? Claro, é um vírus, mas aglomerações bancárias e metroviárias não são situações de alto risco de contágio? São conjecturas e indagações que não são só necessárias, mas também deveriam ser naturais.

O espanto surge quando, sem qualquer discussão pública, a chancela de um estudo científico -principalmente de se acompanhado de um nome estrangeiro sofisticado, como Kelssenn-Scharwtz Institute, nome criado neste exato momento- dá credibilidade irrevogável ao argumentador. Métodos, amostras e análises são irrelevantes. Um erro básico e comum, por exemplo, é criar correlações que não possuem, necessariamente, causalidade concreta. Para tornar didática a reflexão, o número de mortos anualmente no Brasil cresceu desde que a televisão passou a ser colorida. Há causalidade nessa relação? Entretanto, um gráfico e um título como “estudos recentes da Kelssenn-Scharwtz Institute” já mudam completamente a credibilidade do leitor/ouvinte/telespectador perante o conteúdo transmitido.

Enquanto milhões de brasileiros são, subitamente, confinados, demitidos e desumanizados, o problema tornou-se buscar respostas, pensar e questionar. Não se trata de negar a pandemia, reitero. Pelo contrário, o debate pressupõe, obviamente, sua inequívoca existência. É também evitar que a histeria sobreponha a razão, o que não implica em relevar as dores das famílias que tiveram vidas ceifadas pelo vírus.

Todavia, bovinamente, o mundo esqueceu-se mais uma vez dos livros de História. O fator humano, a prática científica, o incômodo da dúvida, são responsáveis, por exemplo, por inovações revolucionárias, mas que tratamos como banais, como a penicilina, a geladeira ou a eletricidade. Não obstante, calamidades e atrocidades também, e o Coronavírus aparenta ser uma delas.
https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/pompeo-laboratorios-china-coronavirus/
Pensar tornou-se exercício de desocupados. Há cada vez mais no país. Nem todos assistem o jornal do horário nobre. E dá-lhe Rivotril. Cloroquina ou Sputinik? Cazzo!

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