“O número de mortes daqui pra frente tem nome e cargo. As pessoas que estão morrendo agora, com esta intensidade, são culpa do secretário municipal de saúde, do prefeito e destas decisões esdrúxulas. Não precisava morrer tanta gente assim”. Assim o professor Domingos Alves, ligado à USP (Universidade de São Paulo), classifica a situação da pandemia em Ribeirão Preto. O especialista, que previu com exatidão a explosão de mortes, a falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade até os 5 mil casos de covid no município, afirmou ainda que a falta de posicionamento da prefeitura em decretar um lockdown imediato irá custar “muitas mortes desnecessárias” à cidade.
Ribeirão Preto ultrapassou a marca de 5 mil casos do novo coronavírus e já contabiliza 156 óbitos. Apenas em junho, o crescimento no número de confirmações chegou a 311%, indo de 1.217 casos no início do mês para 5.001 registrados ontem (30). Ou seja, foram 3.841 novos casos apenas neste último mês. Em relação às mortes, junho começou com 27 perdas e terminou com 156, um crescimento de 524%, já que em apenas um mês, foram 131 mortes.
Com o avanço da pandemia e a taxa de ocupação dos leitos de enfermaria e UTI destinados às pessoas com a Covid-19 crescendo diariamente, especialistas da área médica já falam da necessidade urgente de lockdown
“O lockdown deveria ter sido adotado há duas semanas atrás porque já estamos colhendo as consequências de ter sido aberto aqui”, afirma Domingos Alves, professor e pesquisador. Ele faz uma referência à flexibilização da quarentena que aconteceu em Ribeirão quando a cidade estava na fase amarela e então, o comércio esteve aberto de 01 a 15 de junho.
Domingos Alves é professor e atua no Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. Preocupado, ele tem se dedicado a estudar o avanço da pandemia na cidade e alertou para o risco da situação sair do controle. Também se posicionou sobre o fato de que o Conselho Municipal da Saúde e médicos do Comitê Técnico já aconselharam o lockdown, mas o prefeito Duarte Nogueira não se decidiu. “Desesperador. Eu como cidadão, fora ser pesquisador, eu fico indignado com esta coisa que tem que ser uma decisão política. Um grupo de médico diz que tem que fazer lockdown, o prefeito que aceite. Ou vai ter que por juiz na parada?”, questiona Domingos. Ele ainda se coloca à disposição para ajudar com dados técnicos na decisão caso caiba ao judiciário a decisão. “Se o juiz ou promotor precisar, eu municio ele com todos os documentos para mostrar que o número de óbitos em Ribeirão vai ser indecente e isto não é daqui há duas semana, é semana que vem”, completa.
“Como a gente pode ficar na mão de decisão política, de pessoas que não são técnicas, que não são da área médica, em uma situação grave de saúde pública?” , diz Domingos
Outra preocupação do pesquisador é em relação à superlotação nos leitos e casos de doentes que morrem em casa. “O número de leitos até o fim de semana vai lotar, vai chegar a 100% e vai começar a morrer gente dentro de casa. Nós vamos observar gente morrendo dentro de casa. E de quem vai ser a culpa por estas pessoas morrendo dentro de casa?”, questiona Domingos.
Dentre as 156 mortes registradas em Ribeirão, já tiveram casos de óbitos domiciliares. O último foi de uma mulher, de 68 anos, no dia 26 de junho.
Evolução da pandemia em Ribeirão
Segundo o boletim divulgado na tarde de ontem (30), a cidade tem 5001 casos de Covid-19 e 156 mortes.
Acompanhe nos gráficos, os números da doença em Ribeirão e a taxa de ocupação dos leitos.