No próximo domingo (15) e na segunda-feira (16), 30.381 candidatos aprovados na primeira fase da Fuvest farão as provas da segunda fase para disputar uma das 8.147 vagas oferecidas na USP (Universidade de São Paulo), a melhor da América Latina, segundo o rankings QS (Quacquarelli Symonds), da revista britânica THE (Times Higher Education), e líder do RUF (Ranking Universitário Folha).
No primeiro dia, além das dez questões de português, sobre interpretação de texto, gramática e literatura, o candidato também terá de fazer a redação, que é de suma importância para todas as áreas escolhidas. Tirar zero na redação é eliminação certa.
A prova é uma dissertação argumentativa (o estudante expõe uma visão e a sustenta por meio de argumentos), como pedida no Enem, na Unesp e na Unicamp. Porém, possui particularidades que a diferenciam das demais.
Por isso, a Folha de S.Paulo ouviu professores de redação para darem dicas para o aluno tirar a nota máxima e se destacar entre os concorrentes. Afinal, a pontuação atribuída à produção escrita (50 pontos como nota máxima) equivale à metade do valor do primeiro dia da segunda fase, ou seja, corresponde a 25% de toda a segunda fase e é determinante para o desejado sucesso no exame.
Redação tem prioridade
Um ponto comum citado por todos os especialistas é que a redação deve ter prioridade do candidato no primeiro dia de provas. Mais descansado, ele poderá identificar mais facilmente o tema e se lembrar dos argumentos necessários para defender a tese proposta.
Eles sugerem os seguintes passos:
1) Identificar o tema, que fica, geralmente, após os textos da coletânea.
2) Fazer a leitura direcionada dos textos da coletânea. Com o tema identificado, o candidato deve voltar e grifar as partes mais importantes dos textos.
3) Listar no rascunho as fontes de conhecimento armazenadas na memória. É importante fazer notas de lembranças filosóficas, de sociologia, história antiga e contemporânea, geografia geopolítica, reportagens, documentários, música, cinema, antropologia etc. Tudo o que tiver relação com o tema proposto.
4) Escrever o seu texto, apresentando o tema logo no primeiro parágrafo e deixando pelo menos implícita a resposta à pergunta feita pela banca. Na sequência, apresentará seus argumentos em dois parágrafos e, na conclusão, é preciso retomar o tema com a resposta, mas desta vez explicitamente.
5) Título obrigatório. Outro ponto que distingue a redação da Fuvest da do Enem é a obrigatoriedade de título. No texto do exame nacional é facultativo.
Com o rascunho do texto pronto, o candidato deve fazer a prova de português. Esse período de cerca de duas horas sem pensar na redação fará com que o candidato volte depois com um olhar mais crítico, para identificar possíveis falhas ou ajustes antes de escrever o texto definitivo, a caneta, na folha da redação.
“A gente tem na Fuvest um tipo de texto em que não se pode ficar em cima do muro. Precisa pular para um lado do muro e justificar essa escolha. Essa é a perspectiva da Fuvest quando solicita uma dissertação argumentativa”, afirma Sérgio Paganim, professor de redação do Curso Anglo.
Perfil temático
A Fuvest costuma ampliar o alcance de suas discussões, sugerindo para a redação temas de cunho filosófico, sociológico e antropológico, como consumismo, decolonialidade, transumanismo, entre outros.
A coletânea disponibilizada normalmente é feita de textos que podem ser literários, artísticos, poemas, tirinhas e até imagens, além de textos acadêmicos, resultados de pesquisas da universidade, ou de grandes figuras, autoridades, no respectivo assunto. Segundo Paganim, do Anglo, a Fuvest é um exame mutante, que não tem uma identidade fixa, única, como o Enem.
Os últimos temas da redação da Fuvest foram:
2019: “De que maneira o passado contribui para a compreensão do presente?”
2020: “O papel da ciência no mundo contemporâneo”
2021: “O mundo contemporâneo está fora da ordem?”
2022: “As diferentes faces do riso”
2023: “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”
2024: “Educação básica e formação profissional, entre a multitarefa e a reflexão”
“O tipo de tema e como ele é apresentado, na Fuvest, é um leque muito mais colorido, muito mais pluralista de temas, de formatos de propor a discussão, não é um modelo único fixo de propor o tema como é o Enem. Ou seja, o estudante precisa dar mostras de que ele é capaz de vencer diferentes tipos de desafios, temáticos e de formas de se apresentar esse tema”, diz Paganim.
“Essas variações demandam que o candidato esteja preparado para refletir tanto sobre questões abstratas quanto sobre problemáticas contemporâneas, sem a necessidade de oferecer uma solução prática, como ocorre no Enem”, completa Danielle Capriolli, professora e coordenadora de língua portuguesa do ensino médio da Escola Bilíngue Pueri Domus.
Repertório e autoria
A banca privilegia repertório e autoria.
Repertório: é a busca do conhecimento extraescolar. A banca gosta de citações de filosofia, sociologia, sobre obras de arte, literatura e música. O importante é o candidato explorar ao máximo seu repertório cultural.
Autoria: é a originalidade, a pessoa pensar por ela mesma e mostrar que não está seguindo modelos prontos. No Enem é possível tirar boas notas com modelos prontos. Na Fuvest, não.
A redação da Fuvest é uma dissertação argumentativa que segue os padrões estruturais, mas que destaca os candidatos que entendem melhor as discussões propostas pela coletânea, conseguindo produzir um texto aprofundado, com uma análise social crítica, uso de linguagem precisa (e não necessariamente rebuscada), com escolhas que contribuem para os argumentos.
Conclusão
Na conclusão da redação da Fuvest não é preciso apresentar uma proposta para lidar com o problema, uma solução nem é recomendável, de acordo com o edital. Isso faz com que a conclusão seja mais curta e seja apenas uma síntese das ideias apresentadas no texto.
Na conclusão, o candidato precisa evitar repetir o início do texto. Ele tem de ir além do que já escreveu.
“Preparar-se para a Fuvest, portanto, exige um treino específico que desenvolva a capacidade de analisar criticamente os temas propostos e argumentar sobre temas abstratos com clareza. Dicas importantes para isso envolvem uma leitura muito atenta da frase temática e da coletânea, buscando com isso responder a questões como: por que isso (o tema) acontece? Desde quando? Quais as consequências disso? Há quem se beneficie ou prejudique por isso? Como?”, diz Vanessa Botasso, coordenadora de redação do Poliedro Curso Campinas.
Critérios para a correção
André de Freitas Barbosa, professor de redação do colégio Oficina do Estudante, destaca a importância de o aluno conhecer os critérios de correção do texto, para evitar perder pontos importantes. Ele explica os critérios:
1º critério (20 pontos): Desenvolvimento do tema e organização do texto dissertativo-argumentativo “Os corretores verificam, por parte do candidato, a compreensão do tema e o respeito à estrutura formal do gênero textual.”
2º critério (15 pontos): Coerência dos argumentos e articulação das partes do texto “Considera a fluidez da escrita, a pertinência lógica na progressão das ideias e o emprego adequado de elementos conectivos, que servem à ligação entre frases e parágrafos.”
3º critério (15 pontos): Correção gramatical e adequação vocabular “Observa o respeito à norma culta da língua e a seleção vocabular adequada às circunstâncias do gênero e do tema explorado.”
Comparção entre textos
Segundo os professores, a principal diferença entre as redações do Enem e da Fuvest é que a primeira cobra a solução para um problema social, enquanto a segunda quer avaliar a capacidade de argumentação do candidato.
No Enem: o tema é sempre uma problemática da realidade brasileira, com uma coletânea de textos-base do universo jornalístico, como notícias e infográficos, que dão suporte para o leitor entender as causas e consequências do problema apresentado. Então, o candidato tem que discorrer sobre o problema, entendendo suas causas e/ou consequências, para propor uma solução no final, detalhada e alinhada aos direitos humanos.
Na Fuvest: essa coletânea leva a uma grande reflexão sobre o mundo contemporâneo e, normalmente, é feita de textos que são de outros universos, podendo ser literários, artísticos, poemas, tirinhas e até imagens, além de textos acadêmicos e resultados de pesquisas da universidade.
Na Unicamp: tem uma outra proposta de redação, segundo Paganim: “Ela não solicita dissertação há mais de uma década, ela solicita a elaboração de gêneros textuais muito diversificados, cada ano um gênero, e em situações de comunicação muito concretas. Por exemplo, no Exame 2025, o candidato precisava se colocar na posição de um diretor de escola pública, que nota que os alunos do ensino fundamental estão usando o celular para gastar dinheiro em jogo de azar. Então, o gênero pedido é um comunicado aos responsáveis, expressando as preocupações como instituição de educação”.
A Fuvest exige habilidades de leitura um pouco mais elaboradas do candidato, no sentido da seleção das informações, da inferência e da interpretação.
Para evitar a nota zero
– Nunca copiar os trechos de apoio. Não significa coletar uma informação ou ideia, mas copiar mesmo. A banca não admite isso e baixa bastante a nota;
– Não fugir do tema ou do gênero proposto (dissertação argumentativa);
– Não abordar algum ponto polêmico fora da curva de discussão;
– Não apresentar contraposições de ideias;
– Obedecer ao número mínimo de 20 linhas;
– Não deixar a folha em branco;
– Não adicionar elementos verbais ou visuais sem quaisquer relações com o que foi proposto pela banca examinadora.
Fontes: André de Freitas Barbosa, professor de redação do colégio Oficina do Estudante; Sérgio Paganim, professor de redação do Curso Anglo; Vanessa Botasso, coordenadora de redação do Poliedro Curso Campinas; e Danielle Capriolli, professora e coordenadora de línguaportuguesa do ensino médio da Escola Bilíngue Pueri Domus
CLAUDINEI QUEIROZ / Folhapress