O cientista brasileiro, Carlos Nobre, foi anunciado como novo integrante dos Guardiões Planetários (Planetary Guardians), grupo de empresários, políticos, pesquisadores e ativistas mundiais que criam soluções para preservação do planeta Terra.
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O climatologista é o primeiro brasileiro a fazer parte do grupo. Em entrevista ao portal THMais Vale, Carlos Nobre contou que se sentiu muito honrado quando recebeu o convite para se tornar um Guardião Planetário.
“Eu me senti muito honrado, porque é um grupo ainda pequeno que não passa de 15 pessoas. E eu fui o primeiro cientista brasileiro [a fazer parte do grupo]. Então isso mostra que tudo o que venho estudando há muitas décadas do risco para a Amazônia, se torna muito importante”, disse o guardião planetário.
Para Nobre, ser um Guardião Planetário representa o reconhecimento da importância da Amazônia, tema de suas pesquisas há mais de 40 anos. O cientista contou que o convite se deve ao fato de haver uma preocupação mundial com a preservação da floresta amazônica, que está próxima do ponto de ‘não retorno’.
“Um dos pontos que hoje é muito preocupante, é o risco da floresta amazônica passar do ponto de não retorno e se auto degradar totalmente, perdendo no mínimo 50% e chegando até 70% de perda da Amazônia. E isso, vai ter um enorme risco nas fronteiras planetárias, que são os riscos das mudanças climáticas, da água, para a biodiversidade, toxidade, saúde… Se perdemos a Amazônia, a maior biodiversidade do planeta, vai ser um enorme risco para a estabilidade climática”, explicou o cientista.
Emergências Climáticas
De acordo com Carlos Nobre, as emergências climáticas estão ficando cada vez mais frequentes. Os eventos extremos devem continuar acontecendo por muitas décadas, e apenas no final deste século, pode haver uma melhora.
“O risco climático ficou tão urgente em 2023 e 2024, que batemos todos os recordes de temperatura do planeta. A temperatura chegou a ficar 1,5ºC mais quente. Temos que implementar metas de redução dos riscos das mudanças climáticas devido o aquecimento global e zerar as emissões dos gases do efeito estufa”, disse Nobre.
Para o climatologista, além de soluções efetivas para diminuir as temperaturas do planeta e reduzir a emissão de gases, é necessário preparar as populações para eventos extremos do clima. Carlos Nobre relembrou a tragédia em São Sebastião, em fevereiro de 2023, que deixou 64 pessoas mortas após chuva história que devastou a cidade no Litoral Norte.
“As populações que viviam naquelas encostas, elas foram alertadas? Praticamente não. Elas foram educadas para saírem das áreas de risco e irem para lugares seguros, normalmente com horas de antecedência do desastre? Não. São Sebastião tinha naquela época sistema de sirenes? Não. Depois, o governador colocou sirenes, mas não tinha”, relembrou.
Carlos Nobre enfatizou a importância do trabalho da Defesa Civil e da criação de sistemas educacionais que orientem a população como como agir diante de emergências climáticas. O cientista usou o exemplo do Rio Grande do Sul:
“Isso mostra a importância de educar a população. Apesar do CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e a Defesa Civil darem todos os alertas sobre as enchentes com dias de antecedência, a população não estava devidamente educada, muitas pessoas resistiram em deixar suas casas. É fundamental aqui no Brasil, obrigar que o sistema educacional capacite alunos e professores sobre como agir em situações de riscos climáticos”, explicou.
Para o cientista, além da educação, deve haver um sistema muito protegido. Em situações de extremo de chuva, inundações e deslizamentos, os governos devem fazer investimentos na criação de locais seguros para que as populações possam se proteger dos riscos.
Guardiões Planetários
Os Guardiões Planetários se reuniram por dois dias, no último fim de semana, para discutirem sobre como podem influenciar e colaborar com as reuniões do G20, liderado pelo Brasil até novembro de 2024, e principalmente da COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), que será realizada em Belém (PA), em 2025.
A Planetary Guardians é uma empresa social sem fins lucrativos. São arrecadados fundos para projetos de reflorestamento e florestas alimentares em colaboração com amigos e parceiros locais, nacionais e internacionais. A missão é construir uma aliança global de reflorestamento e usar força em números para cuidar da natureza e das pessoas.
Como Guardiões Planetários, o grupo cuida do planeta Terra. Protegem as espécies e criam mais espaço para a natureza selvagem na terra e nos oceanos.
Carlos Nobre
Nobre é engenheiro eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos. Desde o início de sua carreira no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 1982, ele está à frente dos estudos sobre a Amazônia.
O cientista ambiental formulou a hipótese de “savanização” da Amazônia, devido a seu desmatamento. Na USP (Universidade de São Paulo), o pesquisador desenvolve o projeto Amazônia 4.0, que busca a construção de fábricas portáteis e altamente tecnológicas para aprimorar as cadeias produtivas na região de forma sustentável, tanto para a floresta, quanto para as comunidades locais.