Cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com síndrome de Burnout, de acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt). Atualmente, o Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados no mundo, atrás apenas do Japão. O médico Luís Guilherme Labinas explicou sobre a doença ocupacional relacionada ao trabalho em entrevista ao portal THMais Vale.
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De acordo com o psiquiatra, o motivo do Brasil ocupar o 2º lugar no ranking, na frente de países como Estados Unidos no diagnóstico da doença, é o medo de situações de desemprego. Com o mercado mais competitivo e alto número de demissões no país, os profissionais se sentem mais cobrados, o que torna esse cenário ideal para o aparecimento da síndrome, que já atinge mais de 100 milhões de trabalhadores.
“É muito comum em situações de desemprego, em que a pessoa tem medo do desemprego, com isso, a pessoa se mantém em um trabalho de ambiente opressor, de muita cobrança e pouco feedback. Hoje, o brasileiro acaba trabalhando muito e a empresa não dá o retorno necessário, a pessoa se esgota, muita cobrança, muita pressão por rendimento e resultados. A pessoa se mantém no trabalho por medo de não render e acabar perdendo esse emprego”, explicou o médico.
A taxa de desemprego fechou o ano de 2023 em 7,8%, ou seja, o número de pessoas desocupadas no país chegou a 8,3 milhões. Com tantas pessoas desempregadas, o medo de não conseguir um novo trabalho aumenta nas pessoas, e com isso, elas acabam permanecendo em ambientes tóxicos.
Outro fator de risco para o Burnout é a dupla jornada de emprego, de acordo com o especialista. Médicos e enfermeiros são uma das classes mais vulneráveis para esse tipo de doença.
O Burnout
De acordo com o Dr. Guilherme Labinas, a doença é um síndrome de esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho que possui três tripés: 1) esgotamento; 2) desinteresse pela atividade do trabalho e 3) baixa produtividade.
A auto cobrança excessiva, perfeccionismo e rigidez comportamental, podem ser fatores agravantes para o Burnout. Pessoas com esses perfis, quando não conseguem atingir as metas estabelecidas, podem ficar mais ansiosas e até mesmo depressivas.
Para o médico, as empresas também tem um papel importante para evitar que os trabalhadores tenham Burnout. “Primeiro lugar é preciso observar o funcionário. Segundo, o feedback é muito importante. Todo mundo precisa de reconhecimento no trabalho, não é simplesmente dar dinheiro, é reconhecer o valor dela e o pertencimento do funcionário na empresa. Ter um papel de acolhimento e tentar integrar a equipe também é importante, pois desentendimento e competição no ambiente de trabalho pode gerar Burnout, de acordo com estudos”, explicou Guilherme.
O Burnout foi considerado uma doença ocupacional recentemente, em 2022, reconhecido e classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O preconceito com a síndrome ainda é grande, mas com a classificação da doença como fenômeno ocupacional, ou seja, relacionado o trabalho, o diagnóstico e o tratamento foram facilitados.
Sintomas da doença
A síndrome de Burnout envolve uma ideia de esgotamento mental do trabalhador, condição na qual o profissional tem dificuldade em realizar suas tarefas e chega muito próximo a um estado de depressão. Alguns dos sintomas são:
- Esgotamento;
- Cansaço;
- Desmotivação;
- Estresse;
- Falta de energia;
- Queda da produtividade;
- Distanciamento do trabalho;
- Desconcentração.
Diagnóstico e tratamento
Ao identificar os sintomas, a pessoa deve ir ao médico psiquiatra ou médico do trabalho. Esses são os profissionais que podem diagnosticar as pessoas com síndrome de Burnout.
Em relação ao tratamento, o médico Guilherme Labinas enfatiza: “férias não serve, fim de semana não serve, fazer isso não é terapia”.
Segundo o médico, o real tratamento para a síndrome é fazer terapia com psicólogos, caso necessário, o tratamento medicamentoso também pode ser incluído. Já o afastamento total do trabalho, só acontece dependendo da gravidade da doença.
Além disso, atividades de lazer são importantes para o tratamento, como ter vínculos sociais, sair e estar com outras pessoas. Os exercícios físicos também colaboram com o tratamento da doença ocupacional, pois liberam neurotransmissores que geram relaxamento, prazer e fazem com que o nível de estresse e ansiedade diminuam.
“Quanto mais você se distancia daquela sensação constante do trabalho, melhor é”, finaliza o psiquiatra.