Luã Pedro Gama, de 30 anos, é um dos inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade, o Enem PPL, que acontece nesta terça (10) e quarta (11). Faz dois anos que ele cumpre pena na Penitenciária 1 de Potim e viu no exame uma oportunidade de mudar de vida.
“O sistema prisional me deu a chance de me reintegrar à sociedade. Fazer o Enem é um passo importante para isso, pois quero ingressar na faculdade quando for aprovado. Logo, logo já estou saindo desse lugar e, até lá, vou me profissionalizando e aproveitando o tempo para crescer”, afirmou Luã, em entrevista ao Portal THMais.
Em 2024, 1.048 detentos da região do Vale do Paraíba e Litoral Norte farão a prova. São reeducandos das penitenciárias de Taubaté, São José dos Campos, Tremembé, Potim e Caraguatatuba.
O exame é aplicado em salas dos próprios presídios, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e tem o mesmo grau de dificuldade do Enem regular, sendo composto por quatro provas que, juntas, somam 180 questões e uma redação em língua portuguesa.
Luã também revelou que sonha em trabalhar com tecnologia e, caso consiga uma boa nota, vai tentar fazer um curso voltado ao assunto.
“Quero estudar Tecnologia da Informação (TI) e fazer um curso de inglês. Já tenho alguma noção e quero investir nisso, porque amo ‘mexer’ com TI. Quero crescer estudando algo que realmente gosto”, completou.
Sonho de empreender
Assim como Luã, outros detentos da região também enxergam no Enem PPL uma chance de recomeçar, seja para ingressar no ensino superior, seja para buscar novas oportunidades no mercado de trabalho após o cumprimento de suas penas. Davi Aragão, de 24 anos, que também está na P1 de Potim há quatro anos, busca no Enem a oportunidade de realizar seu sonho de empreender.
“Quero estudar Administração para me especializar na gestão de empresas. Já tive uma experiência como empreendedor e quero usar o que aprendi para crescer ainda mais e abrir novas portas (…) Mesmo enfrentando as dificuldades do ambiente prisional, a educação é uma luz que nos ajuda a sonhar. Quero trabalhar no ramo comercial, quem sabe com uma gestão comercial, e mudar minha história”, revelou.
Nas penitenciárias, os presos têm acesso ao estudo através de atividades elaboradas por professores da Secretaria de Educação. Davi disse que a educação na unidade tem sido essencial para sua preparação.
“Frequento a escola aqui na unidade e estou no segundo ano do ensino médio. Uso a biblioteca, acesso livros que chegam de fora e conto com o apoio dos professores. Esse suporte tem sido fundamental para concretizar meu sonho”, completou.
Importância da educação
Procurado pelo Portal THMais, o diretor da Penitenciária 1 de Potim, Gustavo Testa Fernandes, comentou como o estudo pode ser importante no processo de ressocialização dos presos.
“Iniciativas como a realização do Enem, e outros exames que a gente tem, são importantes ferramentas de inclusão e ressocialização para o preso. Já é comprovado que o estudo proporciona oportunidades para o preso, diminui a reincidência e melhora a autoestima. Faz uma transformação social completa no detento”, afirmou.
Um total de 21.962 detentos de 172 presídios farão o exame no Estado de São Paulo. Houve um pequeno aumento em relação aos inscritos do ano passado, quando o número de inscrições registradas foi de 21.721.