A exposição “Floresta de Retratos” está em cartaz no Palácio Boa Vista, no bairro Jardim Dirce, em Campos do Jordão. A proposta do renomado fotógrafo Marcio Scavone neste conjunto de obras é uma discussão sobre a relação entre população e território, além de ser humano e natureza a partir da fusão de retratos com a paisagem.
Em homenagem aos 150 anos da cidade, a exposição exibe 25 fotografias de uma série de 150 retratos de moradores da Campos de Jordão. O fotógrafo contou, em entrevista ao Portal THMais, que tem uma casa na cidade há muitos anos, onde passou a morar após a pandemia de Covid-19.
Marcio Scavone começou a fotografar profissionalmente aos 16 anos de idade como assistente do fotógrafo modernista catalão Marcel Giró. Seus retratos de personalidades brasileiras tais como Pelé, Oscar Niemeyer, Fernanda Montenegro, Jô Soares e Roberto Burle Marx tornaram-se referências na fotografia brasileira.
Ao descobrir o aniversário da Campos do Jordão, ele contou que teve a ideia de tirar fotos de 150 moradores da cidade. Mas quando estava fotografando essas pessoas, algo chamou a atenção do retratista.
“No estúdio tem uma vidraça atrás de quem está fotografando, o meu cachorro estava olhando para mim e por cima do meu ombro. E eu imaginei, nossa o que ele está olhando? E eu vejo as árvores quase pedindo para serem fotografadas também”, disse Scavone.
Foi esta combinação que deu vida à “Floresta de Retratos”. O artista contou que o bosque retratado nas fotografias está presente em todas as ruas do local, por isso ele sente que essa é uma boa maneira de contar a história da cidade. Scavone vê a exposição não apenas como um retrato da cidade, mas da sociedade como um todo.
“Absolutamente, é um retrato da humanidade. Toda cidade tem o seu jardineiro, o seu limpador das ruas e tem também o seu magnata, o seu banqueiro, o seu dono de hotel.”
Marcio Scavone – Fotógrafo
Por que o Palácio escolheu a “Floresta de Retratos”?
O Portal THMais também entrevistou a Curadora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, Rachel Vallego, responsável por escolher as exposições temporárias no Palácio Boa Vista. Ela contou que as obras foram escolhidas por celebrarem o aniversário da cidade através de uma visão artística.
A curadora conta que foi conquistada pela maneira carinhosa e fantástica como os retratos, fundidos com a floresta, contam a história de moradores do município.
“O que me chamou muita atenção nesta combinação do retrato com a paisagem natural é que surgia para mim uma coisa muito misteriosa, um tom mítico, como uma fantasia. Você quer saber quem é aquele flautista misterioso, ou aquela cozinheira com o ingrediente na mão”, disse Rachel.
Exposições temporárias
A “Floresta de Retratos” é a segunda exposição temporária do Palácio Boa Vista, o projeto tem o objetivo de trazer obras de artistas convidados, fora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. O foco são as obras contemporâneas para apresentar a arte ainda viva e em transformação aos visitantes e moradores de Campos do Jordão.
A primeira exposição temporária foi a mostra “Olhar a Terra, Ver o Céu”, reunindo 59 paisagens em pequeno formato feitas por quatro artistas contemporâneos: Danielle Noronha, Henrique Detomi, Maurício Parra e David Almeida. Colocando em choque noções tradicionais da pintura de paisagem, ao focarem na experimentação de materiais e técnicas e na noção de viagem, que perpassa a poética desses artistas, valorizando a experiência sensível de estar no mundo, possibilitando uma reconciliação entre interior e exterior, visível e invisível, terra e céu.
Palácio Boa Vista
Inaugurada em 1964 para ser a residência de inverno oficial do governador, em 1970 foi declarado “Monumento Público do Estado de São Paulo” e se tornou palácio-museu aberto à visitação pública, recebendo no mesmo ano, em seu salão nobre, o primeiro evento “Concertos de Inverno”, que viria a se tornar o atual “Festival de Inverno de Campos do Jordão”. Desde então, segue promovendo arte, cultura e história às milhares de pessoas que o visitam todos os anos.
*Texto de Bianca Martins com supervisão de Vitor Hugo Fróes