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Está tudo bem não estar bem!

Cláudia Oliveira
Cláudia Oliveira
Psicóloga com formação em Terapia Cognitiva Comportamental, especialista em adolescência, adultos e orientação profissional. Neuropsicóloga, pós-graduada em orientação parental e inteligência emocional, Pós-graduanda em Psicopatologia e em Psicologia baseada em evidências. @psiclaudiaoliveira @adolescenciasimples
claudia oliveira

Vivemos num mundo em que fomos convencidos de que devemos estar sempre bem, sempre produtivos, sempre positivos. E quando algo foge disso, logo nos culpamos e buscamos uma forma de eliminar o desconforto o mais rapidamente possível, em geral, por meio de algo que tire “com a mão” este incômodo que sentimos. Afinal, não temos paciência também para esperar.

Eu que tenho a personalidade mais intensa, sempre fiquei decepcionada com as pessoas que invalidavam o meu cansaço ou minhas questões emocionais com esse tipo de frase: “ah, faz parte né”, “vai passar já, já”, “não é nada não”, “tem que seguir, né”, a “vida continua”. E nem mesmo tinham interesse de ouvir o conteúdo da minha queixa.

De fato, comecei a pensar que eu era sensível demais e que o problema não existia, ou melhor, o problema era eu. Mas às vezes, a queixa é real e o problema também é: é cansaço acumulado, é preocupação, é a mente pedindo uma pausa. Não é um colapso, é apenas a vida acontecendo, e que eu podia sentir todo esse peso, afinal, sou humana.

Só agora mais madura é que entendi que o problema é que o culto ao normal nos faz acreditar que qualquer oscilação é um defeito. Que tristeza é sinal de fraqueza, que vulnerabilidade é falta de controle e que parar é sinônimo de fracasso. O resultado tem sido uma geração que teme a pausa, que se culpa pelo descanso e que não sabe lidar com a dor, porque aprendeu a escondê-la.

E quando olhamos para nossos filhos, percebemos que estamos transmitindo a mesma lógica. Corremos para evitar que eles se frustrem, que fiquem tristes, que se sintam decepcionados. Mas proteger demais é também roubar deles a chance de amadurecer. A vida real tem contrariedades, e aprender a lidar com elas é o que ensina resiliência e autoconfiança. Mas confesso que também errei, já que protegi demais meus filhos.

A verdade é que precisamos reaprender a viver o ócio, o silêncio, o vazio, as angústias, sem nos sentirmos mal. São nos momentos em que nada acontece que o cérebro descansa, são nas tristezas que as ideias de superação se reorganizam e que crescemos.

Ser saudável não é estar feliz o tempo todo, mas saber transitar entre os altos e baixos da vida com menos culpa e mais aceitação. A tristeza, o medo e o desânimo também são emoções legítimas e todas elas têm algo a nos ensinar.

Não se trata de desistir da vida mais leve e saudável, mas de entender que a vida não é uma linha reta. Ela é feita de curvas, pausas, retrocessos e recomeços. E devemos entender que aí sim, está tudo bem.

Mas tem algo que é importante destacar: quando as oscilações naturais começarem a paralisar, quando o desânimo persistir por semanas, quando o sono mudar, quando o prazer se apagar, não ignore esses sinais. Isso não é normal e ninguém precisa enfrentar tudo sozinho. Assim como procuramos um médico quando algo dói no corpo, buscar um psicólogo quando algo pesa na mente é uma forma de amor por si mesmo.

E pode ter certeza de que dá para encontrar propósito até nas partes que doem, afinal como disse o poeta, a vida é feita de “dores e delícias” e que ambas fazem parte de ser quem somos.

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