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Eternidade

Fabrício Correia
Fabrício Correia
Fabrício Correia é jornalista, escritor, professor universitário, especialista em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão. É crítico de cinema, membro da Academia Brasileira de Cinema e apresenta o programa “Vale Night” na TV Thathi SBT.
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“Eternidade”, de David Freyne, parte de uma premissa irresistível: depois da morte, cada alma tem apenas uma semana em uma espécie de sala de espera existencial, a “Junção”, para decidir com quem e em qual realidade passará o resto do tempo, seja ele infinito ou apenas simbólico. É uma ideia potente, capaz de gerar comédia, romance e até filosofia. Nem sempre gera tudo ao mesmo tempo.

O filme acompanha Joan, interpretada com delicadeza e força por Elizabeth Olsen. Ela se vê diante de uma escolha que seria impensável para os vivos: permanecer com Larry (Miles Teller), o marido com quem dividiu uma vida inteira, cheia de cumplicidades, rotinas, falhas e beleza ou atravessar a eternidade com Luke (Callum Turner), o primeiro amor que morreu jovem e passou décadas à sua espera. Esse reencontro, por si só, já sustentaria um longa, e a interpretação dos três atores dá vida a afetos que não dependem da realidade para existir.

É no elenco que o filme encontra sua verdade. Olsen trabalha bem o conflito interno, sem recorrer à obviedade. Teller entrega um Larry sólido, humano, o tipo de amor construído e não apenas sonhado. Turner representa o oposto: o que foi interrompido, o que permaneceu idealizado. O triângulo é menos sobre indecisão romântica e mais sobre memória, luto e o peso do tempo.

O problema é que “Eternidade” deseja ser muita coisa ao mesmo tempo. A construção do além-vida, visualmente inventiva, administrada por coordenadores carismáticos, incluindo uma Da’Vine Joy Randolph divertida, acaba ocupando espaço demais e deixando a emoção às vezes em segundo plano. O filme tenta equilibrar humor, romance e fantasia, mas o ritmo não se estabiliza. Há cenas inspiradas, mas também desvios que enfraquecem a promessa inicial.

No fim, “Eternidade” é agradável, tem brilho, tem doçura. Mas sua originalidade se dilui quando o roteiro recorre às fórmulas mais conhecidas da comédia romântica contemporânea. Falta densidade para transformar a boa ideia em algo memorável. Fica uma sensação curiosa: a de que o filme, assim como Joan, nunca decide de fato o que quer ser.

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