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Infância não é conteúdo: quando a fofura dos filhos pode virar risco

Cláudia Oliveira
Cláudia Oliveira
Psicóloga com formação em Terapia Cognitiva Comportamental, especialista em adolescência, adultos e orientação profissional. Neuropsicóloga, pós-graduada em orientação parental e inteligência emocional, Pós-graduanda em Psicopatologia e em Psicologia baseada em evidências. @psiclaudiaoliveira @adolescenciasimples
claudia oliveira

Quem não se encanta e não quer registrar aquele rostinho redondo de um bebê, fazendo suas primeiras gracinhas? E o pezinho parecendo uma bisnaguinha fofa, que a gente tem vontade de morder?

Pena que eu não tenho fotos minhas dessa fase. Naquela época, revelar fotos custava caro e ter uma máquina fotográfica não estava ao nosso alcance. Hoje, graças a Deus isso mudou. Temos a facilidade de registrar tudo: a vida acontece diante de nós, pegamos o celular e… clic, geramos memórias eternas.

Esta cena é muito comum: seu filho faz uma graça, fala algo fofo, inventa uma dança divertida. Você grava e, sem pensar muito, posta. Posta porque é bonitinho demais. Porque quer que os outros vejam. Em minutos, as curtidas disparam, os comentários se enchem de corações e você se derrete de orgulho. Afinal, mostrar para o mundo como essa criança é especial parece um gesto de amor.

E pior que na maioria das vezes, essa é mesmo a intenção.

Mas aqui entra um ponto importante: a internet não é feita só de pessoas boas, que torcem por você. O que começa como um registro inocente pode ganhar dimensões que fogem totalmente do seu controle.

Com anos de experiência na psicologia clínica, dois riscos me vêm à mente.

O primeiro é sobre o futuro da criança. Será que ela vai gostar de ter suas fotos e vídeos expostos quando crescer? Pode ser que sim, mas também pode ser que aquele vídeo que hoje arranca risadas se torne motivo de constrangimento ou piada na escola.

Atendo adolescentes que se arrependem do que viveram na infância, na internet. Muitos se sentem envergonhados da aparência que tinham, da voz infantil ou dos motivos que os fizeram “famosos”. E acredite se quiser, na época, eles adoravam a repercussão. Hoje, prefeririam que aquilo nunca tivesse sido postado.

O segundo perigo é ainda mais sério: os predadores virtuais. Imagens aparentemente inofensivas, como uma criança de biquíni na praia, com as perninhas de fora, podem ser salvas, editadas e compartilhadas em contextos criminosos. Segundo a SaferNet, o Brasil está entre os países com mais denúncias de pornografia infantil na internet.

Além da segurança, há a questão da privacidade. Crianças expostas cedo demais podem crescer sem entender o valor dela. Elas podem sentir que precisam manter a imagem do “filho fofo e engraçadinho” para agradar aos outros e, em alguns casos, até sustentar financeiramente a família.

Talvez você pense: “Nossa, então não posso mais compartilhar a alegria que vivo com meus filhos? Virou paranoia?”.

Não. Você não precisa deixar de registrar momentos importantes ou dividir com pessoas de confiança. Mas pode fazer isso com mais segurança:

• Prefira perfis privados para compartilhar com familiares e amigos próximos.
• Evite mostrar uniformes escolares, placas, localização ou rotina.
• Não poste fotos que a criança possa achar constrangedoras no futuro.
• Pergunte (mesmo aos pequenos) se eles querem aparecer. É um treino de consentimento.
• Antes de postar, inclua o desejo da criança nessa decisão. Se não sabe se ela vai gostar no futuro, que tal esperar?
• Pergunte-se: precisa mesmo?

Da próxima vez que o dedo coçar para postar, pergunte: por quais motivos eu estou fazendo isso mesmo? Estou fazendo isso pelo meu filho ou pelo meu feed?

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