A foto de Donald Trump, de punho fechado para o alto, enquanto gritava “fight” (luta), traduz o atual momento político que vivemos no mundo. Seria louco o editor que não a estampasse em sua primeira página. Seriam também loucos os diretores de campanha de Trump se não a usassem para sensibilizar o eleitor norte-americano. Em outras partes do mundo, correntes ideológicas afinadas com Trump fazem o mesmo.
Segundo publicação do The New York Times, Thomas Crooks, o atirador que atentou contra a vida de Trump, era visto pelos seus vizinhos como um jovem calado. Seus professores o descreveram como um estudante inteligente e dedicado. Não apresentava sinais de disturbios mentais graves, porém em um celular encontrado pelo FBI, havia registros de que pesquisara recentemente sobre “depressão profunda”. O FBI descreveu a casa em que vivia com a famíllia como desorganizada e não muito limpa. Em um perfil escrito por ele próprio em 2021, portanto aos 17 anos, disse que era interessado por computadores, engenharia, história e economia. Infelizmente este jovem não seguiu nenhuma destas vocaçoes. Invadido por pensamentos violentos, escolheu subir em um telhado para tentar matar um candidato a presidente.
Freud já argumentava em suas análises sobre o instinto de morte que o homem traz em sua natureza um ímpeto de violência. O que é potencializado nos comportamentos de massa. Os gatilhos da violência social são dados pela loucura de não perceber o próximo como um semelhante, simplesmente pelo fato dele eventualmente pensar, se vestir ou parecer diferente. Esta loucura levada ao extremo conduz algumas pessoas a comportamentos psicopáticos e assustadores como o deste jovem que atentou contra a vida de Trump.
Mas todos estamos conectados de alguma forma nesta armadilha. Convido-o a pensar na violência como uma droga, que colocada em gotas no discurso que propagamos ao redor, provoca diferentes efeitos. Ao ter contato com falas de ódio, temos reações diferentes. Algumas pessoas vão “apenas” reproduzir xingamentos aos adversários ideológicos nos grupos de WhatsApp da família. Outros podem adquirir comportamentos mais agressivos, chegando ao físico, como foi o caso daquele jovem no telhado com um fuzil nas mãos.
Erra quem pensa que este nível de violência social é novidade. Certamente estes efeitos da violência estão sendo dinamizados pelas nossas conexões em rede, porém são tão antigos como os genes humanos. Basta lembrar que hebreus e palestinos travam uma disputa territorial milenar, que russos tentam dominar os demais povos Eslavos a séculos, que duas guerras mundiais exterminaram milhões de vidas na Europa, que os povos indígenas foram quase que totalmente dizimados nas Américas, que os Africanos foram dominados em seu próprio continente por causa da cor da sua pele, que os orientais já travavam batalhas muito antes de Gengis Khan.
A violência está por todas partes e em todos os tempos. E talvez o mais assustador é que mentes psicopatas são capazes de atirar covardemente contra multidões e inimigos imaginários de um telhado ou adentrando em uma escola.
Então o que fazer? Em suas análises, Freud dizia que a violência humana é algo inevitável. Assim sendo, o que podemos fazer é tentar sublimá-la, através de ritos, expressões e mediações. A política deveria ser a principal ferramenta neste sentido. Porém embebecidos pelos “likes”, o que vemos é um amontoado de lideres perdendo a percepção de que uma liderança frutífera é aquela capaz de produzir o diálogo, conexões e convergências.
Difícil determinar se um pensamento é melhor que outro. Talvez sejam apenas perspectivas diferentes de um todo que nem precisaria ser tão exaustivamente discutido. Assim são as ideologias. Tentam explicar tudo e acabam explicando nada. Mais valeria se preocupar com os problemas concretos do cotidiano. Procurar soluções simples, de pequenas questões, para que as grandes fossem resolvidas naturalmente. Neste exercício cotidiano do diálogo, todos poderíamos ajudar a fazer jovens, como aquele de domingo, a descerem do telhado.