Dentro dos transtornos mentais mais comuns, a ansiedade parece ter virado parte da personalidade de quase todos nós. Ela vem se disfarçando de características normais e costuma aparecer em pequenos gestos, tais como atender ao telefonema do filho e dizer: “anda, fala logo”, olhar o filho estudando, e soltar uma frase “você tem que dar o seu melhor”, conversar com alguém já pensando em outra coisa, só porque o assunto não está do seu interesse e aí você já pega o celular e abre a rede social sem motivo algum, apenas para sentir uma emoção melhor…
Se isso acontece várias vezes na sua vida, com intensidade até maior, você pode ter certeza que isso é percebido muito mais do que você imagina. E se a sua casa também é palco dessas situações, pode ter certeza que o clima emocional será mais tenso e, muitas vezes, as pessoas que convivem com você carregarão uma ansiedade que não é só deles.
Pesquisas confirmam que o ambiente emocional familiar influencia diretamente os níveis de estresse e ansiedade dos adolescentes. Um estudo publicado no Journal of Child and Family Studies (2023) mostrou que filhos de pais com altos índices de ansiedade têm duas vezes mais chances de desenvolver sintomas ansiosos, mesmo quando há suporte escolar e social.
Na prática, isso significa que o modo como reagimos aos desafios da vida comum, ensina aos nossos filhos como eles devem reagir também. Lembro da minha leitura do livro O Cérebro da Criança, onde aprendi com o autor Daniel Siegel que o cérebro dos jovens é moldado pela relação interpessoal e que o equilíbrio emocional dos pais é um dos principais fatores de segurança interna para os filhos.
Em um momento da vida do jovem em que vestibulares, redes sociais e comparações parecem intensificar o medo de falhar, os pais precisam se perguntar o que estão realmente transmitindo? Será que não estamos passando insegurança? Será que, ao querer incentivar, não estamos alimentando o medo do erro? Será que eu vivo apontando as falhas do outro e olho pouco para as minhas?
O desafio está em aprender a cuidar da própria mente para, então, acolher o emocional dos filhos e no consultório, cada vez mais, estamos trabalhando este autoconhecimento, alinhado com práticas baseadas em evidência científica, que auxiliam nesta caminhada de construção de pais e jovens mais saudáveis emocionalmente.
Para que esse conhecimento não fique localizado apenas com quem faz terapia, selecionei cinco boas estratégias para você começar aí, agora:
1) Respire antes de reagir
Antes de dar conselhos, suspire fundo e pratique a respiração diafragmática: inspire profundamente pelo nariz, expandindo o abdômen, segure por dois segundos e solte lentamente pela boca. Repita três vezes. Esse tipo de respiração ativa o nervo vago, reduzindo a produção de cortisol e ajudando a mente a desacelerar.
2) Esteja presente de verdade
Quando seu filho fala, olhe nos olhos, evite interromper e perceba seu próprio corpo. O simples ato de estar inteiro em uma conversa já reduz a ansiedade relacional.
3) Reduza o ritmo do ambiente
A casa é o primeiro espaço de regulação emocional. Diminuir o barulho, as cobranças e até o número de conselhos pode fazer com que o adolescente sinta que está em um lugar seguro para errar, tentar e descansar.
4) Fale sobre o que sente, sem dramatizar
Diga que você também sente medo ou preocupação pois isso humaniza a relação. Mas é importante não transferir a responsabilidade do seu bem-estar para o jovem. Diga “eu também fico nervosa às vezes, mas estou aprendendo a respirar e me acalmar”.
5) Valorize o processo, não apenas o resultado
A ansiedade dos filhos cresce quando o foco está só na nota ou na aprovação. Reconheça o esforço, o estudo e a coragem de tentar. Isso fortalece a autoconfiança e diminui o medo de errar.
Cuidar da mente é um ato silencioso e poderoso. Quando os pais aprendem a observar a própria ansiedade e a reagir de forma mais calma, oferecem aos filhos o maior presente possível que é a sensação de que o mundo pode ser um lugar mais seguro.
Antes de cobrar tranquilidade de um adolescente, olhe para o seu próprio ritmo. Talvez o que ele mais precise não seja de conselhos, mas de um adulto que inspire paz e acolhimento.



