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Quando a aposta vira dívida: por que precisamos falar sobre o boom das bets no Brasil

Luciana Ikedo
Luciana Ikedo
Empresária, palestrante internacional, escritora e especialista em comunicação financeira, Luciana Ikedo possui mais de 28 anos de experiência em finanças e investimentos. Planejadora financeira e empreteca, é reconhecida como autoridade na área, com certificações nacionais e internacionais, além de ser finalista da 2ª edição do Prêmio de Educação Financeira do Instituto XP. Recentemente, lançou pela Editora Loyola o livro Vida Financeira: Descomplicando, Economizando e Investindo. É sócia da RV4 Investimentos, colunista semanal do Jornal A Hora do Vale Dia, transmitido pelo SBT Vale do Paraíba e Litoral, e contribui quinzenalmente para a seção "Você no Azul" da Revista Ana Maria. Formada em Administração de Empresas, Luciana possui MBA Internacional em Gestão Empresarial pela FGV com extensão na Universidade de Ohio, além de MBA em Banking pelo Insper e MBA Executivo em Saúde pela FGV, com extensão na Universidade de Tampa, na Flórida.
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Só em 2024, os brasileiros movimentaram até 21 bilhões de reais por mês em apostas esportivas. É um número impressionante, e que revela muito mais do que entusiasmo por esportes. Boa parte dessas apostas foi feita via Pix, de forma rápida e fácil, e uma parcela significativa desse dinheiro saiu do orçamento de pessoas em situação de vulnerabilidade. Até agosto, mais de 24 milhões de brasileiros já haviam feito ao menos uma aposta online. Cerca de 5 milhões eram beneficiários do Bolsa Família. Isso mostra o quanto esse mercado cresceu de forma acelerada e sem critérios claros de proteção para quem está mais exposto financeiramente.

As chamadas bets, plataformas digitais de apostas esportivas, ganharam espaço com a promessa de uma renda extra simples, imediata, sem esforço. Mas o que parece uma oportunidade divertida pode esconder uma armadilha financeira séria. Hoje já temos estudos apontando que um em cada cinco apostadores apresenta sinais de dependência, e a maior parte deles são jovens entre 18 e 25 anos. Jovens que ainda estão estruturando a própria vida, que muitas vezes não têm reserva financeira, nem informação suficiente para lidar com os riscos. E, na prática, o que deveria ser um entretenimento vira um ciclo difícil de sair: a pessoa aposta, perde, tenta recuperar, perde mais, se endivida, e assim por diante.

E o impacto não para nas finanças pessoais. Segundo a Confederação Nacional do Comércio, o comércio tradicional brasileiro, aquele que movimenta as economias locais, como supermercados, farmácias e pequenas lojas, perdeu mais de 100 bilhões de reais em 2023. Enquanto o consumo nos bairros desacelera, as plataformas de apostas, muitas delas sediadas fora do Brasil, acumulam lucros. Isso representa uma mudança profunda na forma como o dinheiro circula na economia e deve ser visto com atenção por todos nós, inclusive por quem não aposta. O dinheiro que antes girava entre vizinhos agora atravessa fronteiras sem gerar desenvolvimento local.

Não se trata de demonizar quem aposta, nem de fazer julgamentos morais. Apostar não é crime. Mas precisamos aprender a identificar quando o lazer vira compulsão e quando a liberdade de escolha começa a custar mais do que deveria. Educação financeira também é sobre isso: entender que o controle sobre o próprio dinheiro passa por saber fazer escolhas conscientes, respeitando nossos limites e objetivos. A discussão sobre apostas esportivas precisa sair da superficialidade e entrar no centro do debate público, com responsabilidade, informação e acolhimento.

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