Já ouviu falar que no Brasil o número de pessoas solteiras nunca foi tão alto? Pois é, quase metade dos adultos do nosso país declarou ao IBGE não estar em um relacionamento estável.
Quando lemos esta informação, temos alguns pensamentos questionadores, do tipo: a que se refere esta mudança? Por que estamos assim, já que somos seres sociais e fomos educados para termos relações afetivas duradouras? Será que estamos sofrendo de solidão?
Posso imaginar que as respostas são multifatoriais e eu não conseguiria elencá-las, mas arrisco a dizer que as mulheres estão mais autônomas e tendo menos pressão familiar para se casar. Os homens, por sua vez, menos pressionados a casar cedo. E até mesmo podemos perceber uma certa dificuldade de encontrarmos pessoas que nos agradem e que estejam alinhadas com nossos momentos de vida. E por aí vai.
Mas há um lado silencioso e positivo nessa estatística que eu vejo crescer no meu consultório: as pessoas estão dando um tempo para se conhecerem mais, estão procurando se sentir bem em suas próprias companhias e dependendo menos do outro para serem felizes.
E esse movimento de ficar sozinho, por escolha, chamamos de solitude. A solitude é a oportunidade que cada vez mais pessoas estão se dando, de terem um tempo de reencontro consigo mesmo, de pausa e silêncio interior. É o momento que procuram terapia até para poder refletir, se entender melhor, traçar bons planos e se motivar a buscar seus propósitos.
Em tempos tão acelerados, a solitude está se tornando uma parada obrigatória a todos nós.
Já a solidão é o oposto: é quando a ausência do outro se transforma em dor, e o isolamento deixa de ser descanso e escolha saudável, para virar afastamento. A pandemia, sem dúvida, intensificou esse cenário. Muitos descobriram que conseguem viver sozinhos e isso foi libertador. Outros, porém, se acostumaram com o afastamento e agora têm dificuldade de retomar os vínculos.
Esse afastamento, de forma intensa e prolongado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), está associado ao aumento de depressão, ansiedade e até doenças cardiovasculares, tamanha é a força da ausência da convivência sobre o corpo e a mente.
Percebo que nosso desafio atualmente seja conseguir estar bem sozinho, apenas com a nossa companhia, mas sem nos desligarmos do contato humano, porque este continua sendo uma das maiores fontes de cura emocional que existe.
Se você está num momento onde estar só tem lhe feito bem, celebre sua solitude. Mas se o silêncio começou a pesar, se você percebe que há um exagero no seu distanciamento, talvez seja hora de se reaproximar dos outros e porque não dizer de si mesmo. Afinal, a vida também ganha um sentido bem importante, quando é vivida no mínimo a dois.



