Ação dá visibilidade e renda aos catadores de materiais recicláveis durante o carnaval

Em meio aos foliões, os catadores de materiais recicláveis enfrentam chuva e sol, e até o preconceito para deixar as cidades mais limpas e o carnaval mais verde. Elismaura Pereira é uma dessas profissionais. Nascida na Bahia, ela cresceu em São Paulo: “Tenho família aqui. Mãe de oito filhos, vovó de quatro, cinquentão chegando. Espero avançar melhor do que das outras vezes, mostrar o meu talento, o que sei fazer de melhor“.

A trabalhadora foi acolhida pelo movimento Pimp My Carroça criado em 2012 para retirar os catadores da invisibilidade e aumentar sua renda através da arte, sensibilização, tecnologia e participação coletiva.

As ações seguem em outras cidades do país e do mundo. Thiago Mundano, grafiteiro e artivista fundador do movimento, afirmou que a valorização dos profissionais da reciclagem não poderia ser diferente no carnaval. “É um evento que gera muitos resíduos. Carnaval sem catador é lixo. Mas não é só eles estarem ali, é dar visibilidade, remunerar o trabalho essencial com EPIs“, afirmou.

O Cataki levou 128 catadores cadastrados ao bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, na região central de São Paulo. O bloco teve como lema “Resiste Amor em SP”.

Os trabalhadores receberam um kit com camisetas, EPIs e bags personalizadas, grafitadas pelos 11 voluntários da ação de 2024 junto a 12 produtores do Pimp My Carroça. Também foram distribuídos lanche e almoço, e um kit de higiene, graças à parceria firmada com a Heineken, Casa Comigo e Baixo Augusta. Cada trabalhador recebeu ainda um pagamento pelo dia de trabalho e auxílio transporte.

José Fernandes Júnior esteve 20 anos em situação de rua após passar por desestruturação familiar, e viu na reciclagem uma chance para sobreviver. Zeca, como é conhecido, já trabalhou como agente comunitário do Programa Saúde da Família e não está mais nas ruas, mas continua desempregado. Hoje intercala a catação de latinhas com a venda de discos e revistas Ocas, e depende do apoio dos irmão para pagar o aluguel.

O trabalho que o Cataki faz, que para mim são cidadãos, têm seus trabalhos, mas que fazem sua cidadania valer a pena, no que diz respeito a uma coisa tão premente que está na nossa vida. Antes a gente via os cientistas alertarem sobre a emergência climática, eles falavam, mas não acontecia. Com essas ondas de calor, estamos sentindo na nossa pele. E se os governos de todo o planeta não tomarem providências, sabemos que vai ser uma coisa custosa e quem vai sofrer mais são os mais vulneráveis“, pontuou,.

O Brasil tem cerca de 1 milhão de catadores, segundo estimativa do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. A grande maioria é informalizada, o que significa que não há vínculo empregatício, nem direito a férias ou qualquer auxílio.

Disponível para Android e IOS, o Cataki é um aplicativo que permite que os geradores de resíduos se conectem diretamente com os catadores, para facilitar o processo da reciclagem. Em 2020, uma consultoria apontou que essa ponte resultou no aumento de renda para mais de 50% dos usuários, cerca de 5 mil, em mais de 500 cidades brasileiras.

A catadora Francieli Silva saiu das drogas e está há 5 anos com o Cataki.

Foi do lixo que tirei o sustento da minha família. O aplicativa dá uma visibilidade que a gente não tem. A gente limpa todo o trabalho que é do Poder Público e das grandes marcas geradoras de resíduos e a gente trabalha todo dia como autônomo. Eu não conheço outro projeto como esse e pra gente que é catador e é cadastrado, tem um suporte deles, temos assistente social, tem evento, dá visibilidade pra gente”, afirmou.

No ano passado, foram recolhidas no Rio de Janeiro mais de mil toneladas de lixo durante o carnaval, enquanto São Paulo recolheu praticamente 700 toneladas. Em Salvador, só mergulhadores retiraram 300 quilos de lixo do Mar provenientes dos foliões. Em BH, pelo menos 570 toneladas foram recolhidas depois da folia, pelos serviços públicos, mas material que não é reaproveitado.

No país do carnaval, só 3% dos resíduos gerados por toda a população é reciclado. É aí que o bloco dos catadores entra em ação. São eles os responsáveis por reciclar 90% do lixo que é reaproveitado no país. A média nacional é que cada brasileiro produz 378 quilos de lixo por ano, quase um quilo por dia, que é jogado fora.

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