1 em cada 10 estudantes brasileiros não se sente seguro na sala de aula, diz Pisa

SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Pisa 2022, divulgado nesta terça-feira (5), trouxe dados sobre a sensação de segurança dos estudantes. No Brasil, 10% não se sentem seguros dentro da sala de aula, índice superior à média dos países ricos, membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de 7%.

Essas informações ganham importância no Brasil em razão da onda de ataques em escolas intensificado desde o ano passado. Mais da metade dos 36 casos de violência extrema registrados em escolas brasileiras desde 2001 ocorreram a partir do ano passado.

Todos tiveram como autores meninos e homens que passaram por sofrimento no ambiente escolar. O cenário evidencia a necessidade, segundo especialistas, de pensar sobre as relações dentro das escolas e agir de diferentes formas para evitar situações que resultem em sofrimento para alunos e, inclusive, em ataques.

Em países como Jamaica e Moldávia, essa insegurança dentro da sala de aula atinge 15%. Por outro lado, em nações como Portugal, Suíça e Sérvia menos de 5% dos alunos relatam essa condição.

Com relação a outros espaços dentro das escolas, 13% dos estudantes brasileiros sentem-se inseguros em locais como corredor, refeitórios e banheiros. Contra 10% na média da OCDE.

Esse indicador do Brasil, sobre medo nos locais da escola, é igual ao registrado entre estudantes dos Estados Unidos, por exemplo, país que convive há décadas com vários ataques.

Mas a maior insegurança é no caminho para a escola. No Brasil, 19% dos estudantes relataram não se sentir seguros nesse trajeto. Essa taxa é o dobro da registrada na média dos países da OCDE, de 8% —nos Estados Unidos somente 4% dos alunos têm essa sensação.

O Pisa é a maior e mais importante avaliação internacional de desempenho educacional. Além de avaliar as disciplinas de matemática, leitura e ciências, o instrumento também colhe outras informações relevantes sobre o tema.

No Brasil, 10.798 alunos, de 599 escolas, completaram a avaliação, representando cerca de 2,2 milhões estudantes de 15 anos (estima-se que 76% da população total de jovens de 15 anos).

O Brasil também tem maiores proporções de estudantes que relatam casos de bullying, na comparação internacional. Cerca de 22% das meninas e 26% dos meninos relataram terem sido vítimas de atos de bullying pelo menos algumas vezes por mês. A média da OCDE é 20% para as meninas e 21% para os meninos.

Mas na comparação com os dados do exame anterior, de 2018, a situação melhorou. Tanto no Brasil quanto na média internacional dos países ricos.

Por aqui, 9% dos estudantes relataram que outros estudantes espalharam boatos desagradáveis sobre eles em 2022. Eram 14% em 2018. Essa proporção passou de 11% para 7% na média da OCDE.

Os dados do Pisa 2022 mostram que a crise sanitária teve um impacto global negativo sem precedentes, com queda significativa na nota média dos países membros da OCDE nas três áreas avaliadas. Em matemática, houve uma redução de 15 pontos entre 2018 e 2022 —o que representa uma perda de mais de meio ano de aprendizado na disciplina.

Mais uma vez foram os países e territórios asiáticos que tiveram os melhores resultados na prova. Singapura voltou a registrar o melhor desempenho em todas as áreas, sendo seguido pelo Japão e Coreia. Os três países tiveram melhora nas médias mesmo durante a pandemia.

O Brasil seguiu a tendência dos demais países, com queda nas três áreas, ainda que tenha tido perdas menos acentuadas que a média dos países membros da OCDE. A área mais afetada entre os estudantes brasileiros foi matemática, em que a nota caiu de 384 para 379, entre 2018 e 2022. Há dez anos, a média brasileira na área era de 389.

Mesmo com a piora nas médias, o Brasil conseguiu melhorar sua posição no ranking em relação aos demais países. Em matemática, passou do 71º lugar para 65º, mas ainda segue diante da média da OCDE, que foi de 472 pontos, e continua atrás de países como a Arábia Saudita, Peru, Costa Rica e Colômbia.

ISABELA PALHARES E PAULO SALDAÑA / Folhapress

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