SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A lista de credores da 123milhas reúne os próprios donos -os irmãos Augusto Julio e Ramiro Julio Soares Madureira-, centenas de pequenos hotéis e pousadas em diversas regiões do Brasil, agências de turismo, bancos e o Google.
As dívidas somam R$ 2,3 bilhões, e o detalhamento foi apresentado nesta quarta-feira (30) à Justiça mineira. Nesta terça (29), a empresa entrou com pedido de recuperação judicial na 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte.
Cerca de R$ 15 milhões são dívidas trabalhistas e R$ 92 milhões com micro ou pequenas empresas.
A grande parte, R$ 2,2 bilhões, está com os credores quirografários -aqueles sem garantia de recebimento. Nesse grupo, estão os consumidores da 123milhas e HotMilhas e os seus respectivos fornecedores, além de instituições financeiras.
Entre os credores quirografários estão os donos do negócio: Ramiro (R$ 3,7 milhões), Augusto (R$ 1,5 milhão) e Tânia Silva Soares Madureira (R$ 2 milhões).
“Há casos em que os próprios donos fazem empréstimos à empresa e, assim, também se tornam credores”, diz o advogado Filipe Denki, do Lara Martins Advogados, especialista em recuperação judicial.
“Uma vez aprovado o pedido de recuperação judicial, nessa classe dos quirografários deve se concentrar o maior deságio [desconto na dívida], entre 70% e 80%. Caso contrário, a empresa não vai conseguir cumprir o seu plano”, explica Denki.
Procurada, a 123milhas não respondeu a pedido de esclarecimentos sobre a lista de credores até a publicação desta reportagem.
Também está entre os quirografários outro membro da família, José Augusto Soares Madureira, a quem a 123milhas deve R$ 3 milhões.
Os Soares Madureira pertencem a uma família mineira, tradicional produtora e exportadora de café em Piumhi, município de 39 mil habitantes. Um dos maiores credores quirografários listado como pessoa física é Alexandre Ferreira Goulart, dono de postos de gasolina na cidade. Ele tem R$ R$ 8,5 milhões a receber da 123milhas.
Na extensa lista de credores (34 listas, com 8.200 páginas) disponibilizada à Justiça, no topo está o Banco do Brasil, com R$ 74,5 milhões a receber. Outro grande credor financeiro é o banco digital BMP, que se apresenta como “o banco das fintechs”, para quem a 123milhas deve R$ 30,2 milhões.
Há uma dívida ainda de R$ 8 milhões com banco Santander de Luxemburgo, mas esta é uma “dívida subordinada”, relacionada aos sócios. Na lista dos bancos, constam ainda débitos de R$ 4,9 milhões junto à Caixa Econômica Federal.
O segundo maior credor é o Google, com R$ 50,5 milhões a receber. A 123milhas é a segunda maior anunciante do país, com R$ 1,28 bilhão investidos em mídia no ano passado, segundo ranking Agências & Anunciantes, do jornal Meio & Mensagem.
Boa parte desses investimentos se deu no meio digital. Daí também a dívida de R$ 5,5 milhões acumulada com o Facebook.
Mas na lista de credores também constam dívidas com a JCDecaux (R$ 1 milhão), responsável por anúncios no mobiliário urbano (pontos de ônibus, por exemplo), e com a Eletromidia, especializada na propaganda em elevadores (R$ 346 mil).
Outra grande credora é a Iterpec, prestadora de serviços na área de turismo, que dá suporte a outras empresas do setor em reserva de hotéis, tours e transfers. A companhia tem R$ 25,8 milhões a receber.
Já a corretora de seguros digital Hero tem R$ 8,4 milhões a receber.
Operadoras de turismo regionais estão entre as grandes credoras da 123milhas. Uma delas é a paranaense Ezlink, que tem R$ 15,5 milhões a receber.
Já a dívida com a Diversa Turismo soma R$ 13,8 milhões. Junto à Confiança Agência de Passagens e Turismo, de Cuiabá, os débitos somam R$ 11 milhões.
Com a tradicional Flytour, fundada em 1974 e especializada em viagens corporativas, a dívida é de R$ 4,8 milhões.
Há ainda hotéis, de diferentes portes, na lista de credores, assim como diversas pousadas, por todo o Brasil.
Entres os hotéis, a maior dívida é com a rede espanhola Restels, a quem a 123milhas deve R$ 12,5 milhões. Há uma dívida com a AG Hotéis e Turismo, responsável pelo resort Ocean Palace, em Natal, de R$ 1,5 milhão.
Com o Buona Vitta Gramado, o débito soma R$ 638 mil; com o Samoa Beach Resort, em Porto de Galinhas (PE), são R$ 561 mil; e com o Transamérica, de Comandatuba (BA), R$ 491 mil.
Entre as pousadas, há dívidas, por exemplo, de R$ 145 mil com a Vila do Mar, em Natal (RN), de R$ 140 mil com a Recanto Cataratas, de Foz do Iguaçu (PR), de R$ 137 mil com a Villa dos Corais, em Morro de São Paulo (BA), de R$ 77 mil com a Pousada Colina dos Ventos, em Urubici (SC) e de R$ 40 mil com a Pousada do Tesouro, em Paraty (RJ).
DANIELE MADUREIRA / Folhapress