SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Das 162 pessoas mortas em decorrência das enchentes no Rio Grande do Sul até a noite desta quarta (22), 87% já foram identificadas, de acordo com o Instituto Geral de Perícias gaúcho.
Isso significa que cerca de 20 corpos 13% dos óbitos ainda não tiveram a identidade confirmada e vão precisar passar por um exame de DNA.
O processo, que vai ajudar na identificação, costumava demorar de 20 a 22 dias. Porém, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública, um novo equipamento consegue emitir um resultado em 90 minutos.
Nestes casos, é necessário que familiares das vítimas compareçam ao DML (Departamento Médico Local) para realizar a coleta do material genético. A maioria das identificações até agora foi feita com base em impressão digital.
Até esta quarta, a cidade que registrou o maior número de óbitos foi Canoas, com 24 mortes confirmadas e 12 desaparecidos. A cidade foi uma das mais atingidas por inundações e imagens mostram que a região ainda sofre com o alto nível de água nas ruas.
O médico legista e professor aposentado Nelson Massini afirma que a putrefação de corpos se desenvolve rapidamente com a umidade. Por isso, há uma pressa para encontrar ainda na primeira semana os mortos em desastres como o que atinge o Rio Grande do Sul.
Depois deste período, ele afirma que fazer a identificação dos corpos com digitais fica mais difícil. Outra opção é usar a arcada dentária, por meio de radiografias. Quando nenhum dos dois métodos funciona, é preciso recorrer ao DNA, como deve acontecer no estado.
“Procuramos fazer o processo o mais rápido possível, uma vez que [a demora] é um sofrimento para a família”, diz.
Outra dificuldade é o fato que muitos corpos foram encontrados embaixo da terra, o que também acelera a a putrefação.
Segundo o especialista, mesmo em condições normais o processo de decomposição começa em poucos dias. Ele cita como exemplo o caso da família morta na semana passada por um jovem de 16 anos, em São Paulo.
“Ele ficou com os pais dentro de casa 2 dias, é o suficiente para já entrar no processo de autolítico, de destruição, e a saída de um gás que cheira mal”, explica Massini.
No caso de desastres que causam a morte de centenas de pessoas, como em Brumadinho (MG), que matou ao menos 270 pessoas em 2019, as famílias dos desaparecidos foram chamadas para ter o material genético recolhido. O processo facilita o trabalho da perícia que já tem um banco de dados para comparar quando o material dos corpos for coletado.
No caso de pessoas que são levados pela água, o perito explica que é comum que, entre 48 e 72 horas, sejam encontrados porque flutuam em decorrência da liberação de gases.
ISABELLA MENON / Folhapress