SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os brasileiros estão divididos acerca da necessidade de uma mulher substituir a ministra Rosa Weber, que se aposenta neste mês no STF (Supremo Tribunal Federal). Para 51%, é indiferente o sexo da pessoa a ser indicada pelo presidente Lula (PT), enquanto 47% dizem que seria importante manter o cargo com uma representante feminina.
Esta é a visão apontada por 2.016 pessoas com mais de 16 anos ouvidas pelo Datafolha nos dias 12 e 13 deste mês. O instituto fez a pesquisa, que tem margem de erro de dois pontos para mais ou menos, em 139 cidades.
A escolha de Lula se tornou um tema preponderante nos meios jurídicos, particularmente aqueles que se definem como progressistas. Há campanhas na internet para que o petista mantenha a vaga com uma mulher, dado que a corte tem hoje apenas 2 magistradas entre 11 integrantes.
Rosa vai encerrar por limite de idade (75 anos) seus 12 anos de Supremo, tendo sido indicada por Dilma Rousseff (PT), como presidente do tribunal. Lula já fez uma indicação ao Supremo neste terceiro mandato, levando o seu ex-advogado Cristiano Zanin à corte. Foi criticado à direita por isso e, depois, à esquerda, que ficou insatisfeita com votos considerados conservadores do ministro.
Na amostra populacional da pesquisa do Datafolha, que emula a composição do país, as mulheres são 52% e os homens, 48%. A pressão sobre Lula chegou até a Índia, onde ele foi recebido ao comparecer à cúpula do G20 por outdoors pedindo que a próxima indicada seja uma mulher negra.
No Judiciário como um todo, só 15% se declaram negros, segundo o Conselho Nacional de Justiça. Entre os entrevistados do Datafolha, 58% se dizem pardos ou pretos. Hoje o único negro na corte é o ministro Kassio Nunes Marques, que se autodeclara pardo. Antes dele, Joaquim Barbosa, que se aposentou em 2014.
Lula, contudo, tem resistido, apesar de ter na primeira-dama Janja uma ativista por uma mulher no lugar de Rosa. O presidente tem consultado ministros da corte, e até aqui só surgiram como nomes fortes na disputa homens, como os ministros Flávio Dino (Justiça) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), e o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas.
Mesmo no Executivo, o discurso da diversidade tem perdido o fôlego. Nas mudanças ministeriais até aqui, já deram espaço a homens 2 das 11 mulheres que compunham o gabinete com maior representação feminina até hoje (30%).
Segundo a pesquisa, os homens são mais indiferentes ao sexo da pessoa a ser escolhida. Para 53%, tanto faz, enquanto 44% acham que a opção deva ser por uma nova ministra. Já entre as mulheres, há um empate em 49% nas opiniões.
No geral, segmentos associados mais ao bolsonarismo são mais indiferentes. Na classe média que ganha de 5 a 10 salários mínimos, 57% acham que não importa o sexto e 40%, que a escolha deve recair sobre uma mulher. No Sul, a diferença é de 57% a 41%, mesmo índice entre evangélicos.
Já os eleitores declarados de Jair Bolsonaro (PL), que indicou dois homens à corte em seu governo, são ainda mais assertivos: 66% se dizem indiferentes, enquanto 31% preferem um nome feminino. Na mão contrária, o que está em consonância com o lobby por uma nova mulher na esquerda, 60% dos que votaram em Lula querem uma ministra, enquanto 38% dizem não se importar com seu sexo.
IGOR GIELOW / Folhapress