BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em missão no Brasil para negociar acordos entre o país e os Estados Unidos, principalmente em relação à Amazônia, o diretor da Nasa, Bill Nelson, revelou que o grande rival americano na corrida espacial para levar o homem de volta à Lua é a China.
Segundo o chefe da agência espacial, a previsão é que a Nasa envie uma missão tripulada à Lua no ano que vem, mais de 50 anos após as missões Apollo.
“Nós [EUA] vamos para a Lua ano que vem, pela primeira vez em meio século. E nos últimos dez anos, os chineses melhoraram muito [nesta área]. Eles são muito secretos, o programa espacial deles é basicamente militar -embora eles digam que não.”
Nelson critica a falta de transparência dos chineses, uma vez que os asiáticos não divulgam os detalhes de suas missões para o mundo, como fazem a Nasa e as demais agências espaciais na ativa, como a ESA (europeia), a Jaxa (do Japão), a CSA (do Canadá), a Isro (da Índia) e a dos Emirados Árabes Unidos.
“Eles [chineses] não são transparentes. Por exemplo: quando lançaram sua base espacial, seus foguetes não tinham combustível para fazer uma reentrada controlada [na atmosfera]. Então cada um dos três propulsores [que levavam as partes da base para o espaço] retornou ao planeta e eles não divulgaram as coordenadas de onde eles iriam cair”, disparou Nelson.
“Primeiro achamos que seria na Grécia, depois parecia que era na Arábia Saudita e, por sorte, no caso do segundo foguete, ele acabou caindo no Oceano Índico, não acertou ninguém. Mas em nenhum momento eles falavam sobre isso, são sempre muito secretos. Eles disseram que também estão indo para a Lua, então temos uma corrida espacial. A corrida espacial é com a China”, finalizou.
Apesar de outros países estarem investindo em missões fora do planeta, os americanos não os consideram adversários à altura para pousar na Lua.
A Índia, por exemplo, lançou a missão Chandrayaan-3 no dia 14 de julho e tem a expectativa que a nave chegue à Lua no fim de agosto para explorar o Polo Sul lunar, um local nunca visitado e que pode produzir dados científicos valiosos. No entanto, a missão será realizada por um rover, não por humanos.
Durante a Guerra Fria, a disputa dos EUA era com a então União Soviética, o que gerou as missões Apollo.
Até a Nasa enviar os primeiros humanos à Lua com a Apollo 11, em 1969, eram os soviéticos que estavam na dianteira, com a Luna 2, a primeira sonda a chegar à superfície lunar, em 1959; o Sputnik, o lançamento do primeiro satélite artificial, em 1957; e a Luna 9, a sonda que tirou a primeira foto da superfície do satélite, em 1966.
Com o fim da Guerra Fria, o poderio econômico da agora Rússia diminuiu na mesma proporção em que a da China aumentou. Desta forma, os chineses passaram a rivalizar diretamente com os americanos.
Desde então, os chineses já construíram sua própria estação espacial, a Tiangong (que significa Palácio Celestial) -após os Estados Unidos criarem empecilhos para a participação do país asiático na Estação Espacial Internacional (ISS)-, além de enviar sondas para explorar Lua e Marte.
E em 29 de maio deste ano, pela primeira vez, a agência chinesa anunciou o programa oficial para levar seus astronautas ao solo lunar antes de 2030. Antes disso, essa missão era tratada como uma hipótese e não tinha um prazo certo.
O programa envolverá um novo lançador capaz de transportar astronautas, o foguete Chang Zheng 10 (ou Longa Marcha 10), uma espaçonave de próxima geração (mais capaz que a tradicional Shenzhou), um módulo de pouso, trajes lunares e outros elementos do programa.
Outro plano da China é desenvolver uma Estação de Pesquisa Lunar Internacional, de início não tripulada, na década de 2030, o que certamente irá ampliar a capacidade de exploração ao longo dos anos.
Já a previsão da Nasa de voltar à Lua em 2025 paira no sucesso da missão Artemis 3. O programa americano, no entanto, depende do desenvolvimento bem-sucedido do Starship, veículo da SpaceX que foi escolhido para realizar os dois primeiros pousos.
JOÃO GABRIEL / Folhapress