À espera de moradia, alunos da USP vivem debaixo de arquibancada de estádio

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cinquenta e um calouros vivem no Cepe (Centro de Práticas Esportivas) da USP, em alojamentos sob a arquibancada do estádio de futebol. Eles aguardam por vagas no conjunto residencial da instituição, o Crusp, enquanto sofrem com pragas e problemas estruturais.

Os alojamentos foram abertos no fim de fevereiro. Naquele mês, começaram a ser divulgados alguns nomes elegíveis ao auxílio-moradia da universidade, dividido em dois tipos: parcial, de R$ 300 mensais e estadia no Crusp, e integral, R$ 800 mensais para custear aluguel enquanto aguarda por um quarto.

Logo, movimentos estudantis alertaram a reitoria de que haveria chamadas de aprovados nos vestibulares até março, alunos chegariam de vários pontos do país, se inscreveriam no programa assistencial e aguardariam sem ter onde dormir.

Por isso foi solicitada uma medida emergencial, e os alojamentos do Cepe foram abertos. “Todos os ali ingressantes assinaram um termo comprometendo-se a sair até 5 de abril, quando nova lista de beneficiados pelo auxílio-moradia foi divulgada”, afirma a reitoria.

Do grupo que está nos alojamentos, 35 alunos receberam o auxílio de R$ 800. Mas o valor, segundo os estudantes, é insuficiente para custear aluguel próximo à Cidade Universitária, no Butantã, zona oeste da capital. Por isso, todos permaneceram no local.

Oito calouros já ganharam vaga no Crusp, mas ainda não se mudaram. E outros oito estudantes tiveram seu pedido por suporte universitário negado por inadequação ao critério de baixa renda.

A USP afirma que os alunos têm até 17 de maio para deixar as dependências do Cepe, impreterivelmente.

Aperto, sujeira e pragas

Graduandos de todas as regiões do país ocupam quatro cômodos com janelas basculantes. Dois são exclusivos para os homens, e dois para as mulheres. Cada um deles tem nove beliches, ou seja, 18 vagas.

Malas jogadas, varais improvisados e alguns ventiladores, necessários em razão da calor intenso, compõem os cenários, também repletos de manchas, mofo, infiltrações e insetos de todos os tipos, atraídos por algum alimento armazenado sobre um móvel.

Os calouros não possuem cozinha naquele espaço. Eles comem nos bandejões, que funcionam de segunda a sábado. Aos domingos, juntam dinheiro para comprar algo.

“É difícil. As condições são degradantes”, relata Breno Antoniole, 18, estudante de ciências sociais. Natural de Araçatuba (SP), ele recebeu a reportagem na manhã de terça-feira (23). “Muitas pessoas ficam doentes aqui”, disse. O jovem é um dos que recebem o auxílio de R$ 800.

Os moradores têm acesso a dois vestiários, sujos e cheios de azulejos soltos. Não há divisórias entre as duchas.

Em 2019, os alojamentos do Cepe chegaram a ser fechados pelas condições precárias.

A estudante de jornalismo Sophia Vieira, 18, representante discente do Conselho de Inclusão e Pertencimento da USP, declara ser vexatório o tratamento da instituição a seus alunos. “Estamos falando da maior universidade da América Latina deixando gente viver na precariedade total”, diz.

O Crusp segue a mesma lógica. Lá, as condições estruturais e sanitárias são ruins, como já mostrou a Folha. Nos últimos meses, contudo, houve investimento em melhorias. O bloco D está sendo remodelado e cozinhas foram instaladas nos demais. Além disso, colchões novos foram distribuídos.

Mas tudo segue longe do ideal, desabafam os alunos. Em 2023 a USP investiu R$ 188 milhões em bolsas e auxílios diretos aos alunos. O orçamento da universidade foi de R$ 8,4 bilhões.

BRUNO LUCCA / Folhapress

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