‘A Fonte’, obra de arte com urinol, não é de Marcel Duchamp, diz historiador

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de mais de um século sendo considerada o ápice da arte do século 20, “A Fonte”, de Marcel Duchamp, agora vira alvo de polêmica que diz que a obra pode não ter sido produzida pelo artista, mas sim roubada de uma dadaísta alemã chamada Elsa von Freytag-Loringhoven.

Quem sugere o imbróglio é Glyn Thompson, que foi professor de história da arte na Universidade de Leeds, no Reino Unido, que afirma que “A Fonte” pode não ter sido ideia de Duchamp. Ele alega ter evidências de que o mictório foi erroneamente atribuído ao artista francês, que simplesmente entrou na brincadeira.

“A Fonte” é incensada há décadas pelos amantes e estudiosos das artes plásticas. Uma réplica se encontra em exibição na Tate Modern, em Londres.

O objeto é parte da famosa coleção de objetos comuns transformados em arte por Marcel Duchamp. Duchamp, considerado o pai da arte conceitual, enviou o mictório original para uma importante exposição em Nova York em 1917, o que provocou um acalorado debate sobre a definição de arte.

A assinatura “R. Mutt” seria uma referência irônica ao fabricante de encanamentos “Mott Works” e aos populares personagens de desenhos animados “Mutt e Jeff”.

Mas, se para alguns Duchamp é o pai da chamada “arte das ideias”, para outros, ele é um charlatão responsável pelo declínio da arte tradicional.

Glyn Thompson, pai da polêmica atual, identificou a caligrafia da artista Elsa von Freytag-Loringhoven no mictório, e agora tenta provar que Duchamp não poderia ter comprado seu mictório em uma loja de encanamento em Nova York, como ele havia afirmado, porque era um modelo único da Filadélfia. A cidade nunca foi visitada por Duchamp, mas era base de Von Freytag-Loringhoven na época.

Thompson identificou o modelo real de urinol apresentado por Von Freytag-Loringhoven na exposição da Sociedade de Artistas Independentes em 1917 em Nova York, embora ele não tenha sido exibido e sobreviva apenas em uma fotografia de Alfred Stieglitz. O professor encontrou também os únicos dois exemplos sobreviventes do mesmo fabricante e modelo.

A evidência desafia a afirmação de Duchamp em 1966 de ter obtido seu mictório na J L Mott Iron Works em Manhattan, explicando sua suposta assinatura em forma de trocadilho “R Mutt”.

“Mutt vem de Mott Works, o nome de um grande fabricante de equipamentos sanitários”, ele disse uma vez. “Mas Mott era muito próximo, então eu alterei para Mutt, em referência à tira de quadrinhos diária ‘Mutt and Jeff’, com a qual todos estavam familiarizados.”

Thompson alega que a empresa não fabricava esse modelo específico nem o vendia ao público em geral. “O pseudônimo Mutt não poderia ter vindo do nome Mott”, afirma. O professor diz que “R Mutt”, reproduzido no mictório pela mão de Von Freytag-Loringhoven, que morreu na pobreza em Paris em 1927, era um trocadilho com a palavra alemã para empobrecimento, “armut”.

“Isso muda a história da arte e tem grandes implicações para o mercado de arte contemporânea e os milhões que foram investidos nele”, afirma Julian Spalding, ex-diretor de galerias de arte em Sheffield, Manchester e Glasgow.

Ele incluirá a pesquisa de Thompson em seu próximo livro, “Art Exposed”, a ser publicado pela Pallas Athene Books no Reino Unido em novembro. “Essa evidência desmente completamente a autoria de Duchamp do mictório”, diz.

“Isso significa que toda a base da arte conceitual desmorona. Uma obra de arte não é uma obra de arte apenas porque alguém diz que é.”

Redação / Folhapress

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