‘A gente quer paz’, diz brasileiro repatriado que perdeu amigos em Israel

RIO DE JANEIRO,Rj (FOLHAPRESS) – “Vamos tentar ver como a gente pode ser feliz, sem guerra, sem todos esses conflitos. Isso não faz bem para nenhum de nós. A gente quer ter paz. Quer ter saúde”. Foi com essa declaração, em tom de desabafo, que o estudante Pedro Terpins, 23, desembarcou no Rio de Janeiro na manhã deste sábado (21).

Ele era um dos passageiros de mais um voo da FAB (Força Aérea Brasileira) que trouxe para o Brasil cidadãos que estavam em Israel, país em guerra com o grupo terrorista Hamas desde o último dia 7.

A aeronave KC-390 Millennium pousou às 10h48 na base aérea do aeroporto internacional do Galeão, na zona norte da capital fluminense. Terpins mora em Tel Aviv e resolveu vir ao Brasil em busca de mais segurança. Depois de chegar ao Rio, ele voaria a São Paulo para encontrar familiares.

Com os olhos marejados, ele contou a jornalistas que perdeu três amigos nos atentados realizados pelo Hamas em Israel. “Estava com muito medo do que estava acontecendo. Ver tudo é bem difícil”, disse.

“Tem três pessoas que sei [que morreram] e mais pessoas que não sei se estão em Gaza ou se estão mortas”, acrescentou o estudante.

O voo que chegou ao Rio decolou de Tel Aviv na sexta (20) com 69 passageiros. Segundo a FAB, dois desembarcaram no Recife antes da chegada ao Sudeste. Os outros 67 seguiram até o Galeão. A aeronave também transportou nove pets.

Logo após o pouso no Rio, os passageiros e a tripulação tiraram fotos em frente ao avião, ainda na pista. O grupo carregava bandeiras do Brasil, de Israel e da Bolívia.

Na sexta, o Ministério das Relações Exteriores disse em nota que a lista de passageiros incluía três bolivianas, em atendimento a uma solicitação do governo do país sul-americano.

Conforme a pasta, o embarque delas foi permitido após ser constatado o não comparecimento de brasileiros. Neste sábado, a FAB confirmou à Folha a presença das bolivianas na aeronave.

Quem também desembarcou no Brasil foi o mineiro Renato Abreu, 33. Ele mora na cidade de Ashkelon, no sul de Israel, próximo à Faixa de Gaza, e perdeu uma amiga nos ataques terroristas do Hamas.

“A cidade entrou em lockdown, nada funciona, escolas, setor público, empresas”, diz. “Fomos surpreendidos por sirenes que começaram a tocar, achamos que era um ataque vindo de Gaza, mas rotineiro.”

O brasileiro mora no Oriente Médio com um irmão, que buscou refúgio em Londres depois do início da guerra. “Resolvi voltar para o Brasil para me sentir mais seguro aqui. Deixei meu tio e meu primo, que está no Exército”, disse.

Abreu iria para Belo Horizonte após desembarcar no Rio. Ao conversar com jornalistas, não escondeu a emoção. Em pelo menos um momento, diminuiu a velocidade da fala e ficou com os olhos marejados. “Fiquei muito emocionado na saída [do avião].”

O mineiro ainda afirmou que Israel é um país aberto a outros povos e disse que mantém boa convivência com palestinos, procurando isentá-los das ações terroristas praticadas pelo Hamas. “Eles não têm nada a ver com esse conflito, quero deixar claro. Sou testemunha da boa convivência. São trabalhadores, estão nas cafeterias, nas fábricas, nas indústrias”, afirmou.

NÚMERO DE REPATRIADOS VAI A 1.204

A aeronave que pousou no Rio neste sábado integrou a operação Voltando em Paz, do governo federal, que visa repatriar brasileiros em meio ao conflito.

De acordo com a FAB, um total de 1.204 passageiros e 44 pets foram resgatados em sete voos que já conseguiram regressar ao Brasil.

Outra aeronave está no Cairo, no Egito, onde aguarda autorização para resgatar brasileiros que estão na Faixa de Gaza. Até o momento, não há previsão de pouso no Brasil.

Ainda há um avião parado em Roma, na Itália. De lá, a aeronave deve voar para Tel Aviv. A previsão de retorno para o Brasil é segunda-feira (23), segundo a FAB.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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