SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Abel Galindo, professor de engenharia civil na UFAL (Universidade Federal de Alagoas), foi o primeiro profissional a alertar sobre possibilidade de desabamento de uma das minas escavadas pela Braskem para extrair sal-gema em Maceió. Falava do assunto desde 2010. Sua previsão concretizou-se neste domingo (10).
No início da tarde, a mina número 18 cedeu, informou a prefeitura da cidade. Ainda não há detalhes sobre a dimensão dos danos. “A novela terminou, e foi como eu disse. Parabéns aos envolvidos”, declara Galindo à Folha.
O especialista sustenta uma teoria para o ocorrido. Ele explica que a distância entre as cavernas exploradas pela Braskem deveria ser de 100 metros. Isso, afirma, não foi observado. Com a aproximação entre furnas, elas corriam risco de fundição. Esta, se concretizada, deixaria as rochas daquela área –instáveis por sua morfologia– “moles”.
A mina 18 fica sob a lagoa Mundaú. “Agora, ela deve ser só um amontoado de rochas e água”, avalia Galindo. Para ele, um estudo amplo deve ser conduzido com urgência a fim de medir os impactos na região.
Todos os grupos que acompanhavam aquela mina perderem seus equipamentos após o desabamento. Equipes, apoiadas pelo poder público, devem realizador voos sobre o local no início deste semana. Expedições a barco também são planejadas.
Renato Lima, docente de geologia na USP (Universidade de São Paulo), diz haver perigo de maior impacto no sistema natural ao longo dos próximos meses. “Com a infiltração de água na mina, pode haver saída de fluidos estranhos ao sistema, como salmouras em várias concentrações.”
Isso, diz ele, deve afetar toda organização biológica e paisagem do espaço.
RELEMBRE O CASO
Os primeiros relatos sobre os danos no solo em Maceió surgiram em meio de tremores de terra no dia 3 de março de 2018. Na ocasião, o abalo fez ceder trechos de asfalto e causou rachaduras no piso e paredes de imóveis, atingindo cerca de 14,5 mil casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais. Outros bairros, como Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto e Farol também foram atingidos.
Ao todo, cerca de 20% do território da capital alagoana foi afetado, e cerca de 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. Muitos animais também foram abandonados.
Após o tremor de março de 2018, rua de Maceió apresenta grande rachadura, o que colocou em risco também os imóveis dos bairros afetados.
Em 2019, o Serviço Geológico do Brasil, órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia, concluiu que as atividades de mineração da Braskem em uma área de falha geológica causaram o problema.
Na época, a mineradora tinha em área urbana 35 poços de extração de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica. Os poços estavam pressurizados e vedados, porém a instabilidade das crateras causou danos ao solo, que foram visíveis na superfície.
A exploração do minério começou em 1979 e se manteve até maio de 2019, quando foi suspensa pela Braskem um dia após a divulgação do laudo pelo Serviço Geológico.
BRUNO LUCCA / Folhapress