SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Intensidade. Esta é a palavra que move a trama de “A Vida pela Frente”, série que captura a adolescência do fim dos anos 1990 e chega nesta semana ao Globoplay. Mas esqueça a afetação que beira a fantasia de “Euphoria”. Esta espécie de versão brasileira é calcada na realidade.
Afinal, foi da juventude das criadoras Leandra Leal, Rita Toledo e Carol Benjamin, amigas de infância, que surgiu a ideia para a série, inspirada em diversas passagens, sentimentos e descobertas que elas compartilharam ou ao menos testemunharam enquanto cresciam.
Em gestação por cerca de uma década, o projeto chega ao público num cenário propício, em meio à alta demanda do streaming por conteúdo original, o interesse pela cultura noventista e a normalização dos sets de filmagem após a pandemia. No fim, a demora foi boa.
“As coisas aconteceram no tempo em que tinham que acontecer. O tempo foi importante para amadurecermos a ideia e amadurecermos enquanto pessoas”, diz Leandra, que em 2015, quando começou a rascunhar a trama, ainda não tinha se aventurado pela direção. Agora, se sentiu pronta para assumir a função junto com Bruno Safadi.
“A Vida pela Frente” acompanha um sexteto adolescente às vésperas do bug do milênio. Quando Liz, estudante do ensino médio, se muda para uma escola de elite do Rio de Janeiro, é absorvida por um grupo de amigos bastante heterogêneo, embora unido.
Mas é de Beta e Cadé que ela se torna mais próxima. Os três vivem uma amizade passional, até uma tragédia se abater sobre o sexteto. A trama, então, adota um vai e vem temporal, costurando o antes e o depois com debates sobre sexualidade, uso de drogas, saúde mental, luto e responsabilidade afetiva.
Diante da lista, no entanto, é fácil voltar a “Euphoria”. De certa forma, “A Vida pela Frente” tem seus pontos de encontro com o sucesso da HBO estrelado por Zendaya ao mostrar uma juventude que vive uma rotina cheia de abusos, como se o amanhã -ou o milênio seguinte- nunca viesse.
São temas presentes em boa parte das séries adolescentes que lotaram o streaming nos últimos anos. De “Elite”, por exemplo, a trama nacional pega emprestado o clima de investigação policial, e de “Eu Nunca”, os grupinhos e casinhos típicos dessa fase.
E, claro, é impossível falar de adolescência sem a referência máxima do assunto no Brasil, “Malhação”. Como nela, é interessante ver a troca de um elenco jovem desconhecido com um veterano, que inclui, além da própria Leandra e de sua mãe, Ângela Leal, de novelas como a primeira “Pantanal”, Rodrigo Pandolfo e Ângelo Antônio.
Essas não foram referências diretas, no entanto, diz Leandra, que encontrou na morte prematura do pai o espaço necessário para discutir luto durante a juventude. Gravações em VHS dela e de outros membros da equipe também serviram de inspiração -os episódios, aliás, são entrecortados por cenas de filmagens que recuperam a estética noventista.
Leandra vê com otimismo a força com a qual esses temas espinhosos e a adolescência, para a qual muitos não têm um olhar tão generoso, vêm tomando o entretenimento. Ela destaca ainda o cuidado necessário para discuti-los, citando “13 Reasons Why” e sua abordagem grosseira para a saúde mental como um “não-exemplo”.
“São temas muito difíceis, mas que precisam de espaço. Ainda são tabus ou são tratados com equívoco, pelo próprio audiovisual, então foi preciso um olhar empático e responsável. Tivemos muita escuta em relação ao elenco jovem, que tinha acabado de passar pela adolescência”, afirma, emendando que uma psicanalista os acompanhou da pré à pós-produção, num processo que, apesar da intensidade e seriedade da trama, foi leve.
A VIDA PELA FRENTE
Quando Estreia nesta quinta (22), no Globoplay
Classificação Não informada
Elenco Nina Tomsic, Flora Camolese e Jaffar Bambirra
Produção Brasil, 2023
Criação Leandra Leal, Rita Toledo e Carol Benjamin
LEONARDO SANCHEZ / Folhapress