FOLHAPRESS – O filme “A Viúva Clicquot: A Mulher que Formou um Império”, que estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas, conta a história de Barbe-Nicole Clicquot-Ponsardin. Mais conhecida pela maison que leva o seu nome, Veuve Clicquot, Barbe-Nicole foi peça fundamental na criação do estilo dos champanhes como os conhecemos hoje. O vinho, contudo, é apenas pano de fundo para o drama vivido pela jovem viúva, interpretada pela talentosa Haley Bennett, no filme do diretor Thomas Napper.
Um belíssimo pano de fundo, é verdade. Filmado na maior parte no Château Beru, um produtor de vinhos biodinâmicos de Chablis, região muito próxima de Champagne, o longa tem várias cenas externas. A fotografia de Caroline Champetier usa e abusa da beleza dos vinhedos. Nas cenas internas, o figurino e a cenografia também impecáveis mantêm o padrão estético.
A história segue duas narrativas paralelas: uma retrata o período em que Barbe-Nicole viveu com o marido, François Clicquot Tom Sturridge, e outra, os acontecimentos após a morte de François. O filme não tem patrocínio da LVMH, grupo ao qual a Veuve Clicquot pertence hoje. Não tem o compromisso de ser uma biografia.
Apesar de se dizer baseado no livro “A Viúva Clicquot”, de Tilar J. Mazzeo, publicado no Brasil pela Rocco, o filme trata apenas de um curto período da vida de Barbe-Nicole e traz uma versão romanceada da história, que se passa na virada do século 18 para o 19.
O roteiro, por exemplo, cria uma versão para a morte de François que não é comprovada. Mostra uma paixão entre Barbe-Nicole e o marido que tampouco se baseia em documentos históricos. E esmiúça o sofrimento decorrente da morte prematura do jovem monsieur Clicquot. Sentimentos universais.
Nesse romance, fatos importantes para a biografia de Barbe-Nicole passam quase despercebidos por aqueles que não são aficionados por vinho. A viúva foi responsável, por exemplo, pelo desenvolvimento da técnica conhecida como “remuage”. Isso aparece, mas não é explicado de forma didática para o espectador leigo no mundo dos vinhos.
Os champanhes, como a maioria dos espumantes, passam por duas fermentações. Na primeira, o mosto da uva é transformado em vinho e, na segunda, há a captura do gás carbônico, responsável tanto pela “perlage” (borbulhas) quanto pela espuma.
A segunda fermentação, em Champagne, acontece na garrafa lacrada. Ao ser fechado, além do vinho base, o recipiente recebe também uma mistura de leveduras e açúcar, que provocam uma nova fermentação. Antes da viúva Clicquot, as borras dessas leveduras permaneciam nas garrafas que iam para o mercado, o que resultava num líquido mais turvo, como os espumantes sur lie, hoje tão na moda.
Esse líquido turvo, com aromas e sensação de boca menos limpos, estava longe de ser um produto de luxo. Na época, por sinal, acreditava-se que a vocação de Champagne era produzir vinhos tintos.
Até que Barbe-Nicole desenvolveu essa técnica de “remuage”: acabada a segunda fermentação, as garrafas são inclinadas, com o gargalo para baixo, de modo que as borras escorreguem lentamente para a boca. Por fim, o gargalo é congelado, a tampa removida, as borras saem, se completa o líquido da garrafa, fecha com a rolha e a gaiola e, voilá, o champanhe está pronto. Um líquido cristalino com bolhas finas, que virou sinônimo de luxo.
Paralelamente, às duas narrativas principais, corre uma terceira, de fundo, que trata da história da França e das guerras napoleônicas. Essas guerras certamente não ajudavam nos negócios. Barbe-Nicole ficou viúva em 1805, aos 27 anos, herdando os vinhedos que o marido administrava. Poucos anos depois, Napoleão tentou invadir a Rússia, um dos principais mercados consumidores de vinho na época.
O filme fala muito sobre a luta dessa mulher por respeito. Contra a vontade do sogro, que queria vender os vinhedos para um vizinho de sobrenome Möet, quando perdeu o marido, a jovem viúva decidiu tocar a vinícola. Encontrou resistência por todos os lados. Ainda assim, foi bem-sucedida. Isso não é spoiler. Essa parte da história é muito fácil de prever.
O filme vale a pena, mas tem um final meio repentino, com muita coisa não resolvida, que deixa uma sensação de “continua na próxima temporada”.
A Viúva Clicquot
Avaliação Muito bom
Quando Estreia nesta quinta (22) nos cinemas
Classificação 14 anos
Elenco Haley Bennett, Ben Miles, Leo Suter
Produção França, Estados Unidos, 2024
Direção Thomas Napper
TÂNIA NOGUEIRA / Folhapress