RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Bruno Henrique viveu uma terça-feira (5) intensa. Acordado pelos agentes da Polícia Federal por volta das 6h, o jogador seguiu a rotina no Flamengo e conversou com a diretoria e o técnico Filipe Luís para se colocar à disposição do jogo com o Cruzeiro nesta quarta-feira (6). Abatido e cabisbaixo, o jogador se manteve em silêncio até o momento.
COMO FOI O DIA DE BH
Bruno Henrique chegou ao Ninho do Urubu por volta das 9h. Ele foi um dos primeiros a se apresentar, como de costume.
O atacante estava mais cabisbaixo e chateado. Ele ficou abalado pela maneira como o mandado de busca e apreensão foi executado. Vários agentes da Polícia Federal chegaram à casa do jogador e acabaram assustando os filhos do atleta, que choraram. Ele entregou o celular pessoal com a senha de acesso. A esposa de Bruno não precisou dar o aparelho dela.
Bruno Henrique teve uma conversa com membros da diretoria para falar sobre o episódio. Ele aparentou tranquilidade e afirmou que não levou o cartão de propósito. Depois, treinou normalmente ao lado dos companheiros para o jogo contra o Cruzeiro.
O técnico Filipe Luís também conversou com o atacante. Primeiro, ele teve um papo com Marcos Braz para alinhar o que fazer sobre a situação e depois com o jogador. O objetivo também era saber como o camisa 27 estava emocionalmente, inclusive pensando na partida pelo Brasileirão.
Bruno sempre se colocou à disposição para jogar. A decisão ficou nas mãos do Flamengo, que optou por dar respaldo ao jogador enquanto a investigação ainda está em curso.
Ainda de manhã, a PF também esteve no Ninho. Com apenas seguranças no local, eles queriam entrar no quarto onde Bruno Henrique fica. Cada atleta tem seu próprio local para descanso dentro do CT e lá podem ou não deixar objetos pessoais. Sem a senha, os agentes tiveram de entrar em contato com o jogador e o Flamengo para acessar o local. Depois, seguiram normalmente com o trabalho, mas não levaram nada.
Bruno Henrique é um dos jogadores mais queridos dentro do Flamengo. Considerado um dos líderes do grupo, ele é bastante próximo de outros atletas, que naturalmente sentiram a situação. O clube garante que fará de tudo para o caso não afetar a equipe em uma semana de decisão.
Nós tínhamos uma programação do treino de manhã. Após isso, a viagem para Minas Gerais. Quando ele chegou no CT, eu conversei com ele pessoalmente junto com mais uma pessoa, e perguntamos sobre como ele estará para o jogo. Conversei com o Filipe Luis. Ele treinou normalmente e seguiu as suas atividades. Ele, a todo momento, estava muito tranquilo, dizendo que não teria absolutamente nada com isso, que ele também teria o maior interesse de entender o que aconteceu e, claro, estará pronto para justificar a situação em que terá de dar explicações daqui para frente.Marcos Braz
INVESTIGAÇÃO
Um mandado foi cumprido na sede de empresa em que Bruno Henrique é sócio. A reportagem apurou que os agentes estiveram na BH27 Oficial Ltda, empresa cujo nome é formado pelas iniciais do jogador e pelo número que ele usa no Flamengo, e na DR3 – Consultoria Esportiva Ltda.
Mais de 50 policiais federais e seis membros do Gaeco/DF cumpriram 12 mandados de busca e apreensão. Os nomes dos alvos não foram divulgados, mas o UOL apurou que Bruno Henrique é um deles.
Mandados foram expedidos pela Justiça do Distrito Federal. A operação da PF ocorreu nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vespasiano (MG), Lagoa Santa (MG) e Ribeirão das Neves (MG).
A investigação começou a partir de comunicação realizada pela CBF. “De acordo com relatórios da International Betting Integrity Association (IBIA) e Sportradar, que fazem análise de risco, haveria suspeitas de manipulação do mercado de cartões na partida do Campeonato Brasileiro”, informou a PF, em nota.
No decorrer da investigação, os dados obtidos junto às casas de apostas, por intermédio dos representantes legais indicados pela Secretaria de Prêmios de Apostas do Ministério da Fazenda (SPA/MF), apontaram que as apostas teriam sido efetuadas por parentes do jogador e por outro grupo ainda sob apuração. “Trata-se, em tese, de crime contra a incerteza do resultado esportivo, que encontra a conduta tipificada na Lei Geral do Esporte, com pena de dois a seis anos de reclusão”, diz o MPRJ.
PARTIDA INVESTIGADA
O UOL apurou que o jogo sob suspeita foi Flamengo 1 x 2 Santos, disputado no Mané Garrincha, em Brasília, em 1ª novembro de 2023. O jogo foi válido pela 31ª rodada da última edição do Campeonato Brasileiro.
Bruno Henrique levou cartão amarelo e vermelho após cometer falta e confrontar o árbitro aos 52 minutos do 2º tempo. Ele primeiro atingiu Soteldo em jogada perto do escanteio e depois discutiu com o árbitro Rafael Klein. O jogador estava pendurado e acabou suspenso por duas partidas pelo terceiro amarelo e o vermelho.
O árbitro relatou na súmula que Bruno Henrique o ofendeu: “Você é um merda”. Na ocasião, Klein escreveu que expulsou o jogador após o xingamento.
Informo que expulsei por me ofender com as seguintes palavras: ‘você é um merda’, com o dedo em direção ao meu rosto, após a marcação de uma falta e também após ter sido advertido com cartão amarelo. Rafael Klein, na súmula do jogo
LUIZA SÁ / Folhapress