SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Com futuro incerto no Palmeiras, o técnico Abel Ferreira citou, em entrevista coletiva pós-título do Campeonato Brasileiro, as duas coisas que mais o chatearam nos últimos três anos.
AS MÁGOAS DE ABEL
O primeiro desabafo tem a ver com xenofobia. Ele disse que foi “ofendido por pessoas que têm muita responsabilidade no futebol brasileiro” e citou a palavra “colonizador”, relacionando a história entre Brasil e Portugal.
“As pessoas não me conhecem como homem, só como treinador. Me chamaram de colonizador e isso me magoou muito. Ninguém me conhece e nem eu tenho culpa do que meus antepassados fizeram aqui. Não foi só uma vez, foram várias vezes por vários comentaristas, jornalistas e entidades do futebol brasileiro. Isso foi a mim e minha comissão”, disse Abel.
Na mesma resposta, ele falou sobre o “rótulo” de que não gosta de usar jogadores das categorias de base. Para o português, apostar em jovens é algo que sempre fez parte de sua carreira.
“É uma das coisas que tentaram criar rótulo de que o treinador do Palmeiras não gostava da base, isso me magoou muito. Se há uma coisa que este treinador faz, é apostar nos jovens. Gostam muito de criar rótulos: há um vilão e herói. No futebol, o jogador que faz o gol é tão importante quanto o que roubou a bola atrás. Vejo o futebol como ‘todos somos um'”, afirmou.
AS ALEGRIAS DE ABEL
O treinador citou também as coisas mais positivas que viveu nas últimas três temporadas.
Clube, cor e confiança. “A parte mais mágica foi vir para o clube certo na hora certa. Aqui, aprendi a amar. O Palmeiras tem uma cor que particularmente gosto, que é o verde. Acima de tudo, é poder compartilhar momentos da alegria com meus jogadores, são eles que me fazem ganhar. Eles puseram a alma deles na minha mão, mas acho que, de certa forma, os conduzi bem nos bons e maus momentos.”
Peculiaridades do futebol local. “A competitividade do futebol brasileiro é muito grande. A incerteza é a única constante da vida, e foi assim neste campeonato também. Há treinadores que pensam diferente, jogam de formas diferentes… Nunca pensei que teria que fazer um plano estratégico tendo em conta condições do gramado, clima… Na Europa, nunca pensei em alterar a estratégia em função da temperatura.”
Ambiente alviverde. “Sou muito melhor treinador nesta quinta-feira (7) em relação a quando cheguei. Para quem acha que não, já era bom antes, mas sou muito melhor agora por todas essas experiências. Estes anos têm sido muito bons para todos. É perfeitamente normal que outros clubes procurem nossos jogadores, de fato, o que eles têm feito é absurdo. Construímos um elenco curto, equilibrado e que há todos os jogadores satisfeitos. Não há azias ou confusões.”
O FUTURO DE ABEL
O português tem contrato com o Palmeiras até o final de 2024, mas vive cenário incerto para o ano que vem. Em meio às férias, ele precisará decidir se fica no Brasil ou deixa o país rumo ao futebol do Oriente Médio.
O tema foi debatido após o título brasileiro pela presidente Leila Pereira, que afirmou que ainda não conversou com o treinador. Uma reunião nesta sexta-feira (8), no entanto, pode sinalizar uma decisão.
O próprio Abel foi questionado na entrevista e despistou: de um lado, falou que “contrato é para ser cumprido”; de outro, revelou “cansaço” e possível “falta de energia” para comandar o elenco no ano que vem.
BRUNO MADRID / Folhapress