RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Pelo menos duas instituições ligadas a acadêmicos saíram em defesa da trajetória e do currículo do economista Marcio Pochmann, indicado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A escolha do nome, confirmada na quarta-feira (26), gerou críticas de uma ala de economistas e pesquisadores que considera que Pochmann teria um perfil intervencionista demais para comandar o órgão de pesquisas.
Uma das instituições que saíram em defesa dele foi a FCE (Faculdade de Ciências Econômicas) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), onde o indicado para o IBGE se formou em 1984.
Em nota, diretores e ex-diretores da faculdade afirmaram nesta quinta (27) que a trajetória acadêmica e profissional de Pochmann “é amplamente reconhecida”.
“Reconhecemos nele um profissional competente, cujos serviços prestados à academia e à gestão pública merecem o nosso mais elevado respeito. Desejamos a ele sorte e sucesso em todas as suas atividades profissionais”, declarou a instituição.
O comunicado ainda defende a retomada do que classifica como “ambiente mais civilizado no debate público, onde as pessoas sejam avaliadas pelo que são capazes de contribuir para com a sociedade, independentemente de suas posições ideológicas e políticas, sempre que estas se encontrem nos marcos da legalidade e da democracia”.
A manifestação se soma a uma nota publicada na terça (25) pela Abet (Associação Brasileira de Estudos do Trabalho). No comunicado, a entidade fala em “investidas de jornalistas” que teriam colocado “irresponsavelmente” em xeque a conduta e a trajetória profissional de Pochmann.
Na visão da Abet, a avaliação sobre uma suposta atuação tendenciosa do economista no comando do IBGE carece de base técnica e de evidências empíricas.
“Marcio Pochmann é professor e pesquisador da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas], instituição internacionalmente renomada pela produção acadêmica de excelência, na qual atua promovendo a formação de gerações de profissionais do Brasil e de outros países”, afirma a associação.
Os críticos da escolha do economista do PT contestam a passagem dele pela presidência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de 2007 a 2012.
A gestão de Pochmann teve registros de polêmicas, com acusações de aparelhamento político à época. A ala contrária à indicação também chegou a recuperar postagens do economista no Twitter com críticas à criação do sistema de pagamentos eletrônicos Pix, por exemplo.
O IBGE é visto como a principal fonte de dados oficiais sobre o Brasil e os brasileiros. Suas pesquisas revelam indicadores em diferentes áreas, como economia, demografia, saúde e educação.
As estatísticas podem servir como subsídios para a elaboração e o ajuste de políticas públicas. Por isso, a independência do IBGE em relação a governantes é considerada fundamental.
A ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) afirmou nesta quinta que será aceito “qualquer nome” definido por Lula para o comando do instituto.
A indicação de Pochmann ocorre em meio à divulgação dos resultados do Censo Demográfico, a principal pesquisa do IBGE.
Desde o início de janeiro, o órgão vem sendo comandado por Cimar Azeredo, que assumiu a presidência de maneira interina após a exoneração do economista Eduardo Rios Neto.
A contagem do Censo, referente a 2022, foi marcada por uma série de atrasos em meio à pandemia e à restrição de verba no governo Jair Bolsonaro (PL).
A Assibge, entidade sindical que representa os servidores do IBGE, disse nesta quinta que defende eleições para a presidência do órgão e que pautará essa demanda junto ao novo presidente da instituição.
“A situação pela qual passa o instituto atualmente exige do governo uma atenção que vai além da escolha de um nome para sua presidência”, afirmou a Assibge.
“É preciso um projeto estratégico de fortalecimento institucional, que deve envolver necessariamente garantias de autonomia técnica e democratização do modelo de gestão. Há os exemplos da Fiocruz e das universidades, mas pode-se formular um modelo próprio para o IBGE”, afirmou.
LEONARDO VIECELI / Folhapress