SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira (29) que acha difícil haver calmaria na autarquia em relação a pressões do governo sobre os juros.
A fala aconteceu após o economista ser questionado sobre a proximidade de Gabriel Galípolo, indicado para comandar o BC, da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eu lembro que, quando eu estava fazendo a transição do Banco Central com o Ilan [Goldfajn, ex-presidente do BC], eu dizia: ‘parece que o cenário está bastante calmo e parece muito boa essa calmaria, porque eu vou ter tempo de desenvolver uma agenda de tecnologia’. E ele falou para mim: ‘Roberto, não tem calmaria no Banco Central’. Então, eu acho que calmaria é difícil”, disse durante o evento CNN Talks, em São Paulo.
Campos Neto ponderou, porém, que a institucionalidade está melhorando, o que deve distanciar cada vez mais o trabalho da autoridade monetária das críticas políticas. “Com amadurecimento institucional, o presidente do Banco Central será menos visto e menos falado”, afirmou.
O atual presidente do BC fez um breve retrospecto de sua gestão, que se encerra no fim deste ano, e, ao elencar alguns avanços, como a transparência nas comunicações e a digitalização do sistema financeiro, colocou essas evoluções na conta de toda a equipe do Banco Central.
Campos Neto voltou a demonstrar preocupação com a influência do mercado de trabalho forte, com quedas na taxa de desemprego e alta da massa salarial, sobre a inflação de serviços no mundo todo. Ele analisou que, enquanto há desinflação na parte de bens, a inflação de serviços atingiu patamar muito acima dos históricos.
Em relação ao Brasil, ele lembrou que, diferentemente do restante do mundo, há expectativas de volta do ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic.
O presidente do BC chamou atenção da importância da convergência da política fiscal e monetário, e afirmou que as preocupações dos agentes financeiros em relação às contas públicas têm influenciado as projeções para a inflação e, consequentemente, as taxas dos contratos de juros futuros.
Campos Neto voltou a mencionar a desancoragem das expectativas de inflação, ou seja, o distanciamento das projeções em relação à meta, hoje estabelecida em 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Ele reconheceu, porém, que o governo tem se esforçado para organizar a parte fiscal do país, embora essa seja uma tarefa sabidamente muito difícil no Brasil hoje.
“Eu acho que isso está no preço há algum tempo”, afirmou.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress