SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu muito próximo da estabilidade nesta segunda-feira (28), com os investidores avaliando os resultados das eleições municipais, realizadas nesse domingo (27), e esperando o pleito nos Estados Unidos, que será na próxima semana.
Às 9h05, o dólar tinha uma variação para baixo de 0,01%, cotado a R$ 5,7059. Na sexta-feira (25), o dólar fechou em alta firme de 0,76%, cotado a R$ 5,705, e a Bolsa teve queda de 0,13%, aos 129.893 pontos.
A semana passada terminou com a retomada de preocupações de investidores com a cena fiscal brasileira e por pressões vindas dos Estados Unidos, com a proximidade das eleições presidenciais pautando os mercados globais.
Da ponta doméstica, os agentes financeiros seguem receosos quanto às promessas do governo federal de cumprimento do arcabouço fiscal e de controle da dívida pública, mesmo após falas de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Roberto Campos Neto, presidente do BC (Banco Central), endereçarem temores do mercado.
Em evento do G20, Haddad afirmou que não irá reformular o regramento fiscal, mas, se houver “necessidade de reforçar parâmetros para que ele se sustente, esse é o caminho que trilharemos”.
Já Campos Neto acenou ao pacote de medidas anunciado pela ala econômica. Os planos são de corte de gastos e serão, em tese, detalhados em breve. O prazo posto pelo governo datava a partir do segundo turno das eleições municipais.
“Sobre os prêmios de risco, vimos uma alta nas taxas de longo prazo e nas implícitas. Acreditamos que haverá anúncios de medidas para endereçar, ao menos de modo parcial, a reação dos mercados e a situação fiscal”, disse o presidente do BC, classificando como “exagerados” os preços do mercado nos últimos dias.
À espera de ações concretas para redução de despesas, o mercado tem demonstrado cautela, protegendo-se no dólar e exigindo mais prêmios na renda fixa. “Até que medidas concretas de contingenciamento sejam implementadas, é improvável que o dólar receba suporte definitivo do cenário local”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Os investidores também seguem atentos à trajetória da taxa básica de juros do país, a Selic. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC irá se reunir na semana que vem, entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre o patamar da taxa.
O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano. Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.
Considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções de 0,51%, e levou o acumulado de 12 meses a acelerar para 4,47%. A taxa era de 4,12% no mês anterior.
A meta do Copom é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura atual, o IPCA-15 está bem próximo ao teto da meta, de 4,50%.
Com o dado próximo ao teto da meta, a expectativa do mercado é que os juros subam em 0,50 ponto percentual na semana que vem.
As curvas de juros futuros ainda têm subido por causa das pressões fiscais, indicando pessimismo do mercado em relação à trajetória das contas públicas um dos focos de pressão inflacionária.
Já da ponta internacional, as eleições presidenciais dos Estados Unidos são destaque para os mercados globais. No próximo 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida assim como a agenda econômica que irá pautar os EUA pelos próximos quatro anos.
Apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição aumentaram de forma significativa nos últimos dias na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.
As chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 66%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 34%.
A possibilidade de uma vitória do candidato republicano tem feito o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.
As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo algo positivo para o dólar.
As projeções para as eleições presidenciais se somaram às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que também se reúne nos dias 5 e 6 de novembro para decidir sobre os juros americanos.
Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia norte-americana mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.
A redução de 0,25 ponto percentual agora tem 96,1% de probabilidade na ferramenta Fed Watch, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reúne os 3,9% restantes.
Juros altos por mais tempo no país elevam os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que torna o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros.
Redação / Folhapress