SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O acordo fechado pelo grupo Coteminas com a Shein em abril resultou também em um empréstimo de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões) para as operações da Santanense, companhia de tecidos que integra o grupo.
Na fábrica da Santanense em Itaúna (MG), as atividades de fiação e de tecelagem ficaram paradas cerca de seis meses neste ano, até o início de julho. Lá, os funcionários tiveram atrasos no pagamento de benefícios, mas não houve corte de pessoal, como registrado em Blumenau (SC) e em Montes Claros (MG).
A receita líquida de vendas da companhia em 2022 foi de R$ 409,9 milhões, 31,8% menor do que a registrada em 2022. O resultado operacional foi afetado, segundo o grupo, por aumento no custo de ociosidade. As informações constam do balanço do grupo Coteminas tornado público na noite de 13 de outubro.
As demonstrações financeiras também informam ter havido a concessão de crédito em “forma de empréstimos conversíveis em ações e com único vencimento para três anos”. O dinheiro, diz a publicação, servirá para recompor o capital de giro da empresa.
O conselho de administração da Santanense aprovou a contratação do empréstimo em 22 de junho. No dia 11 de julho, a companhia aprovou que o contrato seja de penhor de estoque.
A ata da reunião da administração prevê que o contrato ainda seria celebrado -após essa etapa a empresa não informou os detalhes da operação, como agente fiduciário e taxa de câmbio e de juros considerada no acordo. A direção de relações com investidores do grupo foi procurada por email, mas ainda não respondeu.
O grupo Coteminas é comandado pelo atual presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Josué Gomes da Silva. No início deste ano, ele intermediou o anúncio feito pela Shein de nacionalização de sua produção (a empresa com sede em Singapura já fez dois eventos para apresentar suas peças “made in Brazil”).
Próximo do presidente Lula -Josué é filho de José Alencar, que foi vice do petista-, o empresário estava à mesa quando Fernando Haddad, da Fazenda, anunciou que o governo não revogaria mais a isenção a mercadorias de até US$ 50.
A política de tributação acabou se invertendo: no lugar do fim da isenção, o governo dispensou o pagamento em todas as compras até esse valor feitas em lojas e marketplaces que aderissem a seu programa de conformidade batizado de Remessa Conforme.
No memorando de entendimento assinado pelo grupo Coteminas em abril já havia a previsão de “financiamento para capital de trabalho”. O acordo também fala em exportação de produtos para o lar e a intermediação para que 2.000 confecções que são clientes da Coteminas também trabalhem com a asiática do ecommerce.
A divulgação do balanço do grupo estava atrasada, deveria ter saído em março. Tanto a Coteminas quanto a Springs Global, também do grupo, foram incluídas em uma lista da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de empresas que ultrapassaram o período de apresentação de formulários de demonstrações financeiras e informações trimestrais. O prazo se encerrou em abril.
O auditor independente que assinou as demonstrações financeiras de 2022 da Coteminas considerou que há “incerteza relevante relacionada com a continuidade operacional” e escreveu que o grupo vem “desenvolvendo negociações para recomposição de seu capital circulante líquido”. Na avaliação da Springs Global, há preocupação semelhante quanto à capacidade de continuidade da operação.
Segundo o balanço, o grupo reduziu e renegociou passivos por meio de repactuações, vendas de ativos e reestruturação de seu plano de negócios, o que incluiu as demissões negociadas em Montes Claros, Blumenau e também em João Pessoa. O corte atingiu 1.709 funcionários, que receberão seus acertos em até 12 parcelas.
No fim de 2021, o grupo tinha 10,8 mil funcionários nas operações brasileira e no exterior. No fim de 2022, eram 8.859.
O grupo Coteminas se comprometeu a apresentar as informações dos três primeiros trimestres deste ano até o dia 14 novembro.
ENTENDA A ESTRUTURA DO GRUPO COTEMINAS
**Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas)**
Sediada em Montes Claros (MG), produz e vende fios e tecidos, e tem capital aberto
Tem dois braços empresariais:
– Santanaense (Detém 58,38%) – Produz tecidos e itens de vestuário, uniformes, acessórios e equipamentos de proteção individual
– Springs Global (Detém 52,92% da companhia)
A Springs tem duas controladas:
– Coteminas SA (opera no Brasil, e é dona da Coteminas Argentina e da AMMO Varejo, que vende Santista, Artex, Persono, MMartan e Casa Moysés)
– Springs Global US (opera nos Estados e tem participação na Keeco Holdings, que produz artigos para casa na América do Norte)
RAIO-X | GRUPO COTEMINAS
**4º trimestre de 2022**
Receita líquida: R$ 1,5 bilhão
Prejuízo líquido: R$ 669,4 milhões
Passivo: R$ 1,6 bilhão
FERNANDA BRIGATTI / Folhapress