PINHALZINHO, SC (FOLHAPRESS) – O homem que em maio de 2021 invadiu uma creche em Saudades, no oeste de Santa Catarina, e matou duas educadoras e três crianças permaneceu em silêncio na fase de interrogatório do seu julgamento, que começou nesta quarta-feira (9) no Salão do Tribunal do Júri da comarca de Pinhalzinho.
Fabiano Kipper Mai, que na época tinha 18 anos de idade, está preso preventivamente desde a data da chacina.
O debate central neste primeiro dia de julgamento foi marcado pela divergência entre o possível diagnóstico de doença mental do réu, apresentada pelos assistentes técnicos da defesa e da acusação. Os nomes dos dois psiquiatras foram preservados a pedido do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, por razões de segurança.
A defesa alega que o réu sofre de esquizofrenia paranoide, o que o tornaria incapaz de compreender a gravidade dos atos que estava cometendo.
Segundo o assistente técnico da defesa, o acusado demonstra características típicas da doença. Entre elas, o fato de não se reconhecer doente, já que em um primeiro momento, teria se negado a tomar a medição prescrita pelos médicos.
Outro ponto apresentado pelo psiquiatra responsável pela assistência técnica é que o réu apresenta uma compreensão distorcida da realidade. De acordo com a defesa, ele foi vítima de bullying na escola e, apesar de o fato ser confirmado pelos familiares, não tinha a intensidade com a qual ele percebia.
Já a acusação afirma que o réu sofre de retardo mental leve e transtorno de personalidade, doenças mentais que não o caracterizariam como inimputável.
A conclusão é baseada em dois fatos: o primeiro, de que o réu teria planejado detalhadamente a ação, por meses. O segundo diz respeito a uma suposta articulação do réu em mudar seu depoimento. Isso porque ele teria relatado ao delegado o crime com detalhes e posteriormente passou a alegar que não tem lembrança do que ocorreu.
Dessa forma, a acusação alega que “em tudo houve método e intencionalidade”, destacou o assistente técnico da acusação.
O Ministério Público também incluiu entre as provas de que houve o planejamento do ataque, o histórico de pesquisas do acusado na internet: ele teria procurado informações sobre armas, técnicas para matar, massacres em escolas, creche em Saudades, além de ter admiração confessa por assassinos e responsáveis por massacres.
Pais de uma das vítimas, Neusa e Marcos Costa acompanharam com aflição os depoimentos durante a manhã e a tarde. Eles se emocionaram por diversas vezes ao ouvir os relatos do dia do crime, que vitimou a única filha do casal, na época com 20 anos, Mirla Costa. “Ele pode viver por mil anos e não vai pagar pelo que fez”, afirmou Neusa.
O júri segue em andamento e fará ainda nesta quarta o interrogatório do réu. A conclusão do julgamento está prevista para esta quinta-feira (10).
O Ministério Público de Santa Catarina acusa o homem de cinco homicídios consumados triplamente qualificados por motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas, além da tentativa de homicídio de mais 14 vítimas.
O JULGAMENTO
As ruas da região do fórum ficaram fechadas para carros ao longo do julgamento. Também foi montado um forte esquema de segurança no local, com 12 policiais penais do Núcleo de Operações Táticas, 17 policiais militares de Pinhalzinho e Chapecó, além de dois bombeiros.
As famílias e colegas das vítimas estiveram presentes no local, levando faixas com pedidos de justiça e relembrando as vítimas da tragédia. Durante os depoimentos, o público se emocionou por diversas vezes.
O julgamento está sendo presidido pelo juiz Caio Lemgruber Taborda, da Vara Única da comarca de Pinhalzinho. O conselho de sentença sorteado nesta quarta é composto por seis mulheres e um homem.
Nesta quarta, a sessão começou às 9h, com a formação do conselho de sentença. Depois, começaram as oitivas das vítimas. Na sequência, foi liberada a entrada do público que, em poucos instantes, ocupou os 84 assentos disponibilizados.
O réu acompanhou os depoimentos das vítimas em uma sala separada.
Nesta quarta, a previsão era ouvir seis vítimas, oito testemunhas de acusação e quatro testemunhas de defesa. Mas, nove pessoas foram dispensadas: três vítimas, cinco testemunhas de acusação e uma testemunha de defesa. A necessidade de ouvi-las é definida pelas partes conforme o andamento da sessão.
COMO FOI O CRIME
Na manhã de 4 de maio de 2021, o homem entrou na Escola Municipal Infantil Pró-Infância Aquarela usando uma adaga (uma espécie de espada) que havia comprado pela internet. Ele teria tentado se matar após o atentado e foi detido. Durante o ataque, duas funcionárias da creche — a professora Keli Adriane Aniecevski, 30, e a agente de educação Mirla Amanda Renner Costa, 20 — morreram, além de três crianças. Uma quarta foi gravemente ferida, mas sobreviveu.
Redação / Folhapress