SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A poeta mineira Adélia Prado foi anunciada na tarde desta quarta-feira como a vencedora deste ano do prêmio Camões, o mais importante reconhecimento da literatura em língua portuguesa.
A distinção vem uma semana depois de a autora ganhar o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, que também seleciona autores pelo conjunto da obra -o que faz deste o ano de maior consagração da carreira da escritora de 88 anos.
Prado também anunciou há pouco sua volta à literatura depois de mais de uma década do que classificou como um “deserto criativo”. Publicará uma nova coletânea de inéditos, “Jardim das Oliveiras”, pela Record. O livro deve sair ainda este ano.
A escolha rompe uma tradição recente do Camões: o prêmio costuma alternar entre escritores brasileiros, portugueses e de países africanos lusófonos. Desta vez, seleção da mineira vem apenas dois anos depois da seleção de um conterrâneo seu, o crítico literário Silviano Santiago.
O último ganhador foi o português João Barrento, pesquisador menos conhecido e mal editado no Brasil. No ano anterior a Santiago, a vencedora havia sido a moçambicana Paulina Chiziane, primeira africana negra distinguida com o Camões -o esperado era que esse ano outro nome do continente fosse premiado.
Em vez disso, a selecionada no aniversário de 500 anos de Luis Vaz de Camões foi uma das escritoras mais aclamadas do Brasil, marcada por uma poesia que mescla o teor espiritual do catolicismo que a acompanhou por toda a sua vida e uma refrescante liberdade para falar de temas íntimos e sexuais.
O júri ressalta Prado como “autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética”.
Isso porque a escritora também publicou contos, como os de “Solte os Cachorros”, romances como “Cacos para um Vitral”, infantis como “Quando Eu Era Pequena” e teve uma produção próxima ao teatro, dirigindo uma montagem de “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, nos anos 1980.
Desde sua estreia com o elogiado “Bagagem”, de 1976, a escritora se lançou como nome incontornável da poesia brasileira e venceu o prêmio Jabuti com sua obra seguinte, “O Coração Disparado”, publicada dois anos depois.
O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, lembra que no começo da carreira a escritora foi apadrinhada por outro poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade, que se derramava em elogios à conterrânea em suas colunas de jornal.
Prado seguiu cativando leitores com publicações constantes até a coletânea “Miserere”, de 2013. Desde então, sua obra ficou em silêncio.
“Fui resgatada pela própria poesia”, dividiu a escritora, no ano passado, com a coluna Painel das Letras. “Encontrei, em gavetas, poemas escritos na tenra juventude e, para minha surpresa, eles estavam em sintonia com minha experiência atual e desencadearam a ideia desse livro.”
O prêmio concede à autora um valor de 100 mil euros, ou cerca de R$ 590 mil reais divididos entre o governo de Portugal e a Biblioteca Nacional brasileira, e foi escolhido por um júri que compreendia dois críticos brasileiros, dois portugueses e dois moçambicanos.
SAIBA QUEM FORAM TODOS OS VENCEDORES DO CAMÕES
2024 – Adélia Prado, Brasil
2023 – João Barrento, Portugal
2022 – Silviano Santiago, Brasil
2021 – Paulina Chiziane, Moçambique
2020 – Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Portugal
2019 – Chico Buarque, Brasil
2018 – Germano Almeida, Cabo Verde
2017 Manuel Alegre, Portugal
2016 Raduan Nassar, Brasil
2015 Hélia Correia, Portugal
2014 Alberto da Costa e Silva, Brasil
2013 Mia Couto, Moçambique
2012 Dalton Trevisan, Brasil
2011 Manuel António Pina, Portugal
2010 – Ferreira Gullar, Brasil
2009 – Armênio Vieira, Cabo Verde
2008 – João Ubaldo Ribeiro, Brasil
2007 – António Lobo Antunes, Portugal
2006 – José Luandino Vieira, Angola
2005 – Lygia Fagundes Telles, Brasil
2004 – Agustina Bessa-Luís, Portugal
2003 – Rubem Fonseca, Brasil
2002 – Maria Velho da Costa, Portugal
2001 – Eugênio de Andrade, Portugal
2000 – Autran Dourado, Brasil
1999 – Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal
1998 – Antonio Candido, Brasil
1997 – Pepetela, Angola
1996 – Eduardo Lourenço, Portugal
1995 – José Saramago, Portugal
1994 – Jorge Amado, Brasil
1993 – Rachel de Queiroz, Brasil
1992 – Vergílio Ferreira, Portugal
1991 – José Craveirinha, Moçambique
1990 – João Cabral de Melo Neto, Brasil
1989 – Miguel Torga, Portugal
WALTER PORTO / Folhapress