Adolescente diz ter sofrido racismo em escola particular de SP

BELO HORIZONTE, MG (UOL/FOLHAPRESS) – Uma jovem de 14 anos acusa colegas de racismo durante um torneio interclasses promovido por uma escola particular de São Paulo. O UOL conversou com a mãe da vítima.

A adolescente participava do torneio interclasses do Colégio São Paulo. Segundo a mãe da jovem, Adriana Vasconcellos, na quarta-feira (9), houve uma discussão na quadra entre alunos da turma da menina, do 9º ano do Ensino Fundamental, e outros do 3º ano do Ensino Médio.

Ao chegar em casa, a jovem contou para Adriana o que aconteceu, e relatou ter sido chamada de “cabelo de Beyoncé”. Entretanto, a mãe relatou que a menina não se abalou por isso e disse que “se elas me chamaram de cabelo de Beyoncé, eu não quero nem saber, então sou maravilhosa”.

Na quinta-feira (10), durante uma competição esportiva, os alunos do 3º ano se aproximaram da arquibancada onde estavam os do 9º ano e começaram a “agredir verbalmente”, segundo Adriana.

Em dado momento, seis adolescentes da turma do 3º ano, que têm entre 16 e 17 anos, teriam se aproximado da filha de Adriana e de uma amiga dela, de 15 anos, que também é negra. Elas relataram que esses alunos começaram a proferir ofensas diretamente para as duas.

“A menina vira para as duas e diz assim: ‘você já lavou o seu cabelo hoje? Porque o meu, só hoje eu já lavei três vezes.’ E a outra emenda dizendo: ‘Esse seu cabelo só serve para lavar panela, para arear panela.'” relatou Adriana

A filha, então, ligou para a mãe, em prantos. Inicialmente, ela foi amparada por outros colegas de turma, que presenciaram as agressões. “Mamãe, eu não acredito, eu não acredito que está acontecendo. Eu não acredito que está acontecendo isso comigo.” disse a menina durante ligação para a mãe.

Enquanto a adolescente aguardava a chegada da mãe, um dos agressores teria passado por ela e feito sons de macaco. Adriana diz que, quando chegou à escola, os alunos continuavam a festejar na quadra.

Os responsáveis pelos envolvidos no caso foram chamados à escola e encaminhados a uma delegacia. Um boletim de ocorrência foi registrado. De acordo com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), seis adolescentes foram conduzidos à delegacia para prestar depoimento, na presença de seus responsáveis.

“O dia inteiro, desde o telefonema dela, eu tive que ficar firme. Nós, pessoas negras, as mulheres negras principalmente, nossas histórias se encontram em algum momento. Então eu revivi, sabe, coisas que eu já tinha passado. E minha filha passou tudo isso. Eu, sendo uma ativista? Então eu fiquei muito mal, muito abalada”, disse Adriana Vasconcellos, mãe da aluna.

Adriana alerta que as pessoas não sabem agir diante de um caso de racismo. A própria escola, segundo ela, falhou no acolhimento de sua filha.

Em nota, a SSP-SP disse que uma das vítimas relatou ter sofrido ofensas racistas de outros dois alunos, que negaram os fatos. Eles também alegaram terem sido ofendidos durante a discussão.

O caso está sendo investigado como injúria e injúria racial. Como a identidade dos envolvidos não foi revelada, não conseguimos entrar em contato com as defesas. O espaço permanece aberto para manifestações.

O UOL entrou em contato com o Colégio São Paulo, responsável pelo torneio, mas não teve resposta. A matéria será atualizada quando houver um posicionamento da instituição.

RAFAEL LEITE / Folhapress

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