Adulto saudável não precisará de nova dose da vacina contra a Covid em 2024, diz Ministério da Saúde

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Adultos saudáveis e com o esquema completo de vacinação contra a Covid-19 não precisarão receber nova dose em 2024.

Segundo o Ministério da Saúde, não há comprovação científica de que essa população necessite ser imunizada no próximo ano. O órgão, que monitora o cenário epidemiológico da Covid-19 por meio de um grupo técnico criado recentemente para essa finalidade, admite que a recomendação da pasta poderá mudar conforme o comportamento do vírus.

O principal foco da doença no mundo, de acordo com a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, é a diminuição da gravidade, hospitalização e de óbitos.

A reportagem questionou o Ministério da Saúde sobre a possibilidade de ofertar a vacina contra a Covid-19 para todos, em 2024, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.

Na manhã desta terça-feira (31), Maciel anunciou a inclusão da vacina contra a Covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação para crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses e demais grupos prioritários. A medida começará a valer em 2024.

O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS

Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, concorda com a afirmação se o ministério estiver se referindo à vacina disponível atualmente. No caso de uma atualização do imunizante, como ocorreu nos Estados Unidos, é preciso revacinar toda a população.

“Se o Ministério da Saúde se refere às vacinas antigas, que o Brasil tem hoje, não faz sentido você reforçar o mais com o mesmo. A maioria da população tem imunidade híbrida –adquirida tanto pelas vacinas tomadas quanto pelas infecções que existiram. Só que nós não sabemos exatamente quanto tempo essa imunidade híbrida vai durar, e o vírus está sofrendo um processo de mutação continuado”, afirma Araújo

“Esse vírus atual sofreu mutação em um ambiente extremamente diferente das primeiras variantes, que derivavam do vírus original. As variantes atuais foram selecionadas no cenário que a gente tem. Primeiro, imunidade após a infecção; segundo, imunidade por vacina; terceiro, exposição a antiviral. O fato é que as novas variantes são muito diferentes dos vírus que tivemos”, explica.

As vacinas disponíveis no país atualmente, de acordo com o infectologista do HC, não oferecem cobertura para as variantes BA.2.86 -detectada em diversos países- e a EG.5 -com casos no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), diz que é uma estratégia de saúde pública, assim como acontece com a imunização contra o vírus influenza.

“O que a gente faz com a gripe em termos de saúde pública, não é vacinar a população inteira. Essa era a estratégia na pandemia. Agora, você vacina grupos com maior risco de agravamento da doença, hospitalização e mortes”, comenta Kfouri.

“Nenhum país do mundo, eu acredito, vai continuar com o que eu chamo de vacinação universal. Nem a OMS recomenda e nem o Brasil exige isso. Eu acho corretíssimo não vacinar a população toda, em termos de saúde pública”, reforça.

Em relação à imunização das crianças, Kfouri faz uma observação. Para o especialista, este grupo não deveria ser vacinado numa estratégia de campanha, mas sim de rotina, conforme a idade, a definir dentro do esquema do calendário -foi a estratégia discutida e aprovada pela câmara técnica, segundo ele.

“Hoje a Covid é bem mais leve, porque as pessoas já receberam duas, três, quatro doses de vacina, e já tiveram uma, duas, três vezes essa doença. Só essa imunidade populacional é que torna a doença, hoje, geralmente, mais leve, com menos risco de complicação do que no passado.

“As crianças que estão nascendo, fazendo seis meses, um ano, nunca viram vacina e o vírus. Nasceram numa época da pandemia já controlada. A doença migra, hoje, para grupos virgens do vírus”.

“Hoje, a incidência, se a gente olhar para casos de hospitalização por Síndrome Respiratória Aguda Grave por Covid, por 100 mil habitantes, ou seja, a incidência de hospitalização, as crianças, empatam com os maiores de 80 anos. Então, o grupo que mais hospitaliza hoje é o menor de dois anos de idade”, finaliza Kfouri.

PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress

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