LONDRINA, PR (FOLHAPRESS) – O ex-aluno de 21 anos que abriu fogo na Escola Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no norte do Paraná, e matou dois estudantes estava em uma cela com outro suspeito de participar do crime, isolado dos outros presos. O atirador foi encontrado morto na cadeia na noite desta terça-feira (20).
A informação foi dada pelo advogado Marcelo Gaya, que assumiu a defesa.
A morte do atirador Marcus Vinicius da Silva foi confirmada pela Polícia Militar e pela Sesp (Secretaria de Segurança Pública) do Paraná. A causa ainda não foi informada. A PM, contudo, diz que a suspeita é que ele teria se enforcado na cela.
Gaya afirma que esteve na Casa de Custódia nesta terça e teve um rápido contato com o preso, que havia passado por audiência. Segundo o advogado, o atirador estaria em um local isolado com um outro preso, que também foi detido durante as investigações sobre o atentado na escola.
“Eles [policiais] se preocuparam em garantir a segurança dos dois. Como sabemos, a Casa de Custódia, como outras unidades, está superlotada. Eles tiveram o cuidado de não deixar no seguro [área reservada a presos que correm risco de morte] e nem com a massa carcerária. Eles colocaram os dois separados dos demais, pois é um fato que jamais aconteceu em nossa região”, disse o advogado.
“Parece-me que ele estava com outro rapaz, mas não havia nenhuma animosidade. Então, estavam no mesmo ambiente”, acrescentou o defensor.
O advogado não entrou em detalhes sobre quem seria a pessoa que estava com o autor do atentado na cela separada.
O Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná já instaurou procedimento interno para apurar o caso. A Polícia Civil do Paraná também iniciou investigação.
Segundo o diretor-adjunto do IML de Londrina, Maurício Nakao, a morte foi comunicada pela Casa de Custódia entre 22h e 23h de terça. Após inspeção de policiais na cela onde o atirador estava detido, o corpo deu entrada no necrotério por volta da 1h desta quarta-feira.
Questionado, o diretor não informou se ele estava sozinho na cela. Ele confirmou que o boletim de ocorrência aponta para a presença de um “artefato parecido com uma corda”.
“É o que o consta no boletim. Mas não vamos fazer nenhum parecer antecipado. O perito também teve acesso à cena onde foi encontrado esse corpo. Então isso será trazido de forma técnica e formal através do laudo pericial”, disse.
O atirador estava sob custódia desde segunda-feira (19). De acordo com o Governo do Paraná e a Polícia Militar, ele foi preso e levado para Londrina (PR), cidade vizinha a Cambé.
Nesta terça-feira (20), morreu o estudante Luan Augusto da Silva, 16, um dos estudantes baleados no ataque a tiros promovido por um ex-aluno no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no norte do Paraná.
O adolescente estava internado em estado gravíssimo no Hospital Universitário de Londrina desde a manhã de segunda (19), dia do ataque.
A morte dele foi confirmada pela assessoria de imprensa da unidade de saúde. A família autorizou a doação de órgãos.
Karoline Verri Alves, 17, namorada de Luan, morreu no ataque. Ela era coroinha na paróquia Santo Antônio de Cambé, onde seus pais atuam como coordenadores de uma comunidade católica.
Bullying
Segundo o delegado-chefe da Polícia Civil de Londrina, Fernando Amarantino Ribeiro, o ex-aluno disse que sofria bullying quando frequentou a escola (até 2014) e que teria planejado o ataque, nos últimos meses, para se vingar.
“Ele alega que, no período em que estudou no colégio, do primeiro ao sétimo ano, sofria bullying dos alunos que tinham a idade dele à época, 15 anos. O objetivo dele, hoje, era atacar jovens com essa faixa etária”, afirmou o delegado.
Ainda de acordo com Ribeiro, o atirador afirmou ter sido diagnosticado com esquizofrenia e passar por acompanhamento junto à Secretaria de Saúde de Rolândia (PR), outra cidade vizinha, onde morava. “Isso tudo vai ser averiguado, nomes dos profissionais, medicamentos. Ele alega que tem perturbações, vê pessoas e coisas e ouve vozes. São as palavras que ele utilizou.”
O ex-aluno usou um revólver calibre 38, adquirido em Rolândia, e entrou na escola com 50 munições e sete carregadores. Para ter acesso à unidade, afirmou que pretendia solicitar seu histórico escolar. Ele foi, então, ao banheiro e, na saída do local, deu início ao ataque. Após ferir ao menos dois jovens, acabou sendo dominado.
O piscineiro Joel de Oliveira, 62, diz ter sido responsável por desarmar o ex-aluno.
Após o atentado, o governador Ratinho Junior (PSD) e o secretário estadual de Segurança Pública, Hudson Teixeira, chegaram a afirmar que o atirador teria sido desarmado por um professor ou por um funcionário da unidade que teria sido submetido a um treinamento preventivo em casos de ataques contra colégios.
Já nesta terça-feira (20), a assessoria do governo estadual disse que a informação era preliminar e que o atirador foi imobilizado por uma pessoa de fora da comunidade escolar.
Segundo o delegado-chefe da Polícia Civil de Londrina, Fernando Amarantino Ribeiro, o piscineiro foi até a escola ao ouvir os tiros. “A reação dele foi de segurar essa pessoa [atirador]”.
“Mantive a calma e hoje que a ficha está caindo com toda essa repercussão. Eu me identifiquei como policial [ao atirador, para tentar acalmá-lo], jamais me preparei para isso. Fui guiado por Deus”, disse Oliveira à Folha de S.Paulo nesta terça (20). Pai de quatro filhos, ele tem sete netos; nenhum deles estuda na escola alvo do ataque.
RAFAEL FANTIN / Folhapress