BRASÍLIA, DF (UOL/FOLHAPRESS) – O advogado Bernardo Fenelon deixou a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Preso desde 3 de maio, o militar é investigado pela suspeita de participação no esquema de desvio e venda de joias recebidas pela Presidência e pela suposta adulteração de certificados de vacina.
Fenelon, cuja saída foi antecipada pelo jornal O Globo, é o segundo advogado a defender Cid. Antes dele, o criminalista Rodrigo Roca, próximo do clã Bolsonaro, também deixou a defesa do ex-ajudante de ordens. Na ocasião, alegou razões de foro profissional. Ainda não há informações sobre quem assumirá a defesa de Cid.
A operação da Polícia Federal, ocorrida na sexta-feira (11), mirou o general Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid, também alvo de buscas, o advogado Frederick Wassef e o assessor Osmar Crivelatti. O foco da investigação é o desvio e a venda de joias recebidas por Bolsonaro durante a Presidência.
Um dos casos ocorreu em uma viagem para os Estado Unidos em junho de 2022, segundo a Polícia Federal. Na ocasião, ainda de acordo com a investigação, Mauro Cid se separou da comitiva presidencial e vendeu dois relógios de luxo por US$ 68 mil (R$ 333,7 mil). Os valores foram depositados na conta de seu pai no exterior, o general Cid.
Em outra viagem, realizada em 30 de dezembro de 2022, quando Bolsonaro deixou o país, pouco após ter perdido as eleições, também foram transportadas joias posteriormente colocadas à venda nos Estados Unidos.
A PF aponta que os recursos gerados com a venda dos bens eram repassados a Bolsonaro em dinheiro vivo. Outros indícios da participação do ex-presidente se devem ao fato de as joias serem levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aviões da Força Aérea Brasileira.
Por isso, a PF pediu a quebra do sigilo fiscal e bancário de Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle. A defesa do ex-presidente afirmou, após mais de 12 horas de silêncio, que ele “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos” e que coloca sua movimentação bancária à disposição das autoridades.
Em um dos diálogos obtidos pela PF e levados ao Supremo, Cid conversa com outro assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, sobre as restrições existentes a respeito da venda dos bens no exterior.
O gabinete de documentação da Presidência havia informado que era necessário registrar oficialmente a doação do bem ao governo brasileiro e que a venda no exterior também precisaria ser comunicada.
Por isso, Câmara disse a Cid que desistiu de vender um determinado bem nos Estados Unidos e que sua ideia seria leiloar no Brasil posteriormente.
“Só dá pena porque estamos falando de 120 mil dólares. Hahahahha” escreveu Mauro Cid, em uma mensagem obtida pela PF. Em resposta, Camâra diz: “O problema é depois justificar e para onde foi”.
Mauro Cid também atuou em uma “operação resgate” sigilosa para recuperar um kit de joias dado pela Arábia Saudita e tentar ocultar a tentativa de venda do presente nos Estados Unidos, apontou a Polícia Federal.
As movimentações foram motivadas pelo temor de uma decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) que mandasse o ex-mandatário entregar as joias.
O kit foi devolvido em 4 de abril, mas não houve menção que as joias estavam no exterior.
“A operação encoberta permitiu que, até o presente momento, as autoridades brasileiras não tivessem conhecimento que os bens foram alienados no exterior, descumprindo os normativos legais, com o objetivo de enriquecimento ilícito do ex-presidente Jair Bolsonaro, e posteriormente recuperados para serem devolvidos ao Estado brasileiro”, diz a Polícia Federal, em manifestação ao STF.
As joias envolvidas no resgate integravam o chamado “kit ouro branco”, de acordo com a Polícia Federal. Compõem o conjunto: um par de abotoaduras, um anel e uma masbaha (rosário árabe), todos feitos com ouro branco, além de uma caneta da marca Chopard prateado com pedras incrustadas.
Havia ainda um relógio Rolex cravejado de diamantes, que foi separado do kit e vendido por Mauro Cid nos Estados Unidos. Os presentes foram dados a Bolsonaro durante viagem oficial à Arábia Saudita, em outubro de 2019.
PAULO ROBERTO NETTO / Folhapress