Advogado preso por delação de Joesley Batista deve disputar vaga no CNJ

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em meio à tumultuada discussão sobre a reforma tributária, a Câmara dos Deputados prevê votar nesta quinta-feira (6) a indicação a uma vaga no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e tem como um dos principais cotados um advogado conhecido pela ligação com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e que já foi preso com base na delação de Joesley Batista, da JBS.

O nome de Willer Tomaz de Souza já era cogitado para o CNJ desde o ano passado pelos deputados e por setores do Judiciário, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vinha dizendo que não havia decisão a respeito da indicação do advogado.

Procurado pela Folha de S.Paulo sobre a candidatura, Willer Tomaz não se manifestou.

Deve concorrer com ele a chefe de gabinete do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli, Daiane Nogueira de Lira. Parte dos parlamentares dizem que ela é a favorita.

Toffoli é um dos ministros que garantiu a rejeição, de forma inusitada, de uma denúncia que já havia sido aceita contra Lira no Supremo.

As formalizações das candidaturas devem ser feitas até as 12h desta quinta por indicação dos blocos parlamentares, acompanhados por currículos dos candidatos. A eleição será secreta.

Após aprovação na Câmara, o indicado ainda tem que ser sabatinado e aprovado pelo Senado.

O mandato no conselho é de dois anos, com possibilidade de recondução por igual período. A Câmara tem direito a uma indicação de “cidadão de notável saber jurídico e reputação ilibada”.

Willer advoga para o presidente da Câmara, além de ter proximidade com parlamentares dos mais diversos espectros políticos. Por isso, não tem entraves na Casa.

No ano passado, sua nomeação vinha sendo defendida por integrantes do próprio centrão, composto por siglas como PP, PL e Republicanos.

Além disso, embora seja próximo de setores do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Willer também tem ligações com aliados do presidente Lula (PT). O advogado é sócio de Eugênio Aragão, que defendeu a campanha de Lula.

Presidido pela ministra Rosa Weber, do Supremo, o CNJ é composto por 15 conselheiros e tem como atribuição atuar no controle e transparência do Judiciário, além de julgar processos disciplinares e reclamações contra membros da Justiça de todo o país.

A indicação de Willer tem apoio de parte do CNJ. Outra ala, formada principalmente por juízes de carreira, se opõe à ideia e acha que ele é um nome questionável para o conselho.

Atualmente, o representante do CNJ indicado pela Câmara é o advogado Mário Henrique Goulart, que recentemente desistiu da recondução.

Entre outras pessoas, Willer advogou para o próprio Arthur Lira em tribunais superiores. Ele é conhecido por se gabar das suas influências políticas e entre ministros de altas cortes do país.

Costuma dar festas em Brasília que tem como convidados integrantes das cúpulas dos três Poderes.

Willer foi preso pela Polícia Federal em 2017, na operação relacionada à JBS. A suspeita da PGR (Procuradoria-Geral da República) era a de ele que teria atuado como intermediário em vazamento de informações do Ministério Público Federal. A denúncia contra ele foi rejeitada pela Justiça.

“Fui denunciado. Os delatores se retrataram. A denúncia foi rejeitada. Foi um erro do Judiciário e recebo indenizações”, afirmou.

Em 2021, a Folha de S.Paulo revelou que o então ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), usou a filial de sua empresa de venda de motos no Piauí para alugar uma mansão no Lago Sul em Brasília comprada meses antes por Willer.

À época, o advogado tinha sido blindado pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid em uma atuação feita pelo próprio Ciro Nogueira -que é senador e se licenciou do cargo para se tornar ministro. A comissão pretendia quebrar o sigilo do advogado quando ganharam força investigações sobre suspeitas de corrupção na negociação de vacinas.

O nome dele acabou retirado do requerimento de quebra de sigilo pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

À época, ele disse à Folha de S.Paulo que o negócio com Ciro Nogueira era regular.

“Eu alugo casas a ministros do STJ [Superior Tribunal de Justiça]. Meu escritório faturou R$ 100 milhões em 2020”, disse o advogado. Ele afirmou ainda que sua empresa, a WT, tem mais de 50 imóveis alugados.

JOSÉ MARQUES, VICTORIA AZEVEDO E RANIER BRAGON / Folhapress

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