Aeroporto de Guarulhos tem gargalos em transporte de carga com aumento de mercadorias

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O terminal de cargas do aeroporto internacional de Guarulhos, maior complexo logístico aeroportuário do Brasil, tem enfrentado gargalos para lidar com o aumento do volume de mercadorias.

Em abril, a concessionária GRU Airport voltou a registrar acúmulo de cargas nos armazéns de importação e exportação, uma situação que já havia atravessado em novembro.

O gargalo acontece no momento em que o aeroporto registra crescimento na movimentação. Com 30,6 mil toneladas, março foi um dos melhores meses da concessão —ante 24,9 mil em fevereiro e 20,9 mil em janeiro.

Do total no mês, quase 14 mil toneladas foram itens importados. A maior parte das cargas nacionalizadas são produtos automotivos (29%), farmacêuticos (18%), maquinário (16%) e eletrônicos (9%). O terminal encerrou o primeiro trimestre com mais de 50% de participação de mercado em carga aérea internacional.

João Pita, diretor comercial da GRU Airport, diz que o acúmulo mais recente foi causado pelos feriados de Carnaval e Páscoa. Segundo ele, o fluxo de entrega das mercadorias cai nos feriados porque os transportadores e indústrias fecham, ou seja, os donos das mercadorias atrasam para buscá-las.

No início de abril, a concessionária enviou comunicado aos transportadores e importadores pedindo que se programassem para receber suas cargas diariamente, inclusive nos finais de semana.

De acordo com o executivo, o acúmulo foi solucionado e, desde o dia 16 de abril, já não há excesso de mercadorias no local. Mas o tempo de processamento nas áreas de recebimento, armazenagem e liberação tem se alongado. O prazo médio de 6 a 7 dias que o produto ficava nos armazéns subiu para 12 a 14 dias.

No esforço de evitar o problema vivido no fim do ano passado, Pita afirma que reduziu a quantidade de mercadorias que recebe diariamente para conseguir processar as entregas.

Em novembro, diz ele, a situação foi causada por mudanças no sistema de importação da Receita Federal e houve um período de aprendizagem, além dos feriados e alguns dias em que o sistema esteve fora do ar.

“A gente não foi tão prudente, não diminuiu o caudal de recebimento, e a situação deixou de estar controlada. Aprendemos com isso e agora conseguimos tranquilamente controlar a situação e resolver de forma mais rápida e eficaz. Receber esse volume de carga é bom, mas tem seus desafios”, diz.

Segundo Pita, algumas cargas chegam em diferentes voos e precisam esperar o lote todo. Outras chegam em pallets de madeira e têm de aguardar a Vigiagro (vigilância agropecuária).

“Eu diria que é um acúmulo de coisas que, sozinhas, não têm problema, mas quando junta criam uma massa que gera desafios. Mas contratamos quase 15% a mais de pessoas e temos cerca de 500 pessoas trabalhando no nosso terminal de carga”, diz o executivo.

Ele afirma que a companhia está preparada com plano de contingência e que a infraestrutura evoluiu com os investimentos realizados ao longo da concessão, com 24 câmaras frias, expansão do armazém de exportação e automação.

Também houver um investimento com a Brookfield em 250 mil metros quadrados de armazém, sendo que 50 mil metros já foram entregues.

“Todos temos que fazer melhor. O aeroporto tem que se capacitar, mas também toda a cadeia logística, isto é, nós precisamos funcionar sete dias na semana, entregar carga aos domingos. Só assim o sistema é eficiente. Se você recebe sete dias e entrega cinco, fica em defasagem operacional. Nos cinco dias do Carnaval, não entregamos o que costumamos entregar em um dia, mas continuamos a receber. Ficamos com quatro dias de atraso. Depois, precisa ter gente e estrutura para recuperar. É algo difícil em qualquer processo logístico”, diz.

A Abclia (Associação Brasileira dos Centros Logísticos e Industriais Aduaneiros) afirma que os clientes do terminal de cargas não estão atrasando a retirada, até porque isso eleva o custo do serviço.

Felipe Vieira, advogado da entidade, diz que vê muito poder concentrado em Guarulhos e pede que a Receita e a Anac promovam a redistribuição dessas cargas recebidas pelo aeroporto para as unidades alfandegadas e portos secos do estado de São Paulo para fazerem a nacionalização das mercadorias.

“Na nossa visão, chegou o momento de a Receita, que é a responsável pelas cargas alfandegadas, fazer uma modificação na norma que permita que o escoamento seja imediato e não precise de funcionários de Guarulhos ou de tomada de decisão do aeroporto para ter fluxo”, diz Vieira.

Procurada pela reportagem, a Receita Federal afirma que os gargalos recentes foram um problema pontual e diz que “tomou medidas cabíveis para uma interferência mais enfática, buscando prevenir a recorrência de tais situações no futuro”.

Em nota, o órgão diz que “tem trabalhado em conjunto com a concessionária para resolver a questão, tanto no aprimoramento dos sistemas de gestão de carga quanto na locação de maiores espaços e melhor aproveitamento do espaço existente”.

Além da questão logística, o aeroporto enfrentou nos últimos meses a paralisação de cargas provocada pela greve dos fiscais, encerrada em fevereiro, que também suspendeu o desembaraço em diversos portos e aeroportos do país.

JOANA CUNHA / Folhapress

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