SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por volta das 4h desta quarta-feira (25), Roberto Soares, 32 anos, até arriscou um sorriso e uma brincadeira ao ser fotografo pela Folha de S.Paulo enquanto descarregava abacaxis de um caminhão estacionado nos fundos do Mercado Municipal de São Paulo. “Com um frio desses não é fácil”, comenta. Naquele momento, os termômetros marcavam entre 7° e 8 °C.
Soares trabalha há 15 anos com a descarga de caminhões no local. Segundo o carregador, o serviço havia começado às 18h do dia anterior e se prolongaria por mais uma hora. “A gente usa duas madrugadas para tirar todas as frutas da caçamba do caminhão”, afirma. Próximo a ele, outros trabalhadores colocaram fogo em caixas de fruta para manter o pátio um pouco mais aquecido.
A capital paulista registrou a madrugada mais fria do ano nesta quarta-feira (25), com 6,6ºC por volta das 4h. A temperatura foi registrada pelos termômetros da estação automática do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) no Mirante de Santana, zona norte da capital.
Ainda assim, em meio a quem usava jaquetas, gorros e blusas de moletom, era possível encontrar quem não vestia qualquer agasalho e continuava o transporte das frutas, que saíam dos caminhões e eram levadas em carrinhos de madeira para dentro dos galpões.
O vendedor ambulante Manoel Maurício da Silva, 58, diz que o frio dificulta na hora de sair de casa. “A gente vem trabalhar porque precisa, não tem outro jeito”, afirma. No entanto, ele admite que o frio acaba melhorando as vendas de canjica, que ele comercializa com uma panela grande transportada em cima de um carrinho de pedreiro.
Geralmente, Silva chega ao mercado por volta das 3h e trabalha ali até por volta de 7h30. “Se não vendo tudo, sigo depois para o terminal Parque Dom Pedro 2° e fico lá até vender tudo”, diz. Este ritmo de trabalho é parte da sua rotina faz quatro anos. Ele vende o doce de milho com leite condensado, pedaços de amendoim e coco ralado.
A poucos quilômetros dali, na avenida Paulista, Paula Novaes da Silva, 50, começou a montar sua barraca às 4h. Geralmente, ela chega por volta das 4h30, mas o frio a deixou animada com a possibilidade de vender mais.
O negócio constante, ao longo do ano, é a venda de meias. Mas, em dias frios, vende também gorros e luvas. “Quando o tempo está chuvoso, vendo também guarda-chuvas”, explica. Essa é a segunda vez no ano que ela leva peças de lã para vender.
O tempo para vender, segundo ela, é escasso. A partir das 8h, os policiais retiram os camelôs da avenida. Ela segue para casa. “Nos dias que a vendas rendem, vale a pena vir mesmo para ficar pouco tempo”, acredita.
Se depender dos trabalhadores que estavam saindo por volta das 5h do terminal de ônibus ao lado da estação Vila Sônia do metrô, a tarefa de vender não será fácil. A maioria deles já saiu de casa bastante encapotada.
É o caso da promotora de vendas Raidalva dos Santos, 43. Além meias e luvas de frio, ela usava uma blusa felpuda e duas toucas. “É difícil acordar com um frio desses, mas a gente precisa se acostumar com o tempo de cada uma das estações”, comenta.
LEONARDO FUHRMANN / Folhapress
