Agência estatal do Irã pede orações após incidente com helicóptero que levava o presidente

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um helicóptero no qual viajava o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, 63, passou por um incidente neste domingo (19) e precisou fazer um “pouso difícil”, de acordo com o Ministério do Interior iraniano.

A mídia estatal do país disse que a aeronave foi sido encontrada e que foi feito contato com um dos passageiros, mas não deu mais detalhes. No início da madrugada desta segunda-feira (19), o Crescente Vermelho, braço da Cruz Vermelha em países de maioria muçulmana, confirmou a informação.

“O helicóptero foi encontrado. Estamos indo agora em sua direção”, disse Pirhossein Koolivand, chefe do Crescente Vermelho. “A situação não é boa”, acrescentou.

Logo depois, a emissora estatal afirmou que as equipes de resgate não encontraram sinal de vida no local do incidente.

“Neste momento, não há nenhum sinal que mostre que os passageiros do helicóptero estejam vivos”, afirmou a TV após a localização da aeronave.

Um repórter da mídia local disse que havia começado a chover no local de buscas, e a lama e o escuro complicam ainda mais os esforços. A televisão estatal afirmou que a aeronave caiu por conta de condições climáticas adversas, mas não confirmou se há mortos ou feridos.

Uma autoridade iraniana ouvida em condição de anonimato pela agência Reuters disse que o helicóptero caiu em terreno montanhoso quando Raisi voltava de uma visita à fronteira do Irã com o Azerbaijão.

Segundo a autoridade, as informações que chegaram do local do incidente são “muito preocupantes”, e as vidas de Raisi e do chanceler Hossein Amirabdollahian, que também estava no helicóptero, correm perigo.

O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, disse à TV estatal que havia problemas de comunicação e que o regime esperava informações das equipes de resgate que foram ao local da queda. As Forças Armadas do Irã afirmaram que vão utilizar “todos os seus recursos” para auxiliar nas operações de busca.

Vários países se solidarizaram e ofereceram ajuda a Teerã, incluindo a Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Turquia e Rússia. A Comissão Europeia, órgão da União Europeia, disse que ativou o seu serviço de mapeamento por satélite para auxiliar nas buscas pelo helicóptero de Raisi depois de um pedido do Irã, e a Turquia colocou à disposição um drone, um helicóptero, e uma equipe de resgate.

O incidente aconteceu próximo à cidade de Jolfa, a cerca de 600 quilômetros da capital, Teerã, enquanto Raisi viajava pela província do Azerbaijão Oriental, de acordo com a mídia local. O presidente do Azerbaijão, Ilham Alyiev, com quem Raisi se encontrou horas antes do incidente, disse que estava “profundamente preocupado” com a notícia e ofereceu a ajuda de seu país ao vizinho.

A agência de notícias estatal Fars pediu que os iranianos rezem pelo presidente e depois publicou imagens de pessoas orando pela saúde de Raisi em Mashhad, cidade natal do presidente e considerada sagrada para os muçulmanos xiitas, maioria no país persa.

Meios oficiais do regime disseram que uma operação em larga escala envolvendo 16 equipes de resgate foi lançada para tentar encontrar o helicóptero, mas que o mau tempo e uma neblina pesada complicavam as operações de resgate. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra os socorristas caminhando pela neblina em busca da aeronave.

A agência de notícias oficial IRNA afirmou que Raisi estava acompanhado de outros dois helicópteros que transportavam ministros e outras autoridades, e que essas aeronaves teriam chegado com segurança ao seu destino.

O governo dos Estados Unidos se pronunciou, e um porta-voz do Departamento de Estado disse no domingo que a Casa Branca estava “acompanhando com atenção” as informações sobre o incidente. O presidente Joe Biden recebeu um relatório da situação, segundo a Casa Branca.

A lei iraniana estipula que, caso o presidente morra, o vice assume o poder e é obrigado a convocar novas eleições no prazo de 50 dias. O número 2 de Raisi é Mohammad Mokhber, um político conservador. As próximas eleições presidenciais iranianas estavam previamente marcadas para acontecer em 2025.

Em pronunciamento, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, buscou acalmar o país e disse que o incidente não afetará os assuntos do Estado. “Esperamos que Deus devolva o presidente e seus companheiros aos braços da nação”, afirmou em discurso televisionado.

Ebrahim Raisi, considerado um membro linha-dura da República Islâmica, foi eleito presidente em 2021 com mais de 60% dos votos, derrotando o moderado Hassan Rouhani, que buscava a reeleição. Em 2017, havia se candidato a presidente pela primeira vez, perdendo para Rouhani.

Antes de chegar ao poder, Raisi era chefe do Judiciário iraniano e fez uma longa carreira como procurador e juiz. Próximo do aiatolá Ali Khamenei, Raisi é considerado um dos favoritos para suceder o líder supremo, que tem 85 anos e saúde frágil.

Desde que assumiu o comando do regime iraniano, Raisi endureceu as chamadas leis de moralidade e comandou a resposta violenta das forças de segurança aos protestos por mais liberdade no país.

Essas manifestações ganharam força depois que Mahsa Amini, 22, morreu em setembro de 2022 após ter sido presa pela polícia moral porque supostamente não estava usando o hijab, o véu islâmico. O regime negou que ela tenha sido agredida, mas ativistas à época disseram que a abordagem policial nesses casos costuma ser violenta.

Manifestantes foram às ruas protestar contra a polícia moral com o lema “Mulher, Vida e Liberdade”. Os protestos duraram meses e atingiram mais de cem cidades em todo o país. Cerca de 500 pessoas foram mortas em confrontos com a polícia até setembro de 2023, de acordo com a ONG Iran Human Rights, e quase 20 mil iranianos foram presos.

Na época, Khamenei disse que os protestos eram arruaça e que eram incentivados pelos Estados Unidos e por Israel para enfraquecer a República Islâmica.

Raisi também preside o Irã durante o momento de maior tensão no Oriente Médio em anos. Com o ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel em 7 de outubro, o risco de que o novo conflito na Faixa de Gaza escale para uma guerra generalizada na região aumentou.

Isso porque o Irã, rival regional de Israel e da Arábia Saudita, patrocina uma série de milícias e grupos armados em países vizinhos, como os houthis no Iêmen, o Hezbollah no Líbano e o próprio Hamas em Gaza. A tensão atingiu o maior nível no início de abril, quando um ataque aéreo atribuído a Tel Aviv contra a embaixada de Teerã em Damasco, na Síria, matou 16 pessoas, inclusive um importante militar iraniano.

Depois de dias de retórica inflamada, com Raisi dizendo que o “crime covarde” não ficaria sem resposta, o Irã retaliou contra Israel, lançando cerca de 200 drones e mísseis em direção ao país. A grande maioria foi interceptada por Tel Aviv, e não houve feridos. Na época, a agência de notícias Reuters informou que o ataque foi calibrado por Teerã para que a situação não escalasse para uma guerra regional.

VICTOR LACOMBE / Folhapress

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