RIO VERDE E MONTIVIDIU GO (FOLHAPRESS) – O dia já foi embora, e máquinas agrícolas seguem em operação no começo da noite em uma lavoura da Fazendas Reunidas Baumgart, na região de Rio Verde, sudoeste de Goiás (a cerca de 230 km de Goiânia).
A cena ocorrida na quinta (17) ilustra a movimentação causada pelo início do plantio de soja no município, um dos destaques do agronegócio no Brasil.
A semeadura do grão começou após o registro de chuvas, o que é comemorado por produtores locais. A água que caiu nos últimos dias amenizou o quadro de forte seca na região, mas não eliminou toda a preocupação do radar dos agricultores.
Com o atraso no início das chuvas, que começaram a se firmar apenas em meados de outubro, o temor é de que as precipitações se acumulem no verão e dificultem o período de colheita, segundo Alexandre Baumgart, CEO da Fazendas Reunidas Baumgart.
“Aqui é uma região muito privilegiada, recebe 1.700 milímetros por ano. Como [a chuva] atrasou, esses 1.700 milímetros vão vir, só que vão vir daquele jeito, de ponta-cabeça”, projetou.
Ainda assim, ele diz esperar uma safra de soja sem grandes quebras.
“Provavelmente a gente vai ter uma boa safra, mas com problema de colheita por conta da chuva. A área de milho deve ficar um pouco menor, porque vai espremer a última janela da safrinha”, afirmou o produtor, em referência à cultura desenvolvida após a soja.
A Fazendas Reunidas Baumgart integra o Grupo Baumgart, nascido a partir da empresa de impermeabilizantes e materiais de construção Vedacit. O conglomerado também é dono dos shoppings Center Norte e Lar Center e do centro de eventos Expo Center Norte, em São Paulo.
A propriedade rural em Rio Verde tem 25 mil hectares. O local é considerado uma das referências da região no uso de tecnologia para aumento da produtividade no cultivo de grãos e na pecuária.
Conforme o CEO, em quatro dias de trabalho, uma parcela de 20% da área destinada à soja já havia sido plantada.
Em 2023, Rio Verde teve o segundo maior valor de produção de soja e de milho do Brasil, atrás apenas das receitas obtidas por Sorriso (MT), de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Terras a perder de vista compõem o cenário do município goiano.
Entre os estados, Goiás ocupou a terceira colocação no ranking do valor de produção de soja e de milho no ano passado, conforme o IBGE.
“O pessoal está plantando, mas tem regiões em que ainda não choveu o suficiente. Ainda estamos considerando que a safra vai ser normal”, afirmou Warlen Freitas, diretor administrativo-financeiro da cooperativa agroindustrial Comigo, sediada em Rio Verde.
“Estamos otimistas, mas ainda está um pouco cedo. Se chover bem nos próximos dias, o plantio vai evoluir também”, acrescentou.
Segundo Freitas, embora a cooperativa trabalhe com a projeção de “safra cheia” para a soja, o produtor ficou “assustado” com a seca dos últimos meses.
“Eu tenho 74 anos e não vi um período de estiagem tão longo como teve este ano. Parou de chover em abril e começou agora.”
Fundada há 49 anos, a Comigo é considerada uma das maiores cooperativas do país. Conta com 11,8 mil cooperados e teve faturamento na casa de R$ 13 bilhões em 2023.
Paulo Carneiro Junqueira, diretor de apoio industrial da Comigo, afirma que o período ideal para plantar soja na região de Rio Verde é de 15 de outubro a 15 de novembro.
“Essa coisa de plantar soja no final de setembro e no começo de outubro é por causa da safrinha [de milho]. Então, o que pode estar comprometido é a safrinha”, diz.
Para o Brasil, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta aumento de 2,8% na área plantada e de 12,7% na produção de soja na safra 2024/2025.
No caso de Goiás, a previsão para o grão é de uma produção 11,8% maior. Os dados integram a primeira estimativa da Conab para a temporada, divulgada na semana passada.
Com a demora no início das chuvas neste ano, a produtora Flávia Montans, presidente do Gapes (Grupo Associado de Pesquisas do Sudoeste Goiano), prevê um atraso para a conclusão do plantio de soja.
“Havendo um atraso no plantio de soja, a gente tem uma diminuição no milho safrinha”, diz. “Isso é natural, existe uma janela de plantio ideal para o desenvolvimento da cultura. Quando atrasa uma cultura, a próxima sempre é impactada.”
O Gapes reúne produtores que investem em pesquisa agropecuária. O grupo busca elevar a produtividade no campo com o uso de tecnologia e práticas sustentáveis.
As técnicas são aplicadas em fazendas como a Brasilanda, do Grupo Kompier, no município de Montividiu, na região de Rio Verde. O empreendimento também aproveitou a volta das chuvas para iniciar o plantio de soja neste mês, segundo a proprietária Marion Kompier.
“A gente escolheu pensar positivo”, diz.
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O jornalista viajou a convite da FDC (Fundação Dom Cabral)
LEONARDO VIECELI / Folhapress