SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A imunologista e professora da Universidade de Yale, Akiko Iwasaki, foi eleita uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Time.
A pesquisadora de 53 anos é destaque na categoria “Inovadores” da lista, que é organizada anualmente pelo periódico americano. A lista foi divulgada pela publicação no último dia 17.
Iwasaki nasceu em Iga, no Japão, e se mudou quando criança para Toronto (Canadá) com a família. Formada em bioquímica e física na Universidade de Toronto, ela fez o seu doutorado em imunologia na mesma universidade e um pós-doutorado no Instituto Nacional de Saúde com proteção das mucosas.
Em 2000, iniciou sua carreira na Universidade de Yale, onde é atualmente professora de imunobiologia e chefe do Iwasaki Lab, do departamento de desenvolvimento molecular, celular e biológico.
A sua equipe de pesquisa ganhou proeminência na pandemia da Covid, quando realizou vários estudos para investigar a imunidade natural, adquirida pós-infecção pelo coronavírus, e aquela fornecida por vacinas.
Dentre os principais artigos publicados por seu laboratório estão um sobre os mecanismos por trás da Covid longa, outro desvendando o raro efeito de miocardite pós-vacina em jovens como resposta exacerbada de anticorpos e as diferenças de resposta imune entre homens e mulheres.
A imunologista foi também uma das primeiras a descrever as respostas protetoras produzidas por vacinas como a Coronavac e as vacinas de RNA da Moderna e Pfizer.
Em entrevista à Folha de S.Paulo por email, a cientista conta que já tinha um dia a dia agitado antes da Covid, mas não imaginava que a pandemia iria mudar tanto assim. “Logo no início estávamos trabalhando sem parar, analisando amostras de sangue, saliva e fezes de internados com Covid. No mesmo período, alguns membros do laboratório desenvolveram modelos de camundongos para estudar a condição e entender melhor o papel das respostas imunes inatas [pós-infecção] e induzidas por vacinas. Isso nos guiou até entender melhor o papel da resposta imunológica no desenvolvimento de sequelas da Covid”, diz.
Antes da pandemia, Iwasaki havia conduzido estudos sobre o rinovírus, responsável por causar resfriado comum, e também infecções com o zika. Ela também revelou processos que ocorrem a nível molecular responsáveis por levar os antígenos (partes com a sequência do vírus contra a qual se deseja produzir resposta imune) das vacinas de RNA para o interior das células musculares, induzindo a criação de anticorpos.
Segundo ela, apesar de sua posição privilegiada na Universidade de Yale, há ainda muitos desafios para compreender as respostas imunológicas de infecções por vírus, como no caso da Covid. “Nossa equipe está crescendo para incluir profissionais de diversas áreas, como neurociência, ciência computacional e bioestatística. Isso nos anima para investigar novos mecanismos envolvidos nas sequelas da Covid e de outras doenças. Todos os dias aprendo algo novo”, diz.
Iwasaki também é uma ativista em defesa da maior participação de mulheres na ciência. Ela recebeu o prêmio Inspiring Yale para cientistas da universidade, em 2017, e o prêmio Else Kröner-Fresenius para pesquisa médica, em 2023, por suas contribuições significativas em “doenças de importância mundial”.
A imunologista diz que ser eleita uma das pessoas da lista da Time pode ajudar no reconhecimento de como sua pesquisa tem impactado pacientes da Covid, especialmente aqueles que desenvolvem Covid longa e outras síndromes pós-infecção aguda.
“Estar entre as pessoas eleitas pode levar a outros que conheçam e se interessem por aprender mais sobre meu trabalho, o que, em última instância, pode conscientizar as pessoas sobre a importância de se protegerem e protegerem os outros de infecções.
Ela garante que não vai parar por aí, e que o reconhecimento pode também ajudar no financiamento de pesquisas. “Precisamos de mais estudos na área para poder gerar conhecimento de tratamentos eficazes o mais rápido possível”, afirma.
O ranking tem categorias também para artistas e líderes, entre outras. Entre as personalidades brasileiras já nomeadas estão a Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, e o presidente Lula (PT). As cantoras Dua Lipa e Kylie Minogue são algumas das personalidades reconhecidas neste ano.
ANA BOTTALLO / Folhapress