Ala do PT resiste a repassar dinheiro, e Boulos corre risco de ter verba menor para campanha

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Uma ala do PT resiste nos bastidores à ajuda financeira pleiteada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para sua campanha à Prefeitura de São Paulo.

Segundo os próprios petistas, o desejo do pré-candidato do PSOL é que o partido da vice, Marta Suplicy (PT), destine cerca de R$ 40 milhões a fim de atingir o limite legal de gastos estimado em, aproximadamente, R$ 70 milhões —os outros R$ 30 milhões seriam desembolsados pela sigla de Boulos. Essa proposta de valores teria sido levada diretamente ao presidente Lula (PT).

No entanto, apesar do compromisso do presidente de apoiar financeiramente o candidato do PSOL, no PT a expectativa é que o aporte seja mais tímido do que o requerido pelo psolista. Até porque os pré-candidatos petistas de outras cidades reivindicam o dinheiro para suas próprias campanhas.

O PT já indicou que fará repasses a Boulos, mas o montante a ser investido na campanha majoritária paulistana ainda não está definido. O aporte na capital paulista ficou condicionada ao apoio do PSOL à candidatura de Rogério Correia (PT) à Prefeitura de Belo Horizonte —o apoio da sigla também era desejado pelo PDT de Duda Salabert (PDT).

Em um primeiro momento, integrantes da direção do PT chegaram a avaliar a hipótese de destinação de recursos diretamente para o PSOL em São Paulo. Mas essa possibilidade foi enterrada nesta segunda-feira (8).

Em uma reunião virtual, o comando do PT decidiu não destinar recursos de seu fundo eleitoral a outros partidos nas eleições de 2024.

Essa vedação está expressa em documento a ser encaminhado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A resolução permitirá apenas a destinação de recursos a candidaturas de petistas a vice nas cidades com mais de 100 mil habitantes, contanto que a contribuição seja aprovada pela Executiva Nacional do PT.

Embora essa resolução repita a proibição de 2020 e 2022, defensores da candidatura de Boulos nutriam a esperança de que fosse aberta uma exceção em 2024, dada a importância da disputa de São Paulo para a esquerda.

Pela deliberação desta segunda-feira, no entanto, o valor a ser destinado à campanha de Boulos dependerá do aval do PT.

Em junho, a Folha mostrou que Lula foi acionado por integrantes do partido para arbitrar um conflito entre alas que discordam sobre o repasse à campanha de Boulos. Na ocasião, Lula determinou que o PT ajudasse a chapa financeiramente.

Petistas, em oposição a um aporte expressivo, lembram que o dinheiro terá que sair da cota reservada às candidatas brancas, o que representa cerca de 25% do que o PT tem direito.

Dentro do partido, houve quem se opusesse à aliança com Boulos, patrocinada por Lula. Duas figuras influentes no PT são, por exemplo, apontadas por petistas como fonte de resistência a um repasse elevado a Boulos.

Responsável pela distribuição de recursos, a tesoureira do partido, Gleide Andrade, e o secretário de Comunicação do PT, o deputado federal Jilmar Tatto (SP), estariam no rol dos que defendem que as candidaturas do partido sejam privilegiadas.

Um dos entraves para ajudar Boulos é a resistência interna no PT em fazer o maior aporte do país na campanha municipal a uma chapa que não é encabeçada pelo partido. Integrantes da legenda defendem que a verba deve ser usada para fortalecer a sigla e investir em candidatos a vereador e prefeito com chances de vitória.

A esperança no PSOL é que haja uma intervenção de Lula em favor de Boulos para viabilizar um repasse maior. A eleição na capital paulista é considerada central na preparação do terreno para 2026, sobretudo por que uma vitória da esquerda contra o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), representaria uma derrota para o grupo político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A chance de vitória, aliás, foi decisiva para o PT ceder e apoiar Boulos. Em 2020, os petistas insistiram em uma candidatura própria, e Jilmar Tatto acabou apenas na sexta colocação com 8,6% dos votos.

Boulos, por sua vez, fez 20,2% e foi para o segundo turno, mas acabou derrotado por Bruno Covas (PSDB) por 59,38% a 40,62% no segundo turno. Covas morreu no primeiro ano de gestão e o vice, Ricardo Nunes, assumiu o comando de São Paulo e, agora, tenta a reeleição.

A última pesquisa Datafolha aponta dificuldades para Boulos ampliar o apoio para além da esquerda e conquistar uma fatia do centro para vencer o pleito. O levantamento divulgado na última sexta-feira (5) mostra Nunes com 48% contra 38% de Boulos no segundo turno.

A estimativa é que o limite de gastos na eleição neste ano em São Paulo para o primeiro turno seja de R$ 67 milhões. No pleito de 2020, o teto foi de R$ 51,7 milhões no primeiro turno e outros R$ 20,7 milhões para o segundo turno.

CATIA SEABRA E MATHEUS TEIXEIRA / Folhapress

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