Alagada, maior rodovia do Brasil vive estrangulamento no RS e tem duplicação questionada

SÃO LEOPOLDO, RS (FOLHAPRESS) – A maior rodovia federal do Brasil vive há décadas um estrangulamento em trechos que cortam o Rio Grande do Sul e teve a operação ainda mais prejudicada pelas enchentes que atingem o estado há mais de 20 dias.

Partes da BR-116 ficaram totalmente alagadas, outras foram destruídas e o trânsito que já era ruim piorou —ao menos 28 pontos tiveram bloqueios e, atualmente, há ao menos quatro totalmente obstruídos. A dificuldade para escoar produção deve prejudicar a economia do estado, com impacto em todo país.

A rodovia tem 4.460 quilômetros, passa por dez estados e liga o Sul ao Nordeste do Brasil. No RS, além de ficar alagada em alguns pontos, em outros sofreu com deslizamentos por ficar à margem de morros e encostas.

Nos últimos anos, obras para desafogar a rodovia e facilitar o tráfego de carros e caminhões de carga na região metropolitana de Porto Alegre foram feitas pelo governos federal. As soluções encontradas, no entanto, podem ter facilitado a criação do ambiente que causou enchentes em todo o estado.

O professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e doutor em recursos hídricos Fernando Meirelles considera que é importante retomar o debate sobre os impactos da duplicação de um trecho da BR-116 e da extensão da BR-448, que foi realizada para desafogar essa outra rodovia federal na parte que liga a capital gaúcha a municípios próximos.

As obras podem ter causado alterações no comportamento de águas marginais aos rios que cortam a região.

“Tem uma dúvida em relação à interferência da drenagem de arroios de rios menores. Isso é questão que vai voltar a ser discutida, a interferência da BR-116 e da BR-448 [nas enchentes]”, afirma.

E prossegue: “Nós temos tido algumas inundações na parte de Esteio, que é perto de São Leopoldo, onde a BR-116 ficou praticamente embaixo d’água. E aí há uma questão sobre a travessia da BR-116, que essa via, pela duplicação, estaria interferindo na drenagem, no escoamento”.

Outra questão a ser estudada, segundo ele, é a da BR-448. “É uma obra mais recente, então talvez tenham que rever os critérios de drenagem dela”, diz.

Além da região metropolitana de Porto Alegre, outros pontos importantes da BR-116 também foram interditados após as enchentes.

Na ligação entre os municípios de Nova Petrópolis a Caxias do Sul, por exemplo, há uma ponte para passar pelo rio Caí.

Localizada no km 174 da BR-116, a ponte apresenta fissuras na pista, espaçamento maior entre os apoios da estrutura e risco de queda das pilastras, de acordo com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). O fluxo está impedido para veículos e pedestres.

A ponte sobre o rio dos Sinos, em São Leopoldo, por sua vez, já foi liberada. O trecho que cruza a cidade que fica a cerca de 30 km de Porto Alegre, no entanto, está com as pistas reduzidas e com muita lentidão praticamente o dia inteiro.

O governo federal tem atuado para viabilizar a liberação completa da BR-116. Alguns pontos, contudo, foram desobstruídos graças à mobilização de moradores da região.

Isso aconteceu na última semana. A população da serra gaúcha se uniu para liberar um trecho que cruzava Caxias do Sul, cidade que fica a 159 quilômetros de Porto Alegre.

O esforço durou sete dias e envolveu aluguel de maquinário, compra de materiais e limpeza da rodovia.

Outra situação inusitada vivida na BR-116 foi em Guaíba, do lado de Porto Alegre. Uma pista de pouso foi improvisada na rodovia na semana passada para receber um avião de pequeno porte com doações para a cidade.

Um grupo de empresários do Rio de Janeiro enviou 300 litros de água, remédios e alimentos não perecíveis. A rodovia estava fechada para o tráfego de veículos e por isso foi possível transformá-la em pista de pouso.

A BR-116 cruza cerca de 280 cidades e tem início em Jaguarão (RS), na fronteira com o Uruguai, e vai até Fortaleza, capital do Ceará. Principal ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro, a Dutra faz parte da rodovia.

O governo federal tem atuado para liberar completamente os trechos da BR-116. O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), visitou alguns trechos e prometeu obras céleres para a retomada da circulação nos locais.

“A ponte do rio Caí, que liga Caxias do Sul a Porto Alegre, teve sua estrutura comprometida. As fortes chuvas do último final de semana trouxeram desafios para o nosso trabalho, mas continuamos agindo rápido e com cautela, garantindo a chegada de insumos e o acesso de equipes de resgate”, escreveu nas redes sociais com um vídeo no local na última quarta-feira (15).

Além da maior rodovia do país, há diversas outras estradas gaúchas com bloqueio total ou parcial, o que amplia a dificuldade do setor produtivo para escoar produção. Na RS-122, por exemplo, são oito pontos obstruídos.

MATHEUS TEIXEIRA / Folhapress

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