Alemanha vive crise e tem 6 meses para evitar vexame como anfitriã da Euro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em 2024, a seleção da Alemanha vai festejar o aniversário de dez anos da conquista da Copa do Mundo de 2014, uma campanha histórica, marcada pela goleada por 7 a 1 sobre o anfitrião Brasil e uma vitória sobre a Argentina de Lionel Messi na decisão.

O cenário para a celebração alemã tinha tudo para ser perfeito, afinal, no próximo ano, o país será palco da Eurocopa. Mas não há clima de festa entre os alemães a seis meses da competição -muito pelo contrário, na verdade. Há entre os tetracampeões mundiais o receio de protagonizar um vexame diante de sua torcida.

Desde a conquista em solo brasileiro, a Alemanha nunca mais se encontrou em campo. Nas duas últimas Copas do Mundo, em 2018 na Rússia e 2022 no Qatar, a equipe não passou da primeira fase. São os piores resultados da seleção em Mundiais.

Entre uma Copa e outra, o país também amargou uma queda precoce na última Euro, em 2020, quando se despediu logo nas oitavas de final, superado pela Inglaterra, que ficaria com o vice-campeonato.

Em 2023, a Alemanha venceu apenas 3 vezes em 11 partidas, além de dois empates e seis derrotas, todos em jogos amistosos, uma vez que os alemães ganharam uma vaga direto para a Euro como anfitriões e as Eliminatórias europeias para a Copa de 2026 serão disputadas apenas em 2025.

Os resultados negativos fizeram a Federação Alemã de Futebol perder mais um ano na tentativa de firmar um técnico à frente da equipe. Depois do fim da longeva era Joachim Löw (2006-2021), Hans Flick herdou a missão, mas o ex-treinador do Bayern de Munique acabou demitido em setembro deste ano logo após a goleada sofrida para o Japão, por 4 a 1.

Ao todo, ele dirigiu a seleção em 25 duelos, com 57% de aproveitamento. Ele até começou bem, ao vencer os oito primeiros compromissos da equipe, ainda que sem enfrentar nenhuma das grandes seleções da Europa, mas somou apenas mais quatro vitórias depois disso. Teve, ainda, dois empates e seis derrotas.

Alguns dos resultados negativos mais doloridos da trajetória dele ocorreram na Copa do Mundo no Qatar, onde ele desembarcou como o técnico mais bem pago entre os 32 treinadores que disputaram o torneio, com um salário anual de EUR 6,5 milhões (R$ 36 milhões na época).

O investimento não se traduziu em resultado. Com ele, a Alemanha estreou com derrota para o Japão, por 2 a 1, empatou com a Espanha, 1 a 1, e, embora tenha vencido a Costa Rica na rodada final, por 4 a 2, caiu logo na fase de grupos.

Uma série de documentários produzidos pela imprensa alemã acompanharam a trajetória dele no torneio e as imagens só aumentaram as críticas sobre Flick. Primeiro, foi apontada uma falta de conexão entre ele e o elenco. Depois, o técnico enfrentou uma zombaria por causa de uma cena em que mostra um vídeo de gansos voando para os atletas em um exercício para, supostamente, melhorar o trabalho em equipe.

ÍIkay Gündogan, 33, na época meio-campista do Manchester City e, atualmente, no Barcelona, era um dos líderes do elenco dirigido por Flick e admitiu que faltava sintonia com o comandante.

“Muitos dos nossos jogadores estão em uma luta mental consigo mesmos. Não há confiança entre eles, não há compreensão do momento, das decisões corretas em campo”, criticou Gündogan.

Para o ex-lateral Philipp Lahm, 40, atualmente diretor na organização da Euro 2024, o problema não seria apenas de comando, mas também da falta de um “núcleo forte” de atletas, como aquele do qual ele era um dos capitães.

“Não sei quem tem a responsabilidade atualmente. Quem é o rosto da equipe? Quem forma o núcleo? Quem são os principais jogadores de identificação nesta equipe?”, questionou o jogador, campeão do mundo em 2014.

“Toda seleção alemã de sucesso tinha um núcleo, que ainda precisa ser formado agora. Ainda há tempo suficiente”, acrescentou Lahm.

Com o entendimento de que é possível formar esse grupo forte, afinal há muitos alemães atuando nas principais equipes da Europa, a Federação Alemã resolveu contratar o técnico Julian Nagelsmann, 36, que curiosamente já havia substituído Hans Flick quando ele deixou o Bayern de Munique.

A estreia foi promissora, com vitória sobre os Estados Unidos, por 3 a 1, mas a Alemanha terminou o ano com três jogos sem vencer: empate com o México e derrotas para Turquia e Áustria.

O desafio para 2024 é grande e, a pouco mais de seis meses para a Eurocopa, o tempo parece curto para resgatar a confiança do elenco.

Nagelsmann, porém, sabe que sua permanência na seleção depende disso. Afinal, ele assinou um contrato curto, justamente até o final do torneio em solo alemão. Se a equipe não voltar aos trilhos, dificilmente ele terá seu vínculo estendido e a Alemanha estará, novamente, sem comando e sem rumo.

LUCIANO TRINDADE / Folhapress

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