SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficaram irritados com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), a quem apoiam na eleição de São Paulo, por causa da nomeação da secretária interina da Cultura, que consideram ser de esquerda, e voltaram a pressionar pela escolha do coronel da PM bolsonarista Ricardo Mello Araújo para a vice.
Como mostrou a Folha, Nunes realizou uma série de trocas em seu secretariado por causa da eleição. Os auxiliares que vão concorrer a vereador tiveram que deixar seus cargos na semana passada, caso da então titular da Cultura, Aline Torres, que vai disputar pelo MDB.
Em seu lugar, o prefeito nomeou de forma provisória Lígia Jalantonio Hsu (MDB), que era supervisora de Formação Cultural na secretaria. Nunes ainda busca um nome definitivo para a pasta.
Nos círculos bolsonaristas, a escolha não agradou. Aliados do ex-presidente levaram ao MDB e ao prefeito sua indignação que, segundo eles, atinge também outros membros da coordenação política da pré-campanha de Nunes, somada a reclamações gerais sobre falta de agendas positivas e planejamento.
Na última pesquisa Datafolha, Nunes aparece empatado na liderança com Guilherme Boulos (PSOL), com 29% e 30%, respectivamente.
Interlocutores do prefeito, por sua vez, minimizaram o episódio, afirmando que a insatisfação é restrita a um núcleo pequeno e que Lígia Jalantonio vai ser substituída em breve.
A nova secretária é educadora e defende a primeira infância. Ela foi candidata a vereadora pela Rede em 2020, mas sem sucesso. Em 2022, ela se filiou ao MDB.
Entre os bolsonaristas, Lígia é vista como uma ativista ligada a coletivos de extrema esquerda. Viralizou entre eles uma foto dela em uma manifestação, em 2021, segurando uma faixa em que se lê “fora familícia”, em referência aos Bolsonaros.
Como reação ao que consideram falta de compromisso de Nunes com a direita, que deixou de lançar um candidato do PL para apoiá-lo, bolsonaristas afirmam que vão insistir no nome de Mello Araújo para a vice.
Nesta semana, Bolsonaro voltou a afirmar a deputados bolsonaristas que sua preferência é pelo coronel.
Nos bastidores, um parlamentar bolsonarista afirmou haver surpresa e perplexidade pelo fato de que a equipe do prefeito não ter feito uma pesquisa prévia sobre o perfil de Lígia, ainda que seja uma secretária temporária. O episódio foi lido como falta de maturidade eleitoral do entorno de Nunes.
A indignação atual é mais um capítulo na relação de idas e vindas entre Nunes e Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que precisa conquistar a direita e faz acenos para o eleitor bolsonarista, como ter comparecido ao ato a favor do ex-presidente em fevereiro, o prefeito também busca distância para não se contaminar com acusações de golpismo e negacionismo. Sua equipe tem pregado que ele representa uma frente ampla e que Bolsonaro é apenas um entre os apoiadores.
Com um arco de apoio de mais de dez partidos, o acordo na pré-campanha de Nunes é de que o PL de Bolsonaro, a maior legenda, tem a preferência pelo posto de vice. O nome, contudo, só deve ser definido próximo das convenções, em julho, e deve ter o aval também do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e das demais legendas.
Em janeiro, Bolsonaro afirmou que seu indicado para o posto era Mello Araújo.
No entanto, o ex-Rota e ex-diretor da Ceagesp enfrenta resistência entre aliados de Nunes, mesmo dentro do PL. Há preferência por mulheres e dúvidas sobre a conveniência de trazer a questão da segurança pública para o centro do debate com um vice da área.
CAROLINA LINHARES / Folhapress