SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Aliados de Ricardo Nunes (MDB) e integrantes da pré-campanha de reeleição afirmam que a traição de Marta Suplicy ao prefeito ficou evidente e que a pecha de traidora deve recair sobre ela, após a decisão de deixar a prefeitura para retornar ao PT e ser vice do pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL).
Segundo esses interlocutores, Nunes considera que a outrora aliada é uma pessoa difícil de confiar, depois de saber que ela articulou pelas suas costas a migração para o campo rival.
Os dois se reuniram nesta terça-feira (9) e afirmaram, em diferentes comunicados, que a saída dela da Secretaria Municipal de Relações Internacionais foi em comum acordo.
Antes do encontro, Nunes não escondeu sua decepção diante de auxiliares, que descreveram o prefeito como muito magoado. Pela manhã, ele ainda resistia em demitir Marta, mas mudou de ideia depois que soube por meio de um aliado que o acordo entre ela e Lula (PT) estava avançado.
Segundo um integrante da prefeitura, Nunes também ficou sabendo que Marta já tinha redigido uma carta de demissão.
Estrategistas da pré-campanha do emedebista afirmam que ele fez bem em não demiti-la logo que os rumores sobre a aliança dela com Boulos surgiram porque, assim, as próprias atitudes dela deixaram claro que ela seria uma traidora.
Eles lembraram outros episódios de deslealdade da ex-prefeita, como quando, rompida com o PT e filiada ao MDB, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Como mostrou a Folha de S.Paulo, Marta já chamou PT de corrupto e Fernando Haddad (PT) de pior prefeito de São Paulo.
Durante todo o processo de aproximação de Marta com o PT, Nunes deixou claro que não havia sido informado pela sua secretária de seus movimentos, que eles nem sequer haviam conversado sobre o assunto e que ele ficava sabendo pela imprensa a respeito do avanço dessa costura política.
Mais do que isso, Nunes passou a ressaltar sua relação de amizade e proximidade com Marta, a quem chamou de conselheira, para dizer que não acreditava que tal deslealdade seria possível.
Nesta terça, antes do anúncio da demissão, o prefeito afirmou à Folha de S.Paulo que tem uma relação pessoal construída com Marta e que eles trabalharam juntos nas campanhas municipais de 2016 e de 2020.
Lembrou ainda que Marta é amiga da sua mulher, Regina Carnovale Nunes, e que a ex-prefeita não ocupou um cargo na prefeitura por indicação de algum partido, mas pela amizade entre eles.
Auxiliares cobraram que ela deveria ter avisado o prefeito ao menos sobre o encontro com Lula, na segunda (8), algo que Nunes compreenderia por ser uma agenda com o presidente da República. Na reunião, Marta disse ao presidente que aceitava ser vice de Boulos, mas que precisaria conversar com Nunes antes.
No entanto, mesmo entre apoiadores da reeleição, há quem critique o prefeito por não tê-la demitido antes. O episódio virou munição de adversários bolsonaristas, que defendem a pré-candidatura de Ricardo Salles (PL).
“Pior do que ter Marta Suplicy em seu primeiro escalão é não tê-la porque ela não quis! Esse é pulso do prefeito que comanda a maior cidade da América Latina! Não tem jeito, Ricardo bom é Ricardo Salles!”, publicou o deputado estadual Lucas Bove (PL) nas redes.
Por outro lado, articuladores da equipe de Nunes consideram que o desenrolar do imbróglio terminou por evidenciar que houve uma traição por parte dela e que Marta será forçada a se explicar.
Eles apontam, porém, duas razões pelas quais Marta teria dificuldade de justificar sua virada. A primeira são as críticas públicas que ela já fez a Boulos e ao PT.
Em segundo lugar, eles afirmam que Marta estava ciente de que Nunes buscaria o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua campanha e que ela havia entendido a estratégia de conquistar votos bolsonaristas para derrotar Boulos.
Na carta de demissão direcionada ao prefeito, a ex-prefeita agradeceu pelo período como integrante da gestão, disse que seguirá “caminhos coerentes” com sua trajetória e seus valores, sem entrar em detalhes, e citou indiretamente a eleição deste ano.
“Neste momento em que o cenário político de nossa cidade prenuncia uma nova conjuntura, diferente daquela que, em janeiro de 2021, tive a honra de ser convidada por Bruno Covas para assumir a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, encaminho, nesta data, de comum acordo, meu pedido de demissão deste cargo.”
O comunicado emitido pela prefeitura para anunciar a saída afirma que Nunes chamou Marta “para esclarecer as informações veiculadas na imprensa” e que foi acertada, em comum acordo, sua saída do cargo. O texto, sucinto, não tem agradecimentos à agora ex-secretária.
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Colaborou Joelmir Tavares, de São Paulo
CAROLINA LINHARES / Folhapress