‘Alien: Romulus’, com diretor uruguaio, leva perspectiva do 3º mundo ao terror espacial

SAN DIEGO, EUA (FOLHAPRESS) – “Alien: Romulus” não nega suas origens. Já no início, fica claro para o espectador que ele está diante de uma reciclagem, de um blockbuster moderninho que quer navegar no sucesso do passado. Dos créditos iniciais em caligrafia obsoleta à trilha sonora ostensiva, tudo remete a “Alien: O 8º Passageiro”, de Ridley Scott.

Há até um aspecto texturizado nas imagens espaciais que abrem o longa, como se viessem à luz pela primeira vez depois de serem desprezadas nos anos 1970. Há efeitos práticos, e computadores e outras bugigangas parecem fruto de um exercício mal-sucedido de futurologia, ultrapassados diante da tecnologia que temos hoje.

Assim, arraigado à glória do passado -que ajudou a abrir portas não só para Scott, mas para todo um subgênero espacial em Hollywood-, “Alien: Romulus” não tem vergonha de se juntar a uma safra recente de filmes que retomam, com muitas décadas de distância, obras que se consolidaram como medalhões do cinema americano.

Só neste ano tivemos “Twisters”, “A Primeira Profecia” e “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo” -e há mais vindo, como “Os Fantasmas Ainda se Divertem”. Seguindo a fórmula, “Romulus” põe em cena personagens, objetos e subtramas herdados do passado, mas atualiza o roteiro para um público mais imediatista, que prefere ação à contemplação.

Não à toa, o filme que chega nesta semana aos cinemas aumenta a voltagem de terror do original, investindo em “jump scares” -cenas de susto- menos sutis e mais gráficas. Só não precisaram aumentar a carga feminista, já que “O 8º Passageiro” foi um precursor das mocinhas fortes e independentes, com a Ellen Ripley de Sigourney Weaver.

“Depois de tantos anos de cinema, chegamos a um ponto em que vários subgêneros parecem pertencer a um só cineasta”, disse o diretor Fede Alvarez em entrevista na última edição da San Diego Comic Con, a mais importante feira de cultura pop do mundo, com corredores lotados por nerds com pescoços agarrados por bonecos da criatura aracnídea do filme.

“Se eu quisesse fazer um terror no espaço original, todo mundo me diria que eu quero fazer um ‘Alien’. Eu queria que fosse mais fácil criar conceitos inteiramente novos, mas no momento atual, sempre há um filme que já fez o que você quer fazer. Então tive que escolher entre dirigir um novo ‘Alien’ ou ser acusado de copiá-lo num outro projeto.”

O uruguaio é responsável pelo terror “O Homem nas Trevas”, e foi escolhido para dirigir o nono longa da franquia sobre a raça alienígena “perfeita”, depois de grifes como James Cameron e David Fincher. Graças às suas origens, porém, ele espera trazer frescor à saga -chegou até a usar uma palavra do guarani, povo indígena também originário do Uruguai, para nomear um planeta da trama.

“Meus filmes sempre giram em torno de personagens que pertencem ao terceiro mundo. Eu amo o meu país, mas ter crescido no Uruguai me fez ter a sensação de estar no lugar errado, de estar distante de onde tudo acontece, como Nova York, Paris ou Londres. É isso que eu trago para meus filmes, um sentimento de não estar no centro do mundo”, afirma.

Em “Alien: Romulus”, acompanhamos Rain, personagem de Cailee Spaeny, uma ilustre desconhecida até ano passado, mas agora um dos nomes mais interessantes de Hollywood. Ela vive com seu irmão andróide num planeta colonizado por uma grande empresa de mineração, que, na prática, escraviza seus moradores.

Frustrada pela impossibilidade de sair de lá, ela é convencida pelos amigos a entrar numa estação espacial abandonada que paira sobre suas cabeças, em busca de cápsulas de criogenia capazes de viabilizar uma fuga para um planeta melhor.

Claro que a estação é aquela à qual a nave Nostromo, do filme original de 1979, estava acoplada. Uma vez dentro dela, não demora muito até o grupo esbarrar num daqueles parasitas aracnídeos, que se agarram ao rosto de seus hospedeiros para inseminá-los.

Recriando uma das cenas mais memoráveis do cinema americano, uma das amigas de Rain se contorce violentamente, até ver seu peito ser perfurado por uma criaturinha ainda mais repugnante.

Responsável por dirigir não só o primeiro “Alien”, mas também “Prometheus” e “Alien: Covenant”, num momento mais vacilante da carreira, Ridley Scott disse ter ficado aliviado ao ver “Romulus” pela primeira vez, durante o tapete vermelho do filme em Los Angeles, nesta semana.

“Você não dá um filme como este a um novato, porque ele seria comido vivo pelo estúdio. As pessoas não têm ideia do que é ser um diretor estreante e ter todos ao seu redor te dizendo o que fazer”, afirmou ele, que produz o lançamento, à revista americana Hollywood Reporter.

E não é exagero pensar que Fede Alvarez tem um pouco de Ridley Scott. Como o veterano, o diretor emplacou uma franquia de sucesso original, com “O Homem nas Trevas”. Também como ele, não demorou muito a decepcionar depois dos elogios -no caso, com o roteiro de “O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface”, amplamente criticado.

Com “Romulus” se juntando à sequência do slasher e a “A Morte do Demônio”, outro que atualizou, o uruguaio parece se especializar na reciclagem de clássicos do terror.

Alien: Romulus

Quando: Estreia nesta quinta (15), nos cinemas

Classificação: 16 anos

Elenco: Cailee Spaeny, David Jonsson e Isabela Merced

Produção: EUA, Reino Unido, 2024

Direção: Fede Alvarez

LEONARDO SANCHEZ / Folhapress

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